Com a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, a tropa de congressistas alinhada ao atual governo passou a traçar estratégias para atuar na oposição a partir do ano que vem. Na Câmara, onde o PL elegeu 99 deputados e terá a maior bancada, a ideia é apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL), hoje um aliado, e negociar em troca o comando das comissões consideradas mais importantes, como a Comissão de Comissão e Justiça (CCJ), a Comissão de Fiscalização e Controle e a Comissão Mista de Orçamento (CMO). A sigla também terá maioria no Senado — 14 parlamentares —, onde o plano é lançar um candidato próprio à presidência da Casa contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cujo partido já indicou que fará parte da base aliada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A ideia de parlamentares bolsonaristas é utilizar as comissões para resistir a medidas consideradas “de esquerda” que eventualmente venham a ser apresentadas pelo novo governo. Citam, como exemplo, mudanças na legislação trabalhista, regulação da mídia e temas relacionados à política ambiental do país. Além disso, pretendem insistir em projetos da pauta de costumes que ainda não avançaram, embora admitam mais dificuldade nesse aspecto.
— Vamos ter um mandato mais dificultoso para conseguir aprovação de algumas pautas de costumes e também na questão econômica, mas também vamos ter um trabalho em que a gente vai conseguir impedir que muitas dessas pautas que contrariam as de costume e econômica possam avançar — disse o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), que se reelegeu para um novo mandato.
Além de tentar comandar as principais comissões da Casa, a estratégia envolve conquistar cadeiras em colegiados temáticos como o de Meio Ambiente, Cultura e Educação. São nesses grupos, formado por um número reduzido de deputados, em que a maioria dos projetos começa a ser discutido.
— Nós aprendemos a fazer oposição com o PT. O que temos que fazer é garantir na Câmara toda a estrutura necessária na liderança do partido, em especial, para obstruir as pautas que não forem do nosso alinhamento — diz o deputado Filipe Barros (PL-PR), também reeleito.
Estreante na Câmara, o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem (PL-RJ), avalia que a próxima legislatura terá uma direita com menos divisões que marcaram a atuação de aliados do presidente ao longo do mandato.
— Teremos uma direita mais consciente, menos atabalhoada, que vai fazer uma oposição responsável. Se for uma pauta que beneficia a família, podemos votar com o governo — disse ele ao GLOBO.
O deputado Marco Feliciano (PL-SP) aposta que Bolsonaro, mesmo sem mandato, conseguirá manter a ascendência sobre os aliados e tentar voltar ao cargo em 2026.
— Nosso principal foco será manter acesa a chama da direita, visando às eleições de 2026, em defesa da democracia.
No Senado, o PL tenta costurar um acordo com os partidos da atual base aliada para eleger um senador de oposição a Lula na presidência da Casa. A sigla de Bolsonaro prometeu apoio à reeleição de Lira na Câmara e quer que o PP, assim como o Republicanos, apoiem um nome da legenda contra Pacheco.
Representante da ala ideológica do bolsonarismo, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) já se disse disposta a concorrer, mas o partido do presidente tem outros planos. Na lista de cotados como candidatos estão o atual líder do governo, Carlos Portinho (PL-RJ), e do também ex-ministro e senador eleito Rogério Marinho (PL-RN).
— Não seremos oposição por oposição e, desta forma, prejudicar o povo brasileiro — afirmou Damares ao GLOBO.
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