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Enchente atinge mais de 120 mil pessoas no Acre e já é considerada, proporcionalmente, o maior desastre ambiental do estado

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A cheia dos rios em todo o Acre tem castigado o estado há mais uma semana. Mesmo com algumas bacias em vazante, algumas cidades, inclusive Rio Branco, ainda estão em alerta devido ao nível do manancial. No caso da capital, já é registrada a segunda maior cheia da história.


Rio Branco registra a segunda maior enchente da história. Foto: Pedro Devani/Secom

Na avaliação dos órgãos de Proteção e Defesa Civil do Estado, este já pode ser considerado o maior desastre ambiental do Acre, devido ao número de cidades atingidas. Das 22 cidades, 19 estão em emergência, o que configura 86% do estado. O número de atingidos, que engloba todos os afetados pela cheia, independente de serem desalojados ou desabrigados, já ultrapassa os 120 mil.


Das 22 cidades, 19 estão em emergência. Foto: Josciney Bastos/Secom

O rio se mantém acima dos 17 metros desde o dia 29 de fevereiro. Desde então, o governo tem se articulado com os demais poderes, municipal e federal, para dar assistência às famílias. Desde o decreto de emergência publicado pelo governador Gladson Cameli e reconhecido pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, já foram liberados mais de R$ 20 milhões em recursos para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, tanto na capital quanto no interior do estado.


“Em termos de dimensões, o número de municípios atingidos é o maior desastre já registrado em todo o estado do Acre. Com relação ao município de Rio Branco, é a segunda maior cheia, mas, se for tomar as proporções, é o maior desastre ambiental que nós já tivemos”, destacou o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Charles Santos.


Para a Defesa Civil, tecnicamente, existem os desabrigados, que são as pessoas que precisam sair de suas casas para ir aos abrigos; os desalojados, que saem de casa, mas ficam em casa de amigos ou parentes; e os atingidos, que é qualquer morador que teve sua rotina mudada devido à cheia dos rios.


O momento ainda é de precaução, segundo o comandante. Com as áreas alagadas, há risco de incidentes com rede elétrica, animais que procuram abrigo e também pessoas que acabam se afogando nesses mananciais.


Segundo o Corpo de Bombeiros, o momento ainda é de atenção. Foto: Josciney Bastos/Secom

“Estamos num período ainda muito delicado, onde as pessoas têm que tomar conta principalmente da sua vida. Neste momento, não tem espaço para brincadeiras, pois o perigo está ao nosso lado. Animais estarão saindo do seu ambiente normal, procurando segurança, e muitas vezes esse local será nossa residência. Ao entrar e sair de casas atingidas, você não está visualizando onde está pisando e poderá sofrer um incidente”, destacou o coronel.


Ele destaca ainda o deslocamento, que está comprometido, e também o abastecimento de água potável. “É preciso ter o devido cuidado, tanto na gestão de alimentos como de água, ou seja, todo o cuidado é necessário nesse momento, que é extremamente delicado”, pontuou.


Cheia na capital já é a segunda maior registrada desde 1971. Foto: Diego Gurgel/Secom

Com base nos dados de ocorrências disponibilizado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC), nas 14 cidades mais críticas há 97 abrigos públicos atendendo 9.954 pessoas desabrigadas. Ainda há 17.480 pessoas desalojadas, ou seja, que foram para casa de familiares ou amigos. Além disso, em Cruzeiro do Sul, 12.000 pessoas foram atingidas pela cheia do Rio Juruá.


Dados

A Secretaria do Meio Ambiente (Sema), por meio do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma), reúne todos os dados necessários para se ter a dimensão da cheia em diversas frentes.


Esse levantamento não só respalda a tomada de decisões do governo, como também dimensiona o impacto desses eventos extremos, seja em uma enchente ou seca severa.


A titular da Sema, Julie Messias, destaca que todas as análises são feitas minuciosamente e envolvem todas as secretarias de Estado.


“Compreender esse evento extremo, que afeta 19 dos 22 municípios do Acre, requer análise multifacetada. Estamos examinando dados meteorológicos, padrões climáticos e históricos de eventos similares. Além disso, a avaliação do impacto socioeconômico, ambiental e de infraestrutura fornece insights essenciais. Desta forma, várias instituições do governo estão mobilizadas para uma compreensão holística e para informar estratégias de mitigação e adaptação”, explicou.


Cigma reúne informações que respaldam tomada de decisões do governo. Foto: Caroline Felix/Sema

Estado de emergência permanente

Ao visitar o Acre nessa segunda-feira, 4, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, defendeu o estado de emergência permanente para as áreas que têm sofrido constantes desastres naturais.


Ela destacou que eventos extremos têm sido registrados não só no Acre, mas em outros estados do país e que análises são feitas pensando em uma maneira de tornar o socorro mais ágil, uma vez que o decreto de emergência atualmente é publicado quando o fenômeno natural já está em curso.


O plano, se colocado em prática, abrangeria mais de mil cidades de todo o país.


“Tenho que dizer que seria uma ação pioneira, porque você tem emergência quando o acontecido já está em curso, aí você decreta emergência. O que nós estamos trabalhando é para que haja uma modificação na lei para que você possa decretar a emergência climática em caráter permanente nesses municípios que foram identificados e pesquisados pelo Centro de Pesquisa Meteorológica do Brasil durante 12 anos. Você tem uma série histórica de 12 anos mostrando que nesses mais de mil municípios você tem esses eventos recorrentes. Aqui no estado do Acre nós temos alguns desses municípios, mas obviamente não dá para dizer se é esse ou aquele, porque vamos fechar essa lista de forma muito criteriosa, com base em evidências”, destacou a ministra.


Ministra Marina Silva esteve no Acre nesta segunda-feira. Foto: Neto Lucena/Secom

São nove ministérios envolvidos neste estudo e, caso o plano seja aprovado, seria um modelo para outros países que vêm sofrendo também com as mudanças climáticas.


“É um trabalho que vai precisar da ajuda do Congresso, dos nossos parlamentares, para poder fazer essa modificação. É um trabalho difícil, complexo, porque tem que mudar a lei, tem que mudar o plano diretor em algumas cidades, tem que mudar protocolos de construção e uma série de fatores, e não é fácil você fazer essas modificações, mas foi uma ideia que tivemos exatamente para sair do emergencial e ir para o estrutural”, pontuou.


Governo tem enviado alimentos para cidades atingidas. Foto: Marcos Vicentti/ Secom

A mão do Estado

O tamanho do desastre é proporcional aos esforços coordenados por equipes do governo estadual. Desde o início das inundações, o governador Gladson Cameli mobilizou secretários e presidentes de autarquias para cada regional afetada pela cheia. As equipes também levaram toneladas de alimentos e outros suprimentos para as cidades atingidas. 


Nessas equipes, eles coordenam ações e agilizam medidas para ajudar na assistência às famílias. Também foram destacadas equipes do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil para orientar prefeituras na elaboração de decretos e procedimentos a serem tomados para acessar recursos federais.


A Defesa Civil Nacional também enviou equipe para este momento de socorro e agora mobiliza um grupo de trabalhadores para a etapa de recuperação.


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