A música Vim Dançar na Roça, que embala o vídeo mais famoso da Menina da Bota, foi hackeada. A obra está legalmente registrada no nome do produtor musical Gilson Gomes, mas quando ele e outros tentaram disponibilizá-la no Spotify, não conseguiram. Ela já estava na plataforma.
“Tive a impressão de que é um perfil fake, gerado por inteligência artificial, fora do Brasil”, diz David Alves Ferreira, responsável pelo registro legal da música. Ele é proprietário de um estúdio que faz assessoria de direitos autorais, a AD3 Music, em Belo Horizonte.
Além de Ferreira e do detentor dos direitos autorais, artistas como o DJ Frajola Tsunami, a Menina da Bota e seu irmão, com ajuda dos fãs, querem derrubar o perfil FFLG no Spotify.
“Na hora que eu fui lançar minha música, não consegui. Estava passando por plágio, a música é minha”, reclama Gilson Gomes, o Gilson G7, de Angelândia (MG).
DJ fez tutorial para denunciar hackeamento no Spotify
O DJ Frajola Tsunami fez um vídeo repudiando a violação de direito autoral e explicando como denunciar o perfil falso no Spotify. Ele se envolveu na causa porque, com autorização, fez uma versão de Vim Dançar na Roça.
“A partir do momento que tive minha versão autorizada, me senti na obrigação de ajudar. Eu consegui visibilidade, então é uma mão lavando a outra”, conta Dj Frajola Tsunami. Sua produtora, a Dk Funk Play, está encaminhando documentação ao Spotify pedindo para derrubar o perfil falso.
O principal documento a ser apresentado é um código internacional de identificação, o International Standard Recording Code (ISRC). “É tipo um CPF da música. Esse documento é gerado quando você faz o registro”, explica o DJ.
Sobre o momento da carreira de Maria José Mendes, a Menina da Bota, com seu irmão Waninho do Forró, “eles precisam desse apoio, tem muita gente se aproveitando. Infelizmente, pela falta de conhecimento, estão perdendo muitas oportunidades”.
Casa da família vira ponto de atração
No perfil oficial da Menina da Bota, com 1,2 milhão de seguidores, há cada vez mais vídeos de publicidade. Em geral, são gravados na propriedade rural onde a família mora, em Setubinha.
Local de difícil acesso, as estradas de terra que levam até lá têm sido atravessadas por representantes comerciais, músicos, promotores de rifas e joguinhos eletrônicos, além de curiosos.
Gravam vídeos promocionais em que a artista de 21 anos aparece sozinha, ao lado do irmão ou da família. Emprestam a imagem em troca de botas, roupas, semijoias.
Chegou-se a propor a construção de uma casa em substituição à precária moradia da Menina da Bota, o que ainda não aconteceu.
Representante comercial cearense
O promotor de vendas Alan Souza, de Juazeiro do Norte, Ceará, é representante de semijoias. Ficou sabendo do sucesso da Menina da Bota e fez contato, via Instagram, com Sérgio Pezão, de Capelinha, cidade próxima à casa da artista.
Pezão, criador de conteúdo digital, havia feito vídeos com a Menina da Bota e levou o vendedor até ela.
As semijoias dadas à família custariam “por volta de três mil reais”, diz o promotor de vendas. Houve pagamento em dinheiro, negociado diretamente com Waninho do Forró, irmão da Menina da Bota, que cuida das parcerias da dupla. Eles preferem não divulgar o valor.
Com o vídeo, o perfil da empresa de semijoias foi de 12 para 20 mil seguidores. “Eles são um pouco fechados, é muito difícil de entrar na cabeça deles. Se tiverem um empresário bom mesmo, ajuda a alavancar a carreira”, diz o vendedor.
Sucesso midiático da Menina da Bota
Após ser citada pelo padre Fábio de Melo, pela apresentadora Patrícia Abravanel, e dar entrevista ao Chega Mais, do SBT, a Menina da Bota recebeu em casa Geraldo Luís, do programa Geral do Povo, da RedeTV!
Enquanto isso, Nuno Torquato Cordeiro, trabalhador rural de Angelândia (MG), pai de Isadora e Belinha do Forro, vê de longe o sucesso da música que começou com suas filhas, cantoras mirins.
“Não entendo desses trem”, diz pai de cantoras
Vim Dançar na Roça, que estourou com a Menina da Bota, agora hackeada, tem uma primeira versão só com as filhas de Cordeiro, intitulada Vem Dançar mais Eu. Usando o mesmo instrumental, foi escrita uma nova letra para a gravação com a Menina da Bota.
“A parte que ela canta, foi eu que fiz”, conta o pai de Isadora e Belinha do Forró. “Mas, até agora, se você falar para mim que eu ganhei um real, eu não ganhei um centavo. O sonho da gente é ganhar, a gente trabalha na roça”.
Direitos autorais, legislação, plataformas de streaming são assuntos distantes da sua realidade. “Eu não entendo desses trem”.