Matheus Jeferson Fonte de Souza, de 26 anos, um dos sobreviventes da queda de um avião em Manoel Urbano, no interior do Acre, no dia 18 de março, recebeu alta do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), em Manaus, e está voltando para o estado acreano acompanhado da mãe, Raimunda Fonte.
👉 Contexto: Sete pessoas estavam a bordo da aeronave que caiu após decolar, incluindo o piloto, sendo quatro homens e três mulheres. Eles seguiam para a cidade de Santa Rosa do Purus, distante 150 km do município de onde decolaram. Sidney Estuardo Hoyle Vega, comerciante peruano, morreu no acidente. Nove dias depois, Suanne Camelo morreu em Manaus (AM).
A informação foi confirmada ao g1 na noite desta sexta-feira (5) pelo Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto e pela irmã do rapaz, Daiane Matos. Matheus de Souza saiu do hospital nessa quinta (4).
Já nesta sexta, o jovem embarcou com a mãe para Rio Branco, capital do Acre. Amigos, familiares e conhecidos preparam uma recepção especial para recebê-lo no aeroporto.
“Ele saiu de Brasília agora há pouco, aí vai retornar pra cá. Vamos recebê-lo. Para a gente é um momento de alegria receber ele de volta com vida, com saúde, graças a Deus. Lamentamos muito pela perda da esposa dele, mas é a vontade de Deus. Agora é se concentrar na recuperação dele”, disse Daiane.
A irmã explicou que ainda não sabe se o rapaz ficou com alguma sequela e se ele vai precisar seguir com algum tratamento. Ainda segundo Daiane, Matheus deve se mudar de Santa Rosa do Purus, onde morava, para a capital acreana.
“Ele vai vai fazer acompanhamento, eu acredito, que com psicólogos e fisioterapia. Ele está ciente da morte da esposa, está muito triste e abalado”, resumiu.
Pulou do avião
Em entrevista ao g1, no último dia 30, Francisca Raimunda de Fonte, mãe do jovem, contou sobre a conversa que teve com o filho. “Ele é acostumado a fazer academia, era soldado do quartel, tem boa estrutura. Quando ele viu que o avião ia caindo, quando ele viu que ia cair mesmo, ele disse que estava bem pertinho da porta, aí ele abriu a porta e aí ele pulou. Ele luxou a clavícula nesse momento”, diz.
A mãe narra que, na conversa, o filho disse que o avião incendiou assim que atingiu o solo. “Aí ele já viu o fogo e pulou dentro do fogo para tirar a mulher dele, por isso que ele se queimou, porque entrou pra pegar a mulher”, fala.
No primeiro momento, o jovem não tinha percebido a gravidade dos ferimentos em Suanne, com quem ainda teria conseguido conversar. “Ela agradeceu muito ele. Na hora que ele tirou [Suanne do avião] viu que ela estava queimada, mas não percebeu que era muito, que fosse levar à morte dela”, conta Francisca.
Matheus contou ainda que ele e o outro sobrevivente, Bruno, que também conseguiu retirar a esposa, a biomédica Amélia Marques, teriam retornado à aeronave para retirar outros sobreviventes. “Aí ele disse que ainda tirou outra pessoa e ainda tentou tirar outro, que era o piloto do avião”, diz a mãe de Matheus.
Matheus disse também para a mãe que ao perceber que o fogo estava queimando suas roupas, se jogou dentro de uma poça de lama para tentar apagar. De acordo com Francisca, o filho teve queimaduras em uma perna inteira, em um braço, na axila, rosto, barriga e costas.
Tratamento em Manaus
Matheus foi transferido no último dia 25 de março para o (CTQ), em Manaus, para receber assistência no tratamento das queimaduras sofridas no acidente. A família dele divulgou uma ação solidária para custear despesas dele e da mãe que o acompanha desde que ele foi transferido para o CTQ do Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto em Manaus.
No CTQ, a cada três dias é feita a limpeza dos ferimentos de Matheus e colocadas novas bandagens para proteger as queimaduras.
A esposa de Matheus, Suanne Camelo, de 30 anos, morreu no dia 27 de março. Ela é a segunda vítima fatal da queda do avião. A jovem também havia sido transferida para o CTQ de Manaus no último sábado (23). Desde a queda, ela estava em unidades de terapia intensiva (UTI).
Sobre a morte da esposa, Francisca foi a encarregada de contar a notícia para Matheus. “Ele já sabe da morte dela, contei ontem [quarta-feira, 27]. Ele passou o dia chorando ontem e hoje pelo acontecido”, diz.
Os dois viviam em Santa Rosa do Purus e estavam voltando para casa quando sofreram o acidente.
Quadro dos demais pacientes
O Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, no Amazona, confirmou, nesta sexta-feira, que o piloto do avião Valdir Roney de Souza Mendes, de 59 anos, e a biomédica Amélia Cristina Rocha Marques, de 28 continuam internados na UTI do Centro de Tratamento de Queimados ‘recebendo todos os cuidados da equipe multiprofissional’.
A biomédica foi extubada no dia 25 de março. A informação foi confirmada ao g1 pelo irmão de Amélia, Pedro Lucas, que a acompanha no estado vizinho.
O marido de Amélia, Bruno Fernando dos Santos, e a adolescente indígena Deonicilia Salomão Kalisto Kaxinawa, de 15 anos, que tiveram ferimentos mais leves e não precisaram deixar o Acre, já receberam alta.
O avião Cessna Skylane 182 tinha capacidade para transportar, no máximo, quatro pessoas. Entretanto, seis passageiros e o piloto estavam dentro da aeronave no momento da queda. Além disso, o avião não tinha autorização para atuar como táxi aéreo.
Quais as causas do acidente?
Ainda não há informações sobre possíveis causas para a queda do Cessna Skyline 182. De acordo com o governo do Acre, o avião caiu logo após a decolagem, a 1 quilômetro da cabeceira da pista de Manoel Urbano (veja o mapa abaixo).
O g1 questionou o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) se as causas do acidente serão investigadas. Em nota, o órgão disse que os investigadores do Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VII), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), foram acionados para realizar a ‘Ação Inicial da ocorrência’ envolvendo a aeronave.
“Na Ação Inicial são utilizadas técnicas específicas, conduzidas por pessoal qualificado e credenciado que realiza a coleta e a confirmação de dados, a preservação dos elementos da investigação, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias à investigação. A conclusão da investigação terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”, complementa a nota.
Qual era a situação do avião?
O avião Cessna Skylane 182 que caiu após decolar de Manoel Urbano, tinha capacidade para transportar no máximo quatro pessoas. Entretanto, seis passageiros e o piloto estavam dentro da aeronave no momento da queda. Além disso, o veículo, que seguia rumo a Santa Rosa do Purus, não tinha autorização para atuar como táxi aéreo.
Fonte: G1 Acre