Ícone do site Ecos da Noticia

Primeiro patrocinador de Dino no AC fazia feira ao atleta: “ele achava que morreria pobre”

Em meio à euforia pela vitória histórica de Ramon Queiroz, o “Dinossauro Acreano”, no Mr. Olympia 2025, surge uma figura fundamental nos bastidores da trajetória do campeão: Ramayano Souza. Há dez anos, em Rio Branco, capital do Acre, Ramayano foi o primeiro empresário a patrocinar Ramon Dino, oferecendo não apenas suporte financeiro, mas também incentivo e uma oportunidade de trabalho que marcou o início da carreira do fisiculturista. Em uma entrevista exclusiva, Ramayano relembra esses momentos iniciais, destacando a importância de acreditar em sonhos aparentemente distantes em uma região como o Acre.



Ramon Dino, de 30 anos, conquistou no último sábado (11), em Las Vegas (EUA), o título da categoria Classic Physique no Mr. Olympia, o torneio mais prestigiado do fisiculturismo mundial, equivalente à Copa do Mundo do esporte. Ele superou concorrentes como o alemão Mike Sommerfeld e o norte-americano Terrence Ruffin, levando para casa um prêmio de 100 mil dólares (cerca de R$ 552 mil). Essa vitória não só consagra o Brasil como potência no esporte, mas também coloca o Acre no mapa global do bodybuilding, sendo o primeiro título masculino brasileiro na competição.



Nascido e criado em Rio Branco, Ramon começou sua jornada no esporte ainda jovem, praticando calistenia – treinos com o peso do próprio corpo – no Horto Florestal. Foi nesse contexto de dedicação incansável que ele cruzou caminhos com Ramayano Souza, então um empreendedor de apenas 18 anos que acabara de abrir a RK Suplementos, uma loja física de suplementos alimentares quase em frente ao parque público Horto Florestal.


Souza recorda que Ramon se aproximou pedindo uma oportunidade de trabalho, em um momento em que a loja precisava de mão de obra. “Ele veio pedir uma oportunidade de trabalho e a gente também precisava de pessoas. Com isso, o jeito era nos ajudarmos”.



O arranjo inicial era uma troca mútua, sem salário fixo, já que ambos estavam começando. Ramon trabalhava à tarde na loja, enquanto treinava pela manhã e à noite. “O Ramon ficava lá à tarde na loja, a gente comprava algumas coisas de feira para ele”, conta Ramayano, rindo da simplicidade da época. Ele menciona cenas cotidianas, como Ramon posando sem camisa na loja, o que rendia broncas leves. “Eu dizia: ‘pô, tu não pode estar sem camisa aqui, tem os clientes’. Mas era muito bacana essa troca que a gente tinha.”


Além do suporte prático, Ramayano exerceu papel motivacional. Ramon, vindo de origens humildes, frequentemente expressava pessimismo: “Ele dizia ‘ah, eu nasci pobre, eu vou morrer pobre’, mas eu dizia que ele tinha que sonhar grande que um dia estaria lá”.



O patrocínio se concretizou em 2015, quando a RK Suplementos apoiou Ramon em seu primeiro campeonato de fisiculturismo, realizado em Rondônia pela NABBA (National Amateur Body-Builders’ Association). Ramon competiu na categoria Men’s Physique e saiu vitorioso com os treinos de Márcio Garcia. “Quem realmente, de fato, mostrou, vamos dizer, o Ramon foi a gente, junto com o coach dele na época, Márcio Garcia, que desempenhou um papel muito importante na vida dele”, enfatiza Ramayano. Ele brinca que, na época, até ganhava de Ramon em treinos de pernas, já que o futuro campeão ainda não focava nessa parte do corpo.


Ramon permaneceu com a RK por cerca de seis ou sete meses, período em que iniciou sua primeira preparação profissional. Após a vitória em Rondônia, ele recebeu uma proposta da farmácia de manipulação Flora, onde trabalharia como atleta. Ramayano, junto com Márcio Garcia e o nutricionista Giovanni Sampaio, chegou a oferecer outra oportunidade com uma marca nacional, mas Ramon optou pela proximidade com seu coach. “E está tudo certo, a gente conversou e foi bem tranquilo”, diz Ramayano, sem ressentimentos.


Hoje, Ramayano vibra com cada conquista de Ramon, vendo-a como mérito do atleta. “Eu particularmente vibro por cada conquista, é mérito dele. Então a gente fez só um pontapé inicial ali.” Ele rejeita sugestões de cobrar reconhecimento público: “Muitas pessoas chegam para mim e falam ‘Ah cara, tu tem que entrar em contato com ele e pedir para ele fazer um vídeo teu, e falar de ti e tudo mais’, não cara, eu não sou esse tipo de pessoa. Ele já faz ali muito bem o trabalho de levar o Acre, de levar a representação, de levar todo mundo que ama o esporte junto com ele.”


Ramayano também reflete sobre o potencial que viu em Ramon desde o início: “O potencial era assim, absurdo, gigantesco, que não dava para deixar. Não dava para não alimentar esse sonho.” Ele lamenta a falta de estrutura no fisiculturismo acreano, criticando a Federação local por não captar investimentos ou verbas parlamentares. “Eu estava presente na Federação de Fisiculturismo, saí porque não dá certo. Não tem pessoas realmente capacitadas para buscar, alimentar esse sonho e buscar esse investimento.”


Com a vitória de Ramon no Mr. Olympia, Ramayano espera um impulso para o esporte no Acre: “Acredito que diante agora dessa vitória dele, nós vamos poder ter algumas políticas públicas relacionadas ao fisiculturismo.” Ele torce por mais campeonatos, investimentos de empresários e do governo, para que outros talentos locais possam emergir.


Sair da versão mobile