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Após nível de rio baixar em Tarauacá, moradores começam a voltar para casa: ‘Cenário de guerra’

Foto: Carlos Lima/Arquivo pessoal

Alguns moradores da cidade de Tarauacá começaram a voltar para suas casas depois de verem os imóveis quase que completamente submersos devido à cheia do rio. O manancial começou a apresentar vazante e nesta segunda-feira (22) está com 9,70 metros.


Sem energia elétrica em muitos bairros, os moradores ainda enfrentam lama, chuva e encontram um verdadeiro cenário de guerra ao retornarem para suas casas, com vários móveis jogados pelas ruas.


Uma dessas moradoras é a funcionária de um frigorífico Marta Rodrigues da Silva, de 25 anos. Ela mora com outras quatro pessoas no bairro Triangulo, um dos primeiros a serem atingidos pela cheia, e conta que precisou se mudar por quatro vezes, mas todas as casas dos parentes foram atingidas também e ela acabou indo parar com a família em um abrigo da prefeitura.


“Não deu tempo de tirar as coisas, porque subiu muito rápido. Fomos subindo as coisas, mas quando chegou no teto não deu mais de levantar os móveis. A água foi acima do trinco da porta, mais ou menos na metade da casa e perdemos tudo. Só conseguimos tirar algumas roupas mesmo de dentro e as crianças, o resto perdeu tudo. Primeiro fomos para casa da minha cunhada, alagou lá também, fomos pra outra casa, alagou também, ficamos pulando de casa em casa até que na quinta vez fomos parar no abrigo”, contou.


Morador e presidente do bairro Ilha Grande, Hilton Gomes contou que conseguiu voltar para casa nesse domingo (21) depois de fazer a limpeza do local. Ele também perdeu praticamente todos os móveis porque não teve tempo de retirá-los antes que a água invadisse o imóvel.


“O cenário hoje em Tarauacá é de guerra, de destruição. Muitas pessoas perderam tudo e muitos estão tentando voltar para suas casas e outros estão no abrigo e não sei como vai ser. Conversei com uma família hoje que disse que por ela permaneceria na escola, porque perdeu tudo, e indo para casa não vai ter nem o que comer e no abrigo tem café, almoço e janta. É uma coisa triste. Também perdi cama, sofá e outros móveis”, relatou.


A dona de casa Rosangela Abreu Pereira, de 24 anos, mora no bairro Triangulo e disse que ficou nove dias com mais da metade da casa embaixo d’água. Ela, que mora com o marido e o filho, também não teve tempo de tirar os pertences e perdeu quase tudo.


“No começo a gente achava que não ia ser uma alagação tão grande e fomos suspendendo as coisas de acordo com o que ia enchendo. Mas chegou um ponto que a geladeira, cama encostaram no teto e não deu mais para subir. Só conseguimos tirar a geladeira mesmo, o resto perdemos tudo. Agora é ter fé em Deus para ver se a gente consegue tudo de novo. Tem muita gente nessa situação aqui. A gente passa na frente das casas e vê muito entulho, muita lama e as pessoas limpando. Como ainda estamos sem energia elétrica, não conseguimos ir na noite de ontem [domingo] lá limpar para já voltar para casa e estamos indo agora pela manhã”.


Tarauacá foi a cidade com maior número de suspensão de energia em casas, segundo levantamento feito pela Energisa, com 5.888 desligamentos.


A energia elétrica foi suspensa para 10.489 clientes de três cidades atingidas pelas cheias: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Sena Madureira e Rio Branco.


A cidade de Tarauacá está com a situação de emergência reconhecida pela União em decorrência da inundação desde quinta-feira (18).


Enchente em Tarauacá

Em vazante, o Rio Tarauacá marcou 9,70 metros nesta segunda-feira (22) e está com 20 centímetros acima da cota de transbordo, que é de 9,50 metros. A cidade teve uma das situações mais críticas do estado.


Com uma população estimada em 43.151 pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Tarauacá chegou a ter 28 mil moradores afetados com a enchente do rio. De acordo com a Defesa Civil, dos nove bairros que há na cidade, apenas um não foi atingido pelas águas. Cerca de 90% do município foi afetado pela enchente.


A cidade decretou calamidade pública na quinta (18). A Defesa Civil informou que cerca de 7 mil famílias ainda estão atingidas, 831 pessoas estão desabrigadas e outras 947 pessoas desalojadas. Pelo menos cinco abrigos ainda estão abertos com moradores.


‘Como se fosse uma guerra’

O governador do Acre, Gladson Cameli, diz que o cenário no estado não é fácil.


“O estado é pequeno, pobre e precisa-se do apoio das pessoas, principalmente do governo federal e unificar as instituições para que a gente chegue com atendimento imediato à população. Nós fizemos toda uma estrutura de abrigos para os atingidos cumprindo as regras da Covid-19, que tem que ter distanciamento, para que a gente possa dar uma tranquilidade e segurança às pessoas que estão sem sua moradia e ao mesmo tempo alimentação, remédios e também kit de limpeza. Estamos vivenciando uma situação como se fosse uma guerra”, desabafa.


Sobre a mobilização na internet, ele diz que toda ajuda ao estado é bem-vinda e que chegou a se emocionar com a mobilização.


“Isso nos orgulha, são milhares de homens e mulheres que têm esse olhar, esse carinho especial pelo estado do Acre. Somos um estado pequeno na Amazônia, que faz fronteira com dois países, que tem 92% do sistema de saúde que é público e que a gente precisa desse olhar das pessoas em prol da enchente, dengue, crise na fronteira e também Covid-19”, destaca.


O governador destacou ainda que tem acompanhado o drama das famílias e que não tem sido fácil.


“Que Deus nos proteja e nos abençoe e que a gente possa virar logo essa página, porque eu tô firme e forte porque tenho Deus, mas sou ser humano. Lagrimei quando vi a situação das pessoas, elas querem tão pouco”, finaliza.


As campanhas em canais oficiais estão sendo feitas pelo:


  • Ministério Público do Acre
  • Tribunal de Justiça do Acre
  • Governo do estado

Apoio do Ministério do Desenvolvimento Regional

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional, por meio da Defesa Civil Nacional, informou que está apoiando o estado do Acre desde o início da última semana, com a coordenação do monitoramento realizado pelas agências federais responsáveis.


“Desde quinta-feira, o secretário Alexandre Lucas está no estado para apoiar os municípios nas ações de resposta e atendimento à população afetada, que já chega a cerca de 130 mil pessoas. O secretário tem percorrido as localidades juntamente com o governador e a defesa civil estadual”, diz.


Ainda na quinta-feira (18), ocorreu uma reunião virtual para articular todos os órgãos (nacionais, estaduais e municipais) envolvidos nas ações dentro do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil.


“No sábado (20), segundo o ministério, mais quatro técnicos da Defesa Civil Nacional chegaram ao Acre para atuar em conjunto com as defesas civis locais na elaboração dos pedidos de reconhecimento federal de situação de emergência, bem como dos planos de trabalho para solicitar recursos. O objetivo é agilizar os documentos para atender as localidades com a maior urgência possível.”


Ainda segundo o ministério, no início desta semana será publicada nova portaria com o reconhecimento por parte da União por conta da inundação dos rios de Rio Branco, Mâncio Lima, Porto Walter, Jordão, Santa Rosa do Purus, Feijó, Rodrigues Alves e Sena Madureira.


Com a medida, as localidades poderão solicitar recursos para ações emergenciais e, posteriormente, para reconstrução de estruturas danificadas.


“Será montada, ainda, uma Sala de Coordenação para articular a atuação dos órgãos federais na região. Além da Defesa Civil Nacional, estão atuando no desastre os Ministérios da Saúde, Cidadania, Infraestrutura (DNIT), Defesa e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, além de órgãos de monitoramento – CPRM e Inmet.”


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