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Estiagem seca poços de casas e crise já afeta lençol freático: “Rio Acre virou igarapé”

FOTO: WHIDY MELO/AC24HORAS


 


Uma solução tradicional para o problema do abastecimento de água em Rio Branco, o poço, pode estar com os dias contados e acompanha a decadência do rio Acre. A perfuração de poços, popularmente compreendida como uma alternativa à água tratada do rio, que agoniza em níveis cada vez mais baixos, também dá sinal de que como na superfície, o lençol freático – no subterrâneo – também está sendo modificado.


Ao ouvir perfuradores de poços e autoridades responsáveis pelo abastecimento de água na capital e defesa civil, o ac24horas evidencia aquilo que não é escondido, mas que é pouco pensado: a água potável que abastece as casas, no pulmão do mundo – a Amazônia, pode acabar em nove anos.


Imagem do Rio Acre feita por drone do ac24horas – FOTO: WHIDY MELO

Segundo o diretor presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco – SAERB, Enoque Pereira, populares com poços em casa estão retornando para depender do sistema público, já que seus poços estão secando. “Isso demonstra que a discussão sobre a água é urgente”, disse.


Enoque citou um projeto da Prefeitura de Rio Branco, em fase de estudos, que pretende perfurar poços de 800m para tentar amenizar o esforço sobre as estações de tratamento de água, que usam captação do rio. A solução, no entanto, é vista com ceticismo por perfuradores de poços ouvidos na reportagem: “se você cavar 50 metros, vai encontrar pedras, gesso, e encontrando água pode ser salobra ou salgada. Além disso, você tirar 1,6l mil por segundo de um rio é uma coisa, tirar isso de um poço você tira tudo em 5 segundos e aí depois? Vai esperar encher de novo?”, questionou um profissional.


Diego Paiva, perfurador de poços há 8 anos – FOTO: WHIDY MELO

Diego Paiva, perfurador há 8 anos, disse que a solução proposta pela Prefeitura só pode dar certo se houver uma integração inteligente entre as captações dos poços com as Estações de Tratamento: “não precisa dessa monstruosidade de poços de 200 ou 800 metros. Se fizer 10 poços na região do segundo distrito da cidade, abastece toda aquela região com os 10 poços, com gestão inteligente é o suficiente. Aquele esforço de captação que você demandava com bombas pra aquela região, já pode ser empenhada para melhorar o abastecimento no primeiro distrito, que é muito mais crítico e tem bairros mais altos”.


Não é só o SAERB que tem dificuldade para fazer pingar água nas torneiras. Perfuradores de poços chegam a rejeitar ofertas de trabalho, por saber que em certas regiões o esforço e o dinheiro do cliente serão jogados no lixo: “você fura 20 metros e o barro continua seco como se estivesse no sol. É impressionante”, diz Francisco Adeildo.



Tal situação poderia ser interpretada como uma anomalia natural do solo, um lençol mais profundo, mas os poços estão secando e camadas de areia que deveriam aparecer molhadas na broca de perfuração dos escavadores estão vindo à superfície, enxutas: “lugares onde tinha água porque já furamos no passado, não tem mais. Colocamos uma broca, ultrapassamos a faixa do lençol e não sai nada”, comentou Francisco.


O Tenente-Coronel Cláudio Falcão, coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, disse que pensar na escavação de poços como uma alternativa à captação do rio deve ser embasada em estudos científicos: “os rios estão secando e os poços também. Isso pode indicar que o lençol freático também está secando, ou seja, não adianta pensar que está tudo bem o rio secar que temos poços. Temos que pensar em salvar o rio Acre e com urgência, sob pena de em nove anos termos uma cidade com problemas constantes e desabastecida de água”.


Tenente-Coronel Cláudio Falcão, coordenador da Defesa Civil de Rio Branco – FOTO: WHIDY MELO

Prova das mudanças nas águas de Rio Branco foi a enxurrada que atingiu o rio Acre em março, sinalizando uma mudança drástica na principal fonte dos rio-branquenses e de outras 7 cidades do Acre. “O rio Acre não tem mais característica de rio, virou um igarapé. Este ano, em 24 horas ele encheu 8 metros. Isso só acontece em igarapés”, concluiu Cláudio Falcão.


 


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