O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que recebeu com tranquilidade a informação de que o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, fará delação premiada. Jair Bolsonaro ainda disse que acredita que Cid não falará nada que o “comprometa” e, mesmo com toda a situação, ainda tem “afeto” pelo ex-ajudante de ordens.
Em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, Jair Bolsonaro disse que Mauro Cid sempre foi uma pessoa de confiança nos quatros anos de seu governo e fez um “excelente trabalho”.
“O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar. Há uma intenção de nos ligar ao 8/1 de qualquer forma. E o Cid não tem o que falar no tocante a isso porque não existe ligação nossa com o 8/1. Eu me retraí [depois da derrota para Lula], fiquei no Palácio da Alvorada dois meses, fui poucas vezes na Presidência. Recebi poucas pessoas”, declarou o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Apesar da afirmação de Jair Bolsonaro, a delação premiada firmada entre Mauro Cid e a Polícia Federal (PF) e homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na última sexta-feira (13/9), não está restrita ao atos golpistas de 8 de janeiro.
A colaboração foi fechada no âmbito do inquérito das milícias digitais que corre na Suprema Corte desde julho de 2021 e abarca uma série de investigações, desde o disparo em massa de fake news, os ataques do 8 de janeiro até o esquema de fraude no cartão de vacina do ex-presidente Bolsonaro – este último, o motivo pelo qual Mauro Cid foi preso, no dia 3 de maio, em uma operação da Polícia Federal.
De acordo com o ex-presidente, Mauro Cid agendava os encontros que ele tinha, mas não participava das reuniões, nem de decisões políticas e do governo. “Ele não participava de nada. Eu estive com o [presidente da Rússia Vladimir] Putin, por exemplo. Estive com o [presidente dos EUA Donald] Trump. Éramos eu e o intérprete. Ele [Cid] nunca estava [presente nas conversas].Ele agendava, ali, os horários de encontros com chefes de Estado, com ministros, com autoridades, com comandantes de força. Mas nunca participou dessas reuniões. Quando você conversa com os [generais] quatro estrelas, não fica nenhum tenente-coronel do lado. Até mesmo por uma questão de hierarquia”, disse.
A um interlocutor, em março, pouco antes de ser preso, Mauro Cid, porém, afirmou que era a pessoa que “mais sabia” do que aconteceu durante os quatros anos do governo Bolsonaro. “Cuido da vida pessoal dele. Eu devo ser a pessoa que mais sabe o que aconteceu. Todas as histórias que aconteceram nesses 4 anos. Porque eu vivi todas, 99% [delas]”, disse Cid.
Em um dos momentos da entrevista, um dos advogados do ex-presidente que o acompanhava afirmou que o tenente-coronel estava sofrendo um “esgarçamento emocional” por ficar preso por quatro meses sem ter como se defender. “Eu vejo da mesma forma que o advogado fala aí. Não tenho nenhuma preocupação com a minha vida particular”, concordou Bolsonaro.
Jair Bolsonaro também disse que Cid que tratava de suas contas bancárias e comentou superficialmente sobre os pagamentos e depósitos que o ex-ajudante de ordens fazia para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
“Falam muito das contas da Michelle. Ela está tentando pegar o extrato [de contas bancárias] na Caixa, e a Caixa não dá. Eu até perguntei a ela agora há pouco, quanto dava, em média [os gastos dela], por mês. Não chegava a R$ 3.000. É ridículo. Nas primeiras semanas de governo, a Michelle foi ver o que poderia comprar com cartão corporativo [para cobrir despesas do Palácio da Alvorada] Não podia comprar, por exemplo, ração para cachorro e absorvente. Então ela tem nota fiscal [de gastos próprios] de ração para cachorro, absorvente, gastos de R$ 2,50 na farmácia. Tem tudo. Até me surpreendeu”, disse.
“Eu sacava por mês das minhas contas, do meu salário de presidente e de proventos de capitão do Exército, em média, R$ 24 mil [que serviriam para cobrir as despesas particulares da família]”, completou.