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Na corrida pela vida, doador de sangue salienta importância do gesto: ‘Faz bem para o nosso espírito’

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Sérgio Brazil se tornou doador após filho se recuperar de leucemia e ter precisado de doações durante o tratamento. Foto: Marcos Vicentti/Secom

Doar é o ato de transferir algo a alguém que precisa. Mas, em alguns casos, como a doação de sangue, esse ato é ainda mais simbólico, porque, além de ser o retrato da solidariedade, salva vidas. Uma bolsa de sangue ajuda até quatro pessoas. No Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado nesta sexta-feira, 14, doadores relatam como uma simples ação pode transformar vidas, não só de quem recebe, mas também de quem doa.


Era por volta de 9h de uma quarta-feira, quando João Vitor Alves, de 19 anos, compareceu ao Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemoacre) para doar pela primeira vez. Aluno do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR), ele conta que foi incentivado pelos amigos. O nervosismo de doar pela primeira vez, deu espaço ao sentimento de dever cumprido.


“Meus amigos me chamaram e eu vim, porque é importante. Hoje eu não preciso, mas um dia posso precisar. A gente pode salvar vidas com doação de sangue, então acho que é muito importante”, disse, ao relatar que a sua experiência foi tranquila e que pretende doar mais vezes.


Enquanto alguns doavam pela primeira vez, para o autônomo Valmar Farias esse ato é um hábito, já que o faz há 31 anos. O despertar para o voluntariado surgiu quando, na década de 90, sua ex-mulher foi diagnosticada com câncer e Valmar viu que alguns minutos de sua vida poderiam impactar na história de muitas pessoas.


“Esse tempo que passo aqui vai salvar a vida de alguém e isso me causa uma gratidão enorme. Tem pessoas que perdem muito tempo de vida sem fazer algo relevante, então por que não parar um pouco também para salvar vidas?”, questiona.


Além de doar, o autônomo usa as redes sociais para incentivar e conscientizar outras pessoas sobre a importância do ato. E agora tenta fazer com que o filho de 18 anos se torne também um doador.


“Todas as vezes que faço as doações, divulgo nas redes sociais e incentivo as pessoas a virem doar. Tiro dúvidas, desmistifico muita coisa e já trouxe até muito doador. O próximo, se Deus permitir, vai ser meu filho. Ele sempre diz que fica orgulhoso de mim por isso que eu faço”, conta.


João Vitor Alves, incentivado pelos amigos, decidiu fazer sua primeira doação de sangue. Foto: Marcos Vicentti/Secom

Um bem que não pode ser comprado

O professor Sérgio Brazil é figurinha carimbada no Hemoacre. Doador há oito anos, também orienta seus alunos a dedicarem um pouco do seu tempo e sangue a quem precisa. Ele se tornou doador por sentir a necessidade na pele. Em 2016, seu filho, hoje com 12 anos, foi diagnosticado com leucemia e precisou de doações.


O pai foi o primeiro a se colocar à disposição para o ato solidário, seguido de uma promessa: se o filho se curasse da doença, iria se tornar um doador permanente. Foi o que fez.


“Naquele momento, me apeguei à fé, fiz esse propósito e, desde então, sou doador regular. Meu filho está há cinco anos fora do tratamento, foi curado, graças a Deus, mas continuo doando para ajudar outras pessoas. Como sou professor, me tornei um ativista da doação de sangue. Então, na minha sala, sempre chamo meus alunos, inclusive tem alguns que se tornaram doadores.”


Para ele, o ato de doar um pouco a outras pessoas é a melhor definição de humanidade. Ao doar, o professor não só mudou a vida de quem recebe, mas relata que se sente um ser humano melhor.


“Se você for pensar, o sangue não se compra. Você pode ter milhões de reais, mas, para a doação ocorrer, você depende 100% da outra pessoa, da solidariedade. Desde que me tornei doador, tudo parece ter mais sentido, porque estamos aqui para ajudar o próximo. A doação de sangue, além de fazer bem para o nosso físico, faz bem também para o nosso espírito. Quando faço a doação de sangue, saio daqui mais leve, com a sensação de que fiz o bem. Isso é muito bom, é muito bom mesmo”, relata.


Enquanto aguardava para doar pela primeira vez, Sayonara Dantas via a movimentação de quem está habituado com o centro de captação sanguínea. O que a levou a doar foi a necessidade do pai, que passou por uma cirurgia. O estoque do Hemoacre supriu a necessidade da família, então ela sentiu que deveria repor esse estoque e proporcionar acalento para quem estivesse precisando naquele momento.


“Meu pai está precisando de sangue e por isso vim doar. A gente já conseguiu as bolsas, mas, mesmo assim achei importante vir fazer meu papel, porque depois que a gente passa pela situação, realmente vê que muitas pessoas precisam da doação”, conta, ao afirmar que deve se tornar uma doadora fidelizada a partir de agora.


Para o vigilante Grimaldo Silva, que doa há nove anos, poder ajudar alguém com sangue é um hábito e uma dádiva. “Faço a doação de dois em dois meses, às vezes demoro mais, se eu estiver com alguma gripe, ou algo que impeça, mas estou sempre aqui para ajudar. A gente ajuda as pessoas e também ajuda a nós mesmos, porque [o procedimento] renova nosso sangue. Agora, meu desafio está sendo encorajar meu filho, que já está na idade de doar, e quero que ele assuma essa missão de vir pra cá”, planeja.


Atualmente, são mais de 900 doações por mês; número deveria chegar a 1.102 para atender demanda atual. Foto: Marcos Vicentti/Secom

O impacto da doação

Se para quem doa a sensação é de cumprir seu papel de cidadão, de humano, para quem recebe, o sangue é vida, recomeço. Foi assim para Maria Cristina da Silva, que precisou de sangue para a retirada de um mioma há 13 anos. Muito debilitada na época, informada de que precisaria fazer a reposição de sangue, percebeu a importância de se ter doadores.


“Foi feita a transfusão de sangue na hora da cirurgia e deu tudo certo. Às vezes penso, ‘se não fosse a transfusão, o que teria sido de mim?’ Ter pessoas que se disponibilizam a doar é de suma importância para todos nós, porque a qualquer momento a gente pode precisar”, diz.


A empresária Claudia Castro também precisou mobilizar doadores em uma campanha para conseguir sangue para o pai, que passou por cirurgia de ponte de safena. “A gente foi mobilizando as pessoas pelas redes sociais, para conseguir o número de doadores necessários para a cirurgia do meu pai. E acabou tomando uma proporção bem grande, muitas pessoas compartilharam o pedido e desejaram coisas boas”, relembra.


Para quem recebe o sangue, a doação é um recomeço. Foto: cedida

Para ela, a experiência mostrou que, seja pelas redes sociais ou no “boca a boca”, as pessoas podem ser “influenciadores do bem” e fortalecer essa corrente.


“É sobre influenciar pessoas e também conscientizar e se colocar no lugar do próximo, porque nunca imaginamos ter que passar por isso, porque a gente sempre via campanhas de pessoas pedindo para arrecadar sangue e a gente precisou passar por isso para entender a importância de ser um doador, não só de sangue, mas de medula óssea e de órgãos. São coisas assim que nós, como seres humanos, deveríamos nos mobilizar mais para fazer”, avalia.


Mesmo conseguindo as bolsas necessárias para o pai, ela e as irmãs continuaram com a campanha, para que o máximo de pessoas possíveis fossem alcançadas.


O DJ Mauro Gomes Neto está se recuperando de um acidente que sofreu no fim do ano passado. Ele passa por cirurgias e precisou de bolsas de sangue pelo menos duas vezes. Sempre que necessário, a família faz campanha para atender a necessidade do jovem.


Sua tia, Amine Katiane de Freitas, relata como é importante realizar um ato simples, que leva um curto tempo do dia, mas, ao mesmo tempo, impacta na vida de centenas de famílias.


“A doação de sangue é um ato de solidariedade muito importante, que ajuda a salvar muitas vidas. É um gesto de amor ao próximo que pode gerar muitos sorrisos. É importante destacar que não há um substituto para o sangue e sua disponibilidade é essencial em diversas situações”, reforça.


Sérgio Brazil incentiva seus alunos a doarem sangue. Fotos: Marcos Vicentti/Secom

‘Multiplicação do bem’

A partir de uma bolsa, salvam-se até quatro vidas. A gerente de captação do Hemoacre, Ana Carolina Ramos, explica que essa é uma matemática que contribui para a qualidade de vida de centenas de pacientes que precisam de sangue para sobreviver. O resultado dessa equação é vida.


No Hemoacre, há doação de sangue e também de plaquetas. Os requisitos para as duas captações são praticamente os mesmos, porém, a captação de plaquetas é um pouco mais demorada e é feita por agendamento.


Ana explica que, em um cenário ideal, seriam necessárias 60 bolsas de sangue diariamente para manter o estoque em uma situação confortável, mas atualmente essa média diária fica em 32. Atualmente, o centro soma 910 doações por mês, quando o ideal seria uma média de 1.102. Muitas ações são feitas para que esse número seja maior, como relata a gestora.


“Quando alguém nos procura, a gente conscientiza, faz um trabalho de educação mesmo, para que essa pessoa se torne um doador fidelizado. A gente promove também as coletas externas com o nosso ônibus, para tentar diminuir qualquer dificuldade de locomoção”, esclarece.


A Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) tem apostado em campanhas educativas, que mostram os benefícios da doação de sangue para a manutenção de vidas no estado. Para Ana, é preciso que cada vez mais pessoas possam também multiplicar esse conhecimento.


“Todos os dias precisamos lembrar da importância dessa doação. Todo o processo leva de 30 a 40 minutos, e é esse tempo que você leva para salvar muitas pessoas. Então, é uma multiplicação do bem.”


‘Doação de sangue é um ato de amor’, diz a campanha do Hemoacre. Foto: Marcos Vicentti/Secom

Quem pode doar e como?

O primeiro passo é se dirigir ao núcleo de captação e fazer um cadastro. É importante destacar que o candidato a doador passa por uma triagem e alguns exames antes de ser considerado apto a doar.


Precisa estar saudável, bem alimentado, pesar acima de 50 kg, ter dormido bem na noite anterior, não ter ingerido bebida alcoólica nas 12 horas antes da doação, ter entre 16 e 69 anos de idade e apresentar um documento oficial com foto. O intervalo mínimo entre uma doação e outra é de dois meses para homens e três meses para mulheres.


Antes de doar, o Hemonúcleo oferece um lanche, pois a pessoa não pode estar de jejum, e depois da doação a pessoa deve se alimentar de novo.


Pessoas com febre, gripe ou resfriado, diarreia recente, grávidas e mulheres em período pós-parto não podem doar.


É importante lembrar que o governo do Estado tem algumas ações de incentivo, como isenção nas taxas de concurso público e, recentemente, sancionou a lei 4.312, que criou o Selo Empresa Solidária.


O assessor da presidência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), Egídio Garó, destacou que a lei fortalece um comportamento já adotado por muitas empresas acreanas. Completou afirmando ainda que a medida incentiva o papel social do setor comercial.


“É de grande relevância para as práticas solidárias em todas as empresas, de todos os tamanhos e setores da economia. A Federação do Comércio incentiva tais procedimentos e entende que o reconhecimento é fator motivante à prática da solidariedade”, observa.


Além de tudo, a doação de sangue é um ato essencial para garantir a saúde da população.  Durante o Junho Vermelho, várias atividades foram programadas pelo Hemoacre, mas é importante que a conscientização e esse gesto de humanidade sejam permanentes.


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