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Pesquisa alerta para presença de doença propagada por morcegos no Acre

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Pesquisa utilizou redes de neblina para captura de morcegos em Rio Branco, autorizadas pelo ICMBio — Foto: Arquivo pessoal

Um estudo de mestrado da Universidade Federal do Acre (Ufac) alerta para a presença da histoplasmose em território acreano. Trata-se de uma infecção pulmonar causada por fungo propagado, em sua maioria, por morcegos. (Conheça mais sobre a doença abaixo)


Potencialmente patogênico para humanos e animais, a doença não é contagiosa, mas pode se tornar ainda mais perigosa para imunossuprimidos, ou seja, pessoas que recebem ou receberam tratamento que mexe com o sistema imunológico.


Fungo que causa histoplasmose foi identificado em morcegos no Acre — Foto: Arquivo pessoal

Fungo que causa histoplasmose foi identificado em morcegos no Acre — Foto: Arquivo pessoal

Ao g1, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) informou que há registros de casos de histoplasmose no estado, mas ainda sem relações comprovadas com morcegos. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) disse que são feitas ações de limpeza em espaços onde há circulação constante de pessoas. (Leia mais abaixo detalhes sobre ações do estado e do município)


Na pesquisa, inédita para a região, foram capturados 96 morcegos em cinco áreas distintas da capital acreana, mais precisamente parques abertos. A captura dos animais, autorizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi feita entre dezembro de 2022 e outubro de 2023.


Foram usadas redes de neblina, que são redes transparentes de seda/nylon usadas por biólogos para captura de aves e morcegos. Depois de capturados, os animais foram submetidos à anestesia e eutanásia para que fosse possível retirar o pulmão dos animais e analisá-lo.


Dos bichos capturados, 52,08%, ou seja, 50 das 96 amostras recolhidas, apresentaram estruturas compatíveis com leveduras de Histoplasma, que ocasiona a histoplasmose.


O pesquisador e mestre em Ciência Animal, Jhonatan Henrique Lima da Rocha, explicou ao g1 que o fungo que ocasiona a doença está presente na natureza, mas se concentra em locais onde há grande quantidade de fezes de aves e morcegos. Ou seja, só causa danos à saúde se houver contato com os esporos do fungo.


“Como esses animais [morcegos] usam regiões urbanas de abrigo, forro de casas e áreas abandonadas pode aumentar as chances de infecção”, explicou o médico veterinário.


Os resultados apresentam dados que apontam os morcegos como dispersores deste fungo, e compõem a dissertação intitulada “Detecção de Histoplasma capsulatum em morcegos (Mammalia: Chiroptera) no município de Rio Branco, Acre, Amazônia Ocidental”.


Incidência de morcegos

Com 181 espécies com ocorrência confirmada no país, os morcegos são o segundo grupo de espécies mais abundantes do Brasil, atrás apenas dos roedores. Estes mamíferos, de hábitos noturnos, são animais importantes para os ecossistemas, desempenhando muitas funções que vão do controle biológico até a polinização. No Acre, têm-se registro de 64 espécies.


Eles podem ser:


• insetívoros (se alimentam de insetos),
• frugívoros (se alimentam de frutos),
• nectarívoros (encontram alimento no néctar das flores),
• hematófagos (se alimentam de sangue),
• carnívoros (que se alimentam de outros vertebrados). A presença dos hematófagos é considerada rara em áreas urbanas.


No caso da histoplasmose, o morcego não a desenvolve, mas acaba atuando como ‘reservatório’. Ele carrega o fungo por meio dos esporos que se desenvolvem entre 20 a 30 dias, segundo o veterinário. Ele explica que ainda que é parecido ao fungo que se vê em pães estragados.


“As fezes do morcego favorecem o crescimento desse fungo nos locais. Como ele está presente no ambiente, o ar pode carrear [arrastar] esses esporos fúngicos, que são microscópicos, e isso ajuda a se desenvolver. Mas nem sempre, quando há a presença das fezes dos morcegos ou de aves, esse fungo vai se desenvolver. Depende também, por exemplo, da umidade, do local, da temperatura, que são questões favoráveis para o desenvolvimento de fungos”, explicou.


Segundo o Ministério da Saúde, há relatos históricos, desde 1996, de casos na América do Sul em países como Argentina, Venezuela, Equador, Paraguai, Uruguai, Colômbia e Brasil, tendo sido registradas em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso e Goiás. No entanto, não há integração da doença na lista nacional de doenças de notificação compulsória, ou seja, que há registros frequentes.


“Elas também não são objeto de vigilância epidemiológica, de rotina, com exceção de estados brasileiros que instituíram essa notificação de iniciativa do seu âmbito de gestão. Por isso, não existem dados epidemiológicos da ocorrência, magnitude e transcendência da histoplasmose em nível nacional”, diz o órgão.


Pesquisa de mestrado identificou presença de patógeno em morcegos da fauna acreana — Foto: Arquivo pessoal

Pesquisa de mestrado identificou presença de patógeno em morcegos da fauna acreana — Foto: Arquivo pessoal

Registros no Acre

No Acre, há registros da doença em humanos, segundo a Sesacre, mas sem relações diretas com morcegos até então. O pesquisador disse que um gato teve diagnóstico recente de histoplasmose identificado através de uma lesão, o que acende um alerta para que haja, no sistema de saúde local, um diagnóstico diferenciado e maior atenção a grupos de trabalhadores como limpadores de forro e jardineiros, que têm contato direto com poeira e podem aspirar esses esporos fúngicos.


Na região Norte, os estados como Amazonas e Pará também têm registros da doença, “o que pode significar que ocorre uma possível subnotificação ou diagnóstico insuficiente [no Acre], uma vez que a região apresenta todos os fatores predisponentes para o ciclo e manutenção do microrganismo, como a presença dos reservatórios, ambiente e clima favorável”, frisa a pesquisa.


As pessoas imunossuprimidas, que são pacientes com baixa imunidade também devem ter cuidado. O grupo considera os seguintes grupos como mais suscetível a possíveis infecções:


• Pessoas transplantadas de órgão sólido ou de medula óssea;
• Pessoas com HIV e CD4 <350 células/mm3; • Pessoas com doenças reumáticas imunomediadas sistêmicas em atividade e em uso de dose de prednisona ou equivalente > 10 mg/dia ou recebendo pulsoterapia com corticoide e/ou ciclofosfamida;
• Pessoas em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias;
• Pessoas com neoplasias hematológicas, como leucemias, linfomas e síndromes mielodisplásicas;
• Pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses.


Como agem as secretarias de Saúde e de Meio Ambiente

Para traçar estratégias de combate ao fungo, foi feita uma reunião no último dia 25 de junho para apresentar os resultados das pesquisas às autoridades de saúde locais, onde estiveram presentes membros da Sesacre e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia). Foram feitas também recomendações como ações de conscientização e capacitação dos profissionais de saúde.


A Sesacre afirmou que representantes da pasta participaram do encontro e que já existe o monitoramento de casos de histoplasmose no estado, orientado por meio da Nota Técnica 5/2023. Segundo eles, o foco se concentra majoritariamente no combate à criptococose [doença do pombo], que já teve casos devidamente constatados. O método de ação contra a histoplasmose é similar.


Na nota técnica, a secretaria destaca que “tal controle é tarefa complexa pois são animais com alta capacidade de adaptação aos ambientes urbanos onde há presença de resíduos e oferta de alimentos”.


“As estratégias de manejo do ambiente para evitar os morcegos são, até certo ponto, similares as dos pombos, a problemática também. O histoplasma é citado na nota trabalhada pelo Núcleo de Zoonoses”, comentou o coordenador do Núcleo de Zoonoses da Sesacre, Victor Luciano de Albuquerque Mattos.


“A nossa intenção é mais para alertar que tem a existência do patógeno [doença] no estado, que os profissionais da saúde consigam ter um novo diferencial ou um novo olhar em casos suspeitos, principalmente em locais onde as pessoas possam falar que teve contato com fezes de aves ou morcegos e ajudar a melhorar essa questão diagnóstica”, destacou o pesquisador.


O documento destaca ainda que as estratégias de combate à infestação por pombos e morcegos devem considerar:

• a redução da oferta de alimentos em espaços públicos;
• o controle dos resíduos e restos alimentares;
• as boas práticas quanto a manutenção da higiene do ambiente e a redução da presença de abrigos urbanos para os animais, especialmente em forros e telhados.


“Também há a recomendação de que seja efetuada a contratação de empresa especializada em serviço de desinsetização, desratização e despombalização para que seja efetuada a remoção mecânica dos animais, a limpeza dos ambientes contaminados, o controle biológico nos ambientes internos e externos, além da instalação de medidas preventivas como telas nos abrigos e vedações em frestas”, diz.


Já a Semeia disse que o órgão faz ações de limpeza de áreas onde há maior trânsito de pessoas, a fim de evitar acúmulo de fezes de morcegos e aves.


“Os locais de coleta dos morcegos foram trilhas naturais, onde há menor circulação. É importante ressaltar que aves e morcegos desempenham papel importante papel ecológico na manutenção e equilíbrio biológico da fauna e da flora, como presas e predadores e dispersores de sementes”, ressaltou.


Sintomas da doença incluem:

• Febre
• Tosse
• Fadiga
• Dores de cabeça
• Dores no peito
• Calafrios


Medidas de controle e prevenção

• Evitar a exposição direta ao fungo;
• Uso de máscaras e outros equipamentos de proteção individuais em locais de riscos;
• Higienizar locais com excesso de poeira e fezes de animais com uso de água e desinfetante;
• Em casos de sintomas, que costumam se desenvolver entre três a 17 dias após a inalação do fungo, procurar uma unidade de saúde.


 


 


 


 


 


Fonte: G1 Acre


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