Para realizar o estudo, os pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) para inspecionar a conectividade funcional — ou seja, como as regiões do cérebro interagem entre si — de participantes viciados na internet. Essas imagens foram colhidas tanto enquanto descansavam, quanto quando completavam uma tarefa.
Segundo o estudo, os efeitos da dependência de internet foram observados em múltiplas redes neurais no cérebro de adolescentes. Houve uma mistura de aumento e diminuição da atividade nas partes do cérebro que são ativadas durante o repouso (rede de modo padrão). Por outro lado, houve uma diminuição na conectividade funcional das regiões do cérebro envolvidas no pensamento ativo (rede de controle executivo).
Essas mudanças, segundo os pesquisadores, podem levar a um aumento da dependência em adolescentes e a mudanças de comportamento associadas à capacidade intelectual, coordenação física, saúde mental e desenvolvimento.
“A adolescência é um estágio crucial de desenvolvimento durante o qual as pessoas passam por mudanças significativas em sua biologia, cognição e personalidades. Como resultado, o cérebro fica particularmente vulnerável a impulsos relacionados ao vício em internet durante esse período, como uso compulsivo da internet, desejo pelo uso do mouse ou teclado e consumo de mídia”, explica Max Chang, estudante de mestrado na UCL Great Ormond Street Institute for Child Health e principal autor do estudo, em comunicado à imprensa.
“As descobertas do nosso estudo mostram que isso pode levar a mudanças comportamentais e de desenvolvimento potencialmente negativas que podem impactar a vida dos adolescentes. Por exemplo, eles podem ter dificuldades para manter relacionamentos e atividades sociais, mentir sobre atividades online e experimentar alimentação irregular e sono perturbado”, completa.
Possíveis soluções
O vício em internet é um problema crescente em todo o mundo, principalmente diante do maior acesso a smartphones e outros dispositivos eletrônicos. No Reino Unido, onde o estudo foi realizado, dos 50 milhões de internautas, mais de 60% afirmaram que o uso de internet teve algum efeito negativo nas suas vidas, segundo a Ofcom (órgão de comunicação do Reino Unido). Além disso, pesquisas já mostraram que mais da metade dos entrevistados declarou ser viciada em internet.
No Brasil, 25,3% dos adolescentes entrevistados por um levantamento da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) afirmou ser dependentes moderados ou graves de internet.
“Não há dúvida de que a Internet tem certas vantagens. Porém, quando começa a afetar nosso dia a dia, é um problema”, comenta Irene Lee, da UCL Great Ormond Street Institute for Child Health e autora sênior do estudo. “Aconselhamos que os jovens imponham limites de tempo razoáveis para a sua utilização diária da Internet e garantam que estão conscientes das implicações psicológicas e sociais de passar demasiado tempo online”, completa.
Os pesquisadores esperam que o estudo ajude a demonstrar como o vício em internet altera a conexão entre as redes cerebrais na adolescência e a permitir que os médicos rastreiem e tratem o início do vício em internet de forma mais eficaz.
“Os médicos poderiam prescrever tratamento direcionado a certas regiões do cérebro ou sugerir psicoterapia, ou terapia familiar visando os principais sintomas do vício em internet”, sugere Chang.
“É importante ressaltar que a educação dos pais sobre o vício em internet é outra via possível de prevenção do ponto de vista da saúde pública. Os pais que estão cientes dos primeiros sinais e do início do vício em internet lidarão com mais eficácia com o tempo de tela, a impulsividade e minimizarão os fatores de risco que cercam o vício em internet”, finaliza.