Indígenas e ribeirinhos são mais excluídos nas enchentes, afirmam lideranças

Foto: Jovens da Comunidade Hené Bariá


 


Em entrevista para agência Amazônia Real, reproduzida pelo site Brasil de Fato, uma das maiores lideranças indígenas do Acre, o cacique e ativista ambiental Ninawa Inu Huni Kui, afirmou que a segunda grande cheia em nove anos demonstra que os governos federal, estadual e prefeituras estão despreparados diante da urgência climática, e que as populações que ficam mais desassistidas são os indígenas e os ribeirinhos.


“Como o Estado não está preparado para enfrentar esse tipo de situação [crise climática], que é urgente na Amazônia, principalmente os municípios que também não têm essas condições de atender a população do município, você imagina a zona rural e as comunidades indígenas? Essas populações ficam muito vulneráveis e também desassistidas do poder público. Às vezes até querem dar um apoio para socorrer, porém, não tem uma infraestrutura suficiente”, disse o líder Ninawa Huni Kui.


O cacique afirmou que, nos últimos quatro anos, o Acre tem sofrido momentos pontuais atípicos como as enchentes e secas extremas, que têm afetado diretamente os territórios indígenas, além dos não-indígenas (ribeirinhos e a população urbana).


“São mudanças climáticas bruscas. Primeiro são famílias desabrigadas de suas casas e, às vezes, perdem as casas. Quando voltam, estão totalmente comprometidas. E as pessoas ficam sem moradia por um período”, relatou Ninawa Huni Kuin.


Insegurança alimentar


O cacique Ninawa Huni Kui vive na Aldeia Iskuyá, no território Hené Bariá, localizado no município de Feijó, banhado pelo rio Envira. Lá, as águas transbordaram no dia 23 de fevereiro. Ele faz um alerta sobre a falta de água potável e a contaminação das fontes hídricas, além do risco de doenças, como diarreia e leptospirose.


“Essa é a primeira enchente com grande grau de destruição para a população indígena. É uma situação de perigo e causa grande sufoco. Nós já vivemos num ambiente amazônico que a maioria da água potável está poluída. E com as enchentes isso só aumenta o comprometimento da água tratada dentro dessas comunidades. Também aumentam outros tipos de enfermidade de pele, de respiração por conta do do mau cheiro dos resíduos que são arrastados pelas enchentes, para dentro dessas comunidades”, disse Ninawa Huni Kui.


A população indígena afetada pela cheia é de 1.367 famílias, segundo o Distrito Sanitário Indígena (Dsei) Alto Rio Juruá, órgão ligado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. A inundação atingiu 88 aldeias, localizadas nas regiões dos Polos Base de Saúde: Jordão (com 698 famílias), próximo à fronteira do Peru; Tarauacá (23 famílias), Feijó (269 famílias); e Marechal Thaumaturgo (377 famílias).


Em Rio Branco, segundo a Secretaria de Povos Indígenas do Estado (Sepi), 21 famílias indígenas estão abrigadas na Escola Estadual Leôncio de Carvalho.


O Acre tem uma população de 830.018 habitantes, sendo 31.699 pessoas indígenas, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2023. A etnia Huni Kuin é a maior população indígena vivendo em cinco municípios: mais de 14 mil nos 12 territórios estão situadas 120 aldeias, margeadas por sete rios, localizados nos municípios de Marechal Thaumaturgo Jordão, Tarauacá, Feijó e Santa Rosa do Purus.


‘Uma guerra da natureza’


Outra grande liderança do Acre, o cacique Ibã Huni Kuin, disse à Amazônia Real que após três dias de chuva intensa, recebeu informações de que a enchente havia afetado sua casa, na aldeia Xiku Kurumim, localizada na Terra Indígena do Alto Rio Jordão, no município do Jordão.


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