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Inspeções de Tranin a presídio eram mais “atenciosas” a membros do CV, com passadas de mão e quebra de protocolos

A investigação do Ministério Público feita ao promotor de justiça Tales Tranin para apurar a sua aproximação com criminosos ouviu os policiais militares à disposição da instituição para fazer a segurança do investigado, principalmente durante as inspeções aos presídios. Durante as declarações, policiais narraram desprezo quanto às regras de segurança dentro dos pavilhões, gestos de intimidade e atuação mais atenciosa a membros do Comando Vermelho.


O segundo sargento da PM Djalma Firmiano da Silva, lotado no Gabinete Militar de Segurança Institucional do MPAC, disse que durante as inspeções ao presídio o promotor costumava desobedecer os protocolos de segurança, a contragosto da equipe e dos policiais penais, e dava tratamento mais “atencioso” a faccionados do Comando Vermelho.


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Djalma afirmou que certa vez, no chapão do presídio Francisco de Oliveira Conde, viu um preso pegando nos peitos de Tranin. O promotor bateu de leve na mão do preso, recuou e falou: “pare, menino! Pare de brincadeira”. Indagado sobre a eventual diferença no tratamento de Tranin em relação às facções rivais, o policial disse ter notado que o tratamento com os presos do Comando Vermelho é diferenciado “para melhor, mais atencioso e diligente, enquanto nos pavilhões de presos do PCC e Bonde dos 13 Dr. Tales parece mais apressado, dizendo ‘bora, bora, fala rápido’”, afirmou.


Wanderson Vitor, também segundo sargento da PM e membro da equipe de segurança do MPAC, falou aos investigadores sobre a relação do promotor Tales com os presos, relação esta que, na sua experiência de 22 anos de polícia, entende que ultrapassa a relação profissional.


Em uma das visitas em que acompanhou o Dr. Tales Tranin no presídio, Wanderson diz que estava presente quando um dos reeducandos perguntou ao promotor se ele conhecia uma determinada pessoa, cujo nome não se recorda; o Dr. Tales não soube responder se a conhecia, então o preso disse: “Estou sabendo que o senhor está namorando”. Nesse momento vários presos começaram a dar risada e o Promotor falou: “Para com isso menino! Pare com essas coisas!”.


Ainda de acordo com o policial, o promotor também não permitia a entrada da equipe de segurança no pavilhão sob o argumento de que os presos ficariam intimidados para formular suas reclamações. O comportamento de Tales e seu desprezo às normas de segurança seriam alvo de várias reclamações de agentes públicos do IAPEN, sendo que a reclamação mais recorrente seria a de que “o promotor acredita em tudo que os presos falam, em detrimento daquilo que é pontuado pelos agentes de segurança, causando desgaste nessa relação”.


O capitão da PM Marcos Guitierre Guimarães Barroso, lotado no Gabinete Militar de Segurança Institucional do MPAC desde 2010, disse durante depoimento que já tinha ouvido comentários entre os integrantes da equipe de segurança de que os presos tocavam o peito do promotor durante as vistorias nos presídios, mas nunca havia presenciado o comportamento até que, entre 2020 e 2022, viu um preso esticando o braço para fora da grade em direção ao peito do promotor, ao que Tranin teria respondido “pare, menino!”.


Em outra ocasião, no mesmo período, Tales Tranin se afastou “rapidamente” da equipe de segurança e se aproximou da grade do banho de sol dos reeducandos. Imediatamente, o capitão da polícia militar foi até o promotor e o tirou daquela área, ao que Tranin lhe disse: “Guitierre, ninguém vai fazer nada comigo aqui não, eu ajudo esse pessoal aqui. Vocês exageram demais!”.


Ouvido em sindicância, o promotor Tales Tranin disse que nunca se sentiu desrespeitado pelos presos, nunca foi alvo de “gracinhas” nem de apelidos, mas assumiu que “no começo”, por inexperiência, cometeu falhas, e completou:


“Esses seguranças que foram ouvidos, eu até achei assim, porque nos últimos anos não eram nem esses que estavam indo comigo. Inclusive… um policial, eu não sei se um ou dois, não sei, eu sei que menciona, que fala que eu enfio a mão dentro da cela, entendeu? E aí eu até já juntei o que demonstra isso. Tem vários vídeos, fotos, quando entrava o celular, porque desde dezembro do ano passado que não se pode mais. Fazendo foto da superlotação, tem as fotos com o meu advogado, de eles com artesanato, porque eu já entrei em procedimento para artesanato, não chega a ser tortura, mas eles tinham entrado lá uma vez, eu fiz um vídeo deles mostrando, eu estou aqui, o ventilador, então você vê que não tem grade, porque eu enfiei a mão para poder fazer as filmagens, entendeu? Então esse foi momento. Então assim, esse contato tinha”, explicou.


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