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No Acre, menino de 2 anos que monta mapa brasileiro e fala cores em inglês faz sucesso na internet

Aos 2 anos de idade, o pequeno André Aiache encanta a internet não só pela simpatia, mas também pela facilidade e curiosidade que tem em aprender coisas novas. Tudo isso é compartilhado nas redes sociais da mãe, a psicóloga e bacharel em direito Marian Aiache, de 32 anos.


Em um dos vídeos postados pela mãe, André aparece reconhecendo os estados brasileiros e montando o quebra-cabeça com o incentivo da mãe. Ele também escreve o próprio nome e sabe as cores em inglês.


A sede de aprendizado do pequeno incentivou a mãe a postar seus avanços e também os métodos que usa para estimular seus filhos, já que também tem uma menina de 6 anos, a Clara Aiache. Por isso, no perfil Marian já alerta: “no momento estou ocupada demais criando crianças incríveis.”


Ao G1, Marian conta que a filha sempre foi uma criança muito inteligente, curiosa e dedicada aos estudos, mas que não não apresenta esse interesse tão forte em aprender por meio de estímulos cognitivos, como é o caso do caçula André.


‘Tem uma memória fantástica’, diz mãe

Ela destaca ainda que a curiosidade e a vontade de aprender são genuinamente do menino de apenas 2 anos, que recebe também apoio da irmã mais velha.


“São características do André gostar de aprender e ser muito observador. Além disso, ele tem uma memória fantástica. Primeiramente ele apresentou interesse por letras e números, com dois anos recém completados ele já falava o alfabeto completo. Um dia estávamos tomando café e ele começou a soletrar o nome dele, ficamos impressionados, porque eu não havia ensinado, ele aprendeu apenas observando. Outro dia, ainda com recém completados dois anos, ele montou sozinho um quebra-cabeça de 48 peças, ele estava em uma fase que amava quebra cabeça”, relembra a mãe.


Foi a partir daí que Marian começou a pensar em coisas que pudessem incentivá-lo. “Compramos o quebra-cabeça com os estados brasileiros e ele amava montar e aprender os nomes. Me pedia para aprender e eu ensinava.


Ele também gosta muito de aprender outras línguas, com pouco mais de 2 anos também falava o alfabeto em inglês. Hoje ele conhece muitas palavras na língua inglesa e parte do alfabeto em espanhol”, diz.


E é assim que ele aparece nas imagens, com a ajuda da mãe, montado o mapa do Brasil e falando os nomes de todos os estados.


Na pandemia, Marian se dedicou exclusivamente a educação dos filhos em casa  — Foto: Arquivo pessoal

Na pandemia, Marian se dedicou exclusivamente a educação dos filhos em casa — Foto: Arquivo pessoal


Estudos em casa

Desde os seis meses, o André frequenta a creche. Eles voltaram para a escola presencialmente este ano. A mãe acredita que o contato com a creche contribuiu bastante para o desenvolvimento do pequeno, mas defende que o incentivo em casa também foi crucial.


Marian trabalhava como psicóloga no Centro de Atendimento à Vítima do Ministério Público do Acre (MP-AC) e quando veio a pandemia, ela conta que foi muito difícil conciliar o trabalho de psicóloga em home office com duas crianças pequenas.


“A Clara estava em processo de alfabetização por meio de aulas on-line e o André também precisava de muita atenção quanto ao aprendizado em razão desse interesse dele além do esperado. Diante da dificuldade de conciliar o trabalho com o cuidado, atenção e educação que eles precisavam em casa, no início deste ano, decidi sair do meu trabalho”, conta.


E aí foi dedicação exclusiva aos filhos. Ela acredita que isso fez com que André pudesse ter uma atenção maior dela e, consequentemente, uma evolução considerável.


“Em fevereiro do ano passado ele falava poucas palavras, com um mês de pandemia, o convívio direto conosco e os estímulos que eu apresentava, ele já estava falando tudo e reconhecendo letras, números, cores e formas geométricas”, relembra.


André também escreve o próprio nome e já consegue ler algumas palavras  — Foto: Arquivo pessoal

André também escreve o próprio nome e já consegue ler algumas palavras — Foto: Arquivo pessoal


Respeitando os limites

Por ser psicóloga, Marian conhece e usa métodos para oferecer um ambiente propício de aprendizado para os filhos. Basicamente, ela diz que usa a Teoria de Aprendizagem de Piaget, que segue quatro fases. Porém, esclarece que tudo é feito respeitando os limites e interesses de André.


“Eu sempre tive cuidado para respeitar o interesse e vontade dele quanto a esses aprendizados. Nunca foi forçado, até porque uma criança da idade dele não precisa aprender essas coisas. Sempre cuidei para ensinar o que realmente é importante aprender de acordo com a idade, essas outras habilidades são como diversão para ele”, esclarece.


Marian exemplifica ao lembrar que chegou a apresentar o sistema solar, mas que ele não manifestou interesse. Além disso, além de reconhecer famílias silábicas e ler algumas palavras, não é uma atividade que ele gosta muito, então a mãe não insiste. “Se não é divertido para ele, não tem que forçar”, completa.


Rotina compartilhada

A psicóloga decidiu compartilhar a rotina dos filhos na internet com o início da pandemia. Segundo Marian, essa foi uma maneira de fazer com que os familiares, mesmo distantes, pudessem acompanhar o crescimento de André e Clara.


“Nessa época comecei a receber muitas mensagens de amigos e conhecidos que diziam admirar a forma como educávamos nossos filhos aqui em casa. Depois, percebendo a dificuldade que muitos pais estavam tendo com as aulas on-line, fiz um vídeo com dicas e mostrando tudo que eu fiz para auxiliar a Clara nesse momento. A ideia dos vídeos era auxiliar outras mães e pais com os cuidados e educação de seus filhos”, explica.


Ela diz que hoje consegue falar das duas paixões: a psicologia e a maternidade. “Hoje sigo tentando trazer assuntos relevantes para a educação de crianças, dando dicas enquanto psicóloga, falando sobre a minha forma de educar e mostrando nosso dia a dia. Foi a maneira que encontrei de continuar exercendo minha profissão e me dedicando aos meus filhos, aproveito meu Instagram para falar de dois assuntos que eu amo; maternidade e psicologia”, pontua.


Para André, o aprendizado se torna brincadeira. De forma voluntária, ele sempre busca aprender mais motivado pela curiosidade.


“Ele também gosta de brincadeiras agitadas, de correr, jogar bola, gosta de música e brinquedos eletrônicos, mas confesso que o que ele mais gosta é aprender, fazer atividades escolares e jogos que o estimulam cognitivamente como quebra-cabeça e jogo da memória”, finaliza.


Apesar de perceber a certa precocidade em André, a mãe conta que nunca procurou uma avaliação para saber se ele tem altas habilidades ou superdotação.


“Crianças que apresentam habilidades acima da média em idade pré-escolar não necessariamente manifestarão essas características ao crescer. Pode ser que com o tempo essa discrepância diminua e ele passe a ter um desempenho igual ao das outras crianças de sua idade, então acho cedo para avaliar ou afirmar algo”, finaliza.


Altas habilidade e superdotação

Taís Galdino, que é coordenadora do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação (NAAH/S), explica que existe todo um processo de acompanhamento e preparação para pessoas com indicadores de altas habilidades.


“Quem tem altas habilidades tem um perfil, existe realmente características muito fortes que continuam pelo decorrer da vida e não em um período, porém precisa de um ambiente estimulador. A superdotação é um comportamento que tem a hipersensibilidade, a intensidade é muito forte, quem tem superdotação tem a hipersensibilidade emocional, social e cognitiva. Nem todo o precoce vai ter altas habilidades, mas todas as pessoas com altas habilidades foram precoces. Então, essa idade da precocidade precisa ser bem acompanhada, porque ela está na primeira infância”, explica.


A coordenadora reforça ainda que é muito importante respeitar o interesse e o limite dessa criança, assim como Marian faz com André.


“O prodígio é um fenômeno só na infância, que é uma criança que tem uma habilidade em nível profissional, mas não quer dizer que ela vai ter altas habilidades. Pode ser que ela seja, mas só esse acompanhamento pode dizer. É um trabalho de acompanhamento, não fechamos parecer pedagógico. Estudos dizem que não é só uma avaliação psicológica, mas também pedagógica, então a gente acompanha se a característica vai permanecer.


Taís também destaca que não existe uma idade pré determinada para que esse diagnóstico seja fechado.


“Nossa investigação vai de seis meses a um ano, podendo se prolongar, porque é uma fase de desenvolvimento. Precisa ser identificado, porque precisa ser orientado, tanto que está incluído como educação especial, porque precisa ser suplementada e complementada nas áreas de fragilidades, porque ele não vai ser bom em tudo, ele não é super em tudo, então a frustração faz parte, o perfeccionismo também, então é uma orientação delicada e importante, tanto para a convivência social e profissional”, destaca.


Atualmente o núcleo acompanha 150 pessoas na capital acreana em investigação de altas habilidades ou superdotação. Inclusive, estão abertas para indicação de novos alunos. A indicação pode ser feita por qualquer pessoa, porém a matrícula só os responsáveis podem fazer.


“O aluno com altas habilidades apresentam características específicas que o acompanharão por toda a vida, porém a sua área de altas habilidades precisa ser reconhecida e estimulada para não ficar adormecida/ frustrada. A superdotação além de ser genético precisa das influências ambientais para ser favorecida, em uma visão interacionista, ou seja, na interação entre a genética e o ambiente que são determinantes para o comportamento da superdotação. A intensidade ( emocional, cognitiva e outras) é uma das características mais fortes das pessoas que apresentam comportamento de superdotação.”


André agora demonstra interesse para aprender as bandeiras  — Foto: Arquivo pessoal
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