Por que Rodolfo Landim acredita que Gabigol sofrerá uma “perda de imagem por toda a vida” se deixar o Flamengo? Um mês depois da frase que causou polêmica entre os torcedores, o presidente do clube explicou sua previsão e detalhou o arrastado processo para renovação do contrato do jogador.
O tema Gabigol tomou 15 minutos das duas horas de duração da entrevista exclusiva de Landim ao ge. O dirigente abordou ainda estádio, SAF, resultados do futebol, gestão financeira e diversos outros temas (outros trechos serão publicados na terça-feira).
A frase de Landim sobre o futuro de Gabigol foi escrita pelo presidente em grupo de WhatsApp com aliados da política rubro-negra. Questionado sobre a mensagem, ele citou uma enquete recente para explicar seu raciocínio.
Ao inaugurar o museu na sede social da Gávea, o Flamengo perguntou a seus torcedores quem é o maior ídolo de sua história. Como era esperado, Zico foi o mais votado, com 16%. Gabigol ficou em segundo, com 9%. O presidente conta que conversou com o atacante após a divulgação do resultado.
– Claro que muita gente que votou nunca viu o Zico jogar nem votou no Zico. Bom, eu votei no Zico (risos). O que eu falei para o Gabriel foi o seguinte: “O Zico é o maior ídolo do Flamengo, e para a imagem dele foi muito importante o fato de só ter jogado no Flamengo no Brasil”. Você vê outros grandes jogadores que passaram pelo Flamengo e não estão nem entre os 10 maiores. Para mim, deveriam estar ali entre os ídolos. Mas, como jogaram em outros clubes, não estão. Para a torcida do Flamengo, o jogador ter passado a maior parte da carreira dele aqui é muito importante.
Na conversa, Landim disse a Gabigol que a permanência no clube renderia ao camisa 10 a possibilidade de receber por décadas a adoração da torcida rubro-negra. Hoje com 27 anos, Gabigol está em sua sexta temporada pelo Flamengo.
– O que eu quis dizer com a afirmação? Por diversas qualidades dele, não só como jogador, líder e tudo que ele é, o Zico tem mais de 70 anos e ainda vive desse estrelato que teve ligado ao Flamengo. E a diferença do Gabriel para o Zico é de 44 anos. Uma hora o Zico vai passar, e o Gabriel, se continuar a investir e a jogar pelo Flamengo, vai poder usufruir disso por toda a vida dele.
– Eu não entendo que exista lugar nenhum melhor para ele continuar a carreira do que no Flamengo. Por quê? Além dos anos que ele vai ter de salário jogando futebol, vai poder usufruir dessa idolatria de ter sido ídolo desse período muito vencedor do Flamengo, e eu espero que continue a ter. No fundo, é essa a mensagem que eu passo: sair do Flamengo para jogar em qualquer outro clube, ele pode ganhar mais ou menos a mesma coisa ou o mesmo dinheiro. Mas ele vai perder a oportunidade de poder usar no futuro muito da imagem por ser muito atrelado ao maior clube do Brasil.
“Em nenhuma hora eu falei ‘sim'”
Rodolfo Landim detalhou ainda o processo da negociação para renovação de Gabigol, que chegou a estar muito adiantada em 2023, mas empacou. Com contrato até dezembro deste ano, o jogador poderá assinar um pré-contrato com qualquer outro clube a partir de 1º de julho.
– A gente teve longas negociações com ele, mas não chegou a um acerto. Se tivesse chegado, teríamos acertado contrato com ele. A gente nunca deixou de conversar com ele. Existia no ar esse problema do processo da dopagem.
– Como quem assina sou eu, digo que comigo não teve acordo. Eram trazidas para mim etapas do processo de negociação. Se tivesse acordo, eu assinava. Chega num momento em que digo OK ou não. Quando digo OK, pode ter certeza de que vem uma pilha de papel aqui na minha mesa. Vem tudo assinado, rubricado e em 24 horas está na minha mesa.
– Em hora nenhuma eu falei “sim”. Se eu falasse, rapidamente chegaria o papel aqui. Agora, as discussões e coisas que ele pudesse ter aceitado… No fundo, o coroamento de uma negociação se dá com a formalização disso através de documentos escritos, o que não ocorreu.
Suspensão “completamente desproporcional”
Sobre a suspensão de dois anos imposta a Gabigol pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD), Landim reconhece que o jogador adotou um comportamento fora do padrão no dia do exame. No entanto, o presidente considera a pena injusta.
– A gente é obrigado a reconhecer que talvez o Gabriel não tenha sido o mais colaborativo durante o processo de levantamento das amostras, mas uma coisa resta clara e acho fundamental: o jogador não estava dopado. Ele fez exame de sangue, fez exame de urina. Ele pode não ter cumprido o procedimento como os fiscais gostariam, mas o ponto fundamental básico da história é que ele não estava dopado.
– Enquadrar isso como fraude ao processo e por isso penalizá-lo com dois anos de suspensão me parece algo completamente desproporcional. Acho até que dar uma advertência ao jogador, uma multa… Mas fazer isso com um jogador que tem um período de carreira curto, dar uma penalidade que tira dois anos da vida profissional de um atleta… Me parece completamente desproporcional.
Rodolfo Landim afirmou que o clube está confiante na obtenção de efeito suspensivo nos próximos dias na Corte Arbitral do Esporte (CAS), na Suíça. Se não houver mudança na pena, Gabigol voltará aos campos somente em abril de 2025.
– A gente tem dado todo o suporte possível para ele e acredita muito na reversão dessa pena, tanto com esse efeito suspensivo que está se buscando agora quanto com o julgamento definitivo, que vai acontecer tempos depois. Enquadrar isso como fraude ou penalidade é injusto. É injusto.
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Sua declaração sobre a eventual perda de imagem pegou mal no futebol, segundo o que apuramos. Houve rusga com o departamento?
– Eu nunca tive nenhuma rusga com o Braz, apesar de todo mundo falar. Eu nunca fiz queixa para ele, e ele nunca fiz queixa para mim. Mas tudo bem, fala-se tudo.
O senhor disse que Gabigol poderia ter uma perda de imagem se sair do Flamengo. E o senhor não teria a sua arranhada ao deixá-lo ir embora?
– Isso não é uma decisão que está na mão do Flamengo. Está na mão do Flamengo e na do jogador. Quando você assina contrato com o jogador, ele tem prazo. No caso do contrato com o Gabriel, foi o prazo máximo de cinco anos. É uma decisão do jogador levar o contrato até o fim e ficar com o passe livre. Ele tem essa decisão de jogar onde ele quiser. Isso sempre será uma decisão não só do clube.