A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro ouve nesta terça-feira (3), às 9h, o depoimento de Argino Bedin, empresário investigado como financiador dos atos criminosos que resultaram na depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Conhecido como “pai da soja” em Mato Grosso, Bedin é sócio de ao menos nove empresas e, em dezembro de 2022, foi alvo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Moraes bloqueou a conta do empresário, de outras nove pessoas e 33 empresas, numa investigação pelo financiamento dos atos que fecharam rodovias em todo o Brasil após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais.
Assim como outros depoentes, Bedin entrou com um pedido de habeas corpus no STF para não comparecer à CPMI. O ministro Dias Toffoli, porém, concedeu parcialmente o pedido, mantendo a obrigação do comparecimento, mas permitindo que ele permaneça em silêncio.
No habeas corpus, a defesa alegou que o inquérito em que figura o empresário e os fatos investigados “antecedem em muito o dia 8 de janeiro de 2023 e não há relação de um com o outro”.
“Isso pode ser facilmente verificado, pois o paciente teve suas contas bloqueadas em 12 de novembro 2022, o que afasta qualquer possibilidade de o paciente ser apontado como financiador dos atos antidemocráticos ocorridos dois meses depois, dada à impossibilidade material”, afirmaram.
O depoimento de Argino Bedin à CPMI é um dos últimos movimentos do colegiado, que está na reta final. O interesse pelos trabalhos da comissão diminuiu nas últimas semanas, tanto entre os parlamentares governistas quanto entre os de oposição.
Na quinta (5), está previsto o depoimento de Beroaldo José de Freitas Júnior, policial militar que atuou no dia oito de janeiro e foi arremessado do alto da cúpula do Congresso por parte dos manifestantes.
Parlamentares da base governista ouvidos pela CNN avaliam que o depoimento do policial militar pode ser cancelado pelo presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), porque não acrescentaria novidades ao relatório final.
Com isso, os trabalhos da CPMI seriam esvaziados e os esforços estariam concentrados na elaboração do relatório, sob responsabilidade da senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Parlamentares governistas avaliam que a CPMI não tem mais razão de existir, já que há investigações avançadas sobre o 8 de janeiro em várias frentes, incluindo a delação do tenente-coronel Mauro Cid.
Com isso, o ímpeto para aprovar a convocação do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, diminuiu. Garnier teria participado de um encontro com Bolsonaro para discutir um suposto plano de intervenção militar, informação revelada durante a delação de Cid.
Já a oposição segue insistindo na tentativa de convocar um representante da Força Nacional, mesmo entendendo que não há acordo. A expectativa da minoria na comissão é pela apresentação de um relatório paralelo, que está sendo redigido pelo deputado Delegado Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O relatório final, elaborado pela senadora Eliziane, deve ser entregue no dia 17 de outubro e votado dois dias depois. Até lá, estão previstas mais duas audiências.
Além do depoimento do policial militar, a outra sessão está agendada para o próximo dia 10, terça-feira da semana do feriado de Nossa Senhora Aparecida. Esta última também corre o risco de ser cancelada devido ao baixo quórum, uma vez que nas semanas de feriado o Congresso Nacional costuma ficar vazio.