O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai buscar, neste segundo ano do mandato, dialogar com eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada após pesquisas de opinião apontarem dificuldade do presidente em aumentar sua popularidade.
O Palácio do Planalto tem consciência da dificuldade da missão. Acredita, no entanto, que o impacto de políticas públicas voltadas para setores que outrora apoiaram Bolsonaro pode ser o grande trunfo da gestão petista.
A estratégia mira evangélicos, setores do agronegócio e integrantes das forças de segurança e das Forças Armadas. Outro público-alvo são os chamados trabalhadores “precarizados”, como motoristas de aplicativos.
Em ano de eleição municipal, os aliados de Lula apostam também em discursos contra a polarização e defesa da unificação do país.
Nesse sentido, o governo lançou em dezembro a campanha “O Brasil é um Só Povo”. A peça publicitária divulgou ações com referências ao eleitorado bolsonarista.
Há trechos de vídeos em que atores comemoram as iniciativas com frases típicas, por exemplo, do público evangélico. Pesquisas internas identificam resistência especial por parte desse grupo.
Na propaganda sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma mulher comemora que um familiar conseguiu um emprego em obras do programa: “Graça alcançada, Senhor”, diz.
O agradecimento cristão também é utilizado em um vídeo sobre o Bolsa Família. A atriz agradece o benefício dizendo: “Graças a Deus”.
Na propaganda sobre o Minha Casa, Minha Vida, um pai de família celebra que um vizinho conseguiu a casa própria: “Ô, glória!”
As peças se encerram com a seguinte frase: “Querer o melhor para nossos filhos, isso é o que nos une”.
Outra demonstração da tentativa de aproximação foi percebida em viagem do presidente ao Espírito Santo em dezembro, quando Lula falou diretamente aos evangélicos.
“Se preparem, porque a gente vai provar que o que resolve o problema de um povo não é a instigação ao ódio, utilizando a boa-fé do povo evangélico para mentir, para dizer que a gente ia fechar igreja, que a gente ia fazer banheiro unissex. Eles têm que saber de uma coisa: se tem um cara nesse país que acredita em Deus, é esse que está vos falando aqui”, destacou.
Ainda no último mês de 2023, durante a Conferência Nacional do PT, Lula alertou aos integrantes do partido a necessidade de “aprender a construir um discurso” para os evangélicos.
Na ocasião, o presidente também falou aos militantes que a polarização vista na última eleição deve continuar no próximo ano.
“Vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando as eleições nos municípios”, apontou.