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Aeronáutica suspende investigação de avião que caiu em rio no Acre

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Foto: avião é retirado da água com ajuda de ribeirinhos, em Tarauacá I rede social/reprodução

O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou ao ac24horas que optou por interromper as investigações do acidente aéreo envolvendo um avião de matrícula PT-DFX, ocorrido em 20 de maio no município de Tarauacá, no interior do Acre. O avião, que tem capacidade para duas pessoas, tinha três ocupantes, apenas um ficou ferido, mas passa bem.


Segundo comunicado enviado ao ac24horas, o Decreto n° 9.540/2018 – que regula o funcionamento do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – SIPAER, a autoridade de investigação tem liberdade para decidir pela não instauração ou pela interrupção das investigações em andamento nas hipóteses em que “for constatado ato ilícito doloso relacionado à causalidade do sinistro” ou “se a investigação não trouxer proveito à prevenção de novos acidentes ou incidentes aeronáuticos”.


“Em razão de, no presente evento, ter sido considerada ao menos uma das hipóteses elencadas acima, a ocorrência envolvendo a aeronave de matrícula PT-DFX, no município de Tarauacá (AC), no dia 20 de maio de 2024, foi encerrada sem o desenvolvimento de uma investigação SIPAER. Dessa forma, não haverá a emissão de um Relatório Final”, disse o Centro de Comunicação à reportagem.


Entenda o acidente


O avião monomotor Cessna de prefixo PT-DFX saiu de Jordão (AC) para Tarauacá (AC), mas caiu no Rio Tarauacá a poucos minutos do aeroporto de destino. Três pessoas ocupavam o avião: o piloto Pedro Rodrigues; Wesley Evangelista Lopes (contratante do voo) e Genésio Rodrigues de Olinda. Este último foi socorrido por populares e levado ao hospital com uma fratura no nariz e foi liberado horas depois.


Genésio contou à imprensa que é morador do Jordão e pagou R$ 300 ao piloto da aeronave pela viagem até Tarauacá, onde o homem passaria por uma perícia médica. “[Depois do acidente] eles não queriam que ninguém filmasse nem tirasse foto. Como eu estava sangrando, tive que ser levado pelos moradores mesmo antes da chegada dos bombeiros”, disse. Ele contou ainda que viajou sentado em uma dos assentos do avião, enquanto o copiloto, que seria Wesley, viajava sentado no assoalho.


Já ao ac24horas, o piloto Pedro Rodrigues disse que viajava sozinho com Wesley – que também é piloto – e que Genésio passava na hora do acidente no rio e deve ter se machucado ao mergulhar na água para auxiliar no resgate: “Nunca vi ele, ele se machucou lá, tanto é que botaram ele num barco e ele foi pro hospital”.


De acordo com o Ministério Público Federal em Tefé, no Amazonas, Wesley Evangelista, contratante do voo, foi o responsável por, em 2018, coordenar uma operação milionária de tráfico internacional de drogas que buscou entorpecentes das mãos de – segundo uma testemunha ocular – guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Venezuela. A ação teria sido um sucesso se não fosse a perspicácia de policiais militares no pequeno município de Carauari, no Amazonas, que descobriram o esquema ao notar a presença e forasteiros na cidade e capturaram o avião com 458 kg de cocaína durante uma parada técnica no município amazonense.


O ac24horas obteve acesso a um documento produzido e juntado aos autos do processo pelo Ministério Público Federal, que menciona um trecho do testemunho de um dos criminosos presos na operação de Wesley: “Ao chegarem na Venezuela, EDWIN (um dos presos na operação) relatou que foram recepcionados por diversos indivíduos de nacionalidade colombiana, fortemente armados, fazendo uso de uniformes, que aparentavam ser guerrilheiros das FARC, os quais os conduziram para um acampamento na selva. Já com o carregamento de drogas no avião, partiram para a Bolívia, porém tiveram que parar em Carauari para reabastecer, quando foram surpreendidos por policiais militares que logo localizaram a droga e efetuaram a prisão”, diz o documento do MPF.


Wesley Evangelista, no entanto, acompanhava toda a operação por ligações de um telefone via satélite e só pôde ser encontrado em agosto de 2019, sob acusação de liderar um esquema criminoso que funcionava assim: Wesley comprava aviões para o transporte de drogas, colocava esses aviões em nome de terceiros (laranjas) para ter o seu próprio nome afastado das consequências do crime. Durante a operação que o prendeu no sul da Bahia, que contou com a Companhia de Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Mata Atlântica, 88ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) e a Polícia Federal, 7 aviões e 1 helicóptero foram apreendidos.


Neste processo, Wesley foi condenado a prisão por 10 anos, 9 meses e 9 dias, em 24/11/2020. Na decisão, o magistrado do caso ainda ressaltou que o condenado não possui direito à substituição da pena por restritiva de direitos, por ausência de requisitos. Menos de 4 anos depois da condenação, o condenado está em liberdade.


Pedro Rodrigues, contratado de Wesley para o voo, disse ao ac24horas que não conhecia o passado criminoso do colega de profissão. “O que eu sei é que ele me contratou para fazer um planejamento e depois para fazer o voo. Esse negócio desse passado dele só fui descobrir hoje [quarta-feira, 22 de maio], não aceitaria fazer coisa errada e muito menos voar fora de padrão. Sou especialista em segurança de voo, foram anos de investimento e não iria jogar tudo fora assim”, concluiu.


O delegado titular da Delegacia de Polícia Civil de Tarauacá, Ronério Silva, procurou ouvir Evangelista na condição de vítima de acidente aéreo, mas ele não foi encontrado. A suspeita do delegado é de que o voo poderia ser uma avaliação de viabilidade para o estabelecimento de uma nova rota do tráfico de drogas.


A reportagem entrou em contato com a advogada de defesa de Wesley Evangelista no processo a que tivemos acesso, mas ela disse não trabalhar mais no caso e nem conhecer o atual contato do ex-cliente.


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