Ícone do site Ecos da Noticia

Seca no Acre é destaque no Senado e MDS se dispõe a resgatar comunidades isoladas

capture 20240703 141959 1000x600

Em audiência pública da Comissão Mista Permanente Sobre Mudanças Climáticas (CMMC) no Senado, nesta quarta-feira (03), o diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD, Armin Augusto Braun, chamou atenção dos parlamentares para uma tendência de intensificação de seca extrema na Amazônia, e destacou que no Acre, o uso dos rios e igarapés para transporte em comunidades isoladas pode deixar de ser viável para acessar municípios e comunidades isoladas.


De acordo com Augusto Braun, este ano, o CENAD identificou que a chuva sedimentou os rios acreanos e os deixou mais rasos. “O rio está cada vez mais raso, então quando vem a chuva ela aumenta cada vez mais o volume do leito, e a estiagem vem dentro de um rio assoreado e as embarcações que em anos anteriores passavam já não passam mais”, disse. Por isso, segundo Braun, é necessário que o aparato estatal, através de seus instrumentos, se prepare para auxiliar com ações humanitárias as comunidades tradicionais, ribeirinhas e indígenas que podem ficar isoladas.


capture 20240703 141909


O assessor técnico do Departamento de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Vanderson Brito, que é acreano do povo Huni Kui, disse que entre os eixos específicos que competem ao órgão federal, estão o acesso à água potável nos territórios indígenas, a garantia de segurança alimentar, a comunicação acerca da estiagem, a logística no território amazônico, o monitoramento da cobertura vacinal, vigilância epidemiológica e ambiental, garantir o acesso da saúde a estes territórios. “Com planejamento estratégico e antecipado, conseguimos nos articular. Essa relação com estados e municípios é muito importante porque no mesmo rio que temos população indígena temos outras populações que precisam de suporte. Atuando de forma conjunta, compreendendo as competências de cada instituição, conseguiremos nos antecipar a esta seca de 2024”, disse Vanderson.


O diretor de Infraestrutura Aquaviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Erick Moura de Medeiros, participou da audiência e durante sua fala, disse que as dificuldades de infraestrutura que serão enfrentadas no norte este ano darão o aprendizado para que o Departamento aplique soluções em outras regiões do país que também devem sofrer seca severa. “Temos previsão de seca no pantanal, no Vale do São Francisco, temos uma questão de infraestrutura que vai causar muito problema e então temos que nos antecipar”, explicou. O diretor chegou a apresentar pontos de implementação de esforços na infraestrutura aquaviária de Amazonas e Rondônia, mas não citou o Acre.


A representante do Serviço de Proteção em Calamidade Pública do Ministério do Desenvolvimento Social, Cinthia Barros dos Santos Miranda, disse que entre as ações que estão à disposição do socorro a comunidades que estão ou ficarão isoladas pela falta de infraestrutura aquaviária, estão as estruturas de alojamento que são disponibilizadas em cidades para receber pessoas resgatadas de locais isolados. “É um recurso que a gente oferece para a constituição de alojamentos provisórios. Já usamos isso em municípios que foram atingidos por desmoronamentos, incêndio, mas pensamos na ideia de receber comunidades isoladas para receber famílias nas proximidades ou na sede do município. É um recurso de R$ 20 mil reais para cada grupo de 50 pessoas alojadas, por mês, até que seja necessário esse acolhimento. Mas também é possível fazer esse acolhimento com contratação da rede hoteleira, em residências, em igrejas e outros espaços públicos”, afirmou.


No dia 22 de junho, o ac24horas publicou reportagem que mostra o panorama da situação da seca nos rios do Acre. De acordo com o coronel Batista, coordenador da Defesa Civil do Acre, a inundação do Rio Acre que começou em fevereiro de 2024 e terminou no início de março já foi seguida pela menor cota dos últimos 52 anos para aquele período. De lá para cá, o problema tem se agravado mais e mais rápido que todas as previsões.


“Os níveis dos rios estão muito baixos, toda a extensão do Rio Acre está muito baixa e deve continuar baixando. Na Bacia do Juruá os rios estão na mesma situação, cotas baixas. Todas as nossas bacias do Acre estão com cotas mais baixas do que as previsões”, disse Batista.


O doutor Alexsande de Oliveira Franco, professor da Universidade Federal do Acre, membro do Comitê de Secas da Agência Nacional de Águas – ANA e pesquisador visitante do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, disse que o que explica a forte seca nos rios da amazônia são os fenômenos El Niño e La Niña, que estão sendo intensificados tanto quanto na sua ocorrência quanto na gravidade de suas consequências por causa da ação humana.


“Normalmente estes fenômenos deveriam acontecer a cada seis ou sete anos, mas temos notado ocorrências mais rápidas como resultado das atividades desenvolvidas pelo homem, sobretudo aumentando a produção de queima de combustíveis e desmatamentos. A intensificação disso tem deixado o planeta em caos. A previsão era que tivéssemos um aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC até 2030, já estamos vendo isso agora. Temos percebido aqui na Amazônia que estamos chegando num ponto de não retorno, em que a floresta não consegue mais se reequilibrar e temos então problema com água; os rios estão passando por um problema de definhamento, de morte”, disse o pesquisador.


Alexsande de Oliveira afirmou que as mudanças perceptíveis na reação da floresta amazônica aos fenômenos potencializados pela ação humana acontecem desde 2005, quando se notou que a floresta passou a dispensar um volume mais alto de umidade, tornando o solo mais seco mesmo em áreas de alta densidade florestal. “Tenho observado em áreas de floresta um solo mais seco, lugares que não secavam já secam nos últimos anos. O que eu percebo é que a floresta está perdendo muita água em função da alta temperatura; acontece o processo de evapotranspiração das plantas, mas quando ele é acelerado, essa planta perde muito mais do que deveria perder, por isso que essa planta pode chegar num ponto em que não consegue mais se reequilibrar”, falou.


Sair da versão mobile