Homem recebe coração de um porco, e o órgão funciona bem

Aos 58 anos, um veterano da marinha norte-americana tornou-se o segundo paciente no mundo a receber um transplante bem-sucedido de coração de porco — órgão que foi geneticamente modificado para o procedimento. A cirurgia foi realizada na quinta-feira e divulgada, ontem, pelo Centro Médico da Universidade de Maryland (UMMC), mesma instituição responsável pela primeira do tipo. O homem tinha uma doença cardíaca terminal.


A primeira cirurgia histórica, em janeiro de 2022, foi realizada em David Bennett, que morreu em julho do ano passado devido a uma falência cardíaca. O novo paciente, Lawrence Faucette, era inelegível para transplante tradicional em função de uma doença vascular periférica preexistente e de complicações com hemorragia interna.


O transplante do órgão de outra espécie, chamado xenotransplante, era a única opção disponível. Segundo o UMMC, Faucette respira sozinho e seu coração funciona bem, sem necessidade de dispositivos de suporte. “Minha única esperança real é optar pelo coração de porco”, disse ele, alguns dias antes de sua cirurgia. “Agora, tenho esperança e tenho uma chance.”


A agência regulatória Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, concedeu aprovação emergencial para a cirurgia em 15 de setembro, por meio do mecanismo de uso compassivo. O processo é utilizado quando um produto médico experimental — nesse caso, o coração de porco geneticamente modificado — é a única opção disponível para uma pessoa que enfrenta uma condição médica grave ou potencialmente fatal.


“Estamos, mais uma vez, oferecendo a um paciente terminal uma chance de uma vida mais longa e somos extremamente gratos ao Sr. Faucette por sua bravura e disposição em ajudar a aprimorar nosso conhecimento nesse campo”, disse Bartley P. Griffith, que transplantou o coração de porco tanto neste paciente quanto em David Bennett. “Temos esperança de que ele volte para casa em breve para aproveitar mais tempo com sua esposa e o resto de sua amorosa família.”


“Continuamos buscando o caminho para os ensaios clínicos, fornecendo novos dados importantes sobre pesquisas pré-clínicas solicitadas pelo FDA”, afirmou Muhammad M. Mohiuddin, um dos maiores especialistas mundiais em xenotransplante e diretor científico do programa no UMMC. “O FDA utilizou os dados desses novos estudos, bem como a nossa experiência com o primeiro paciente, para determinar que estávamos prontos para tentar um segundo transplante em um paciente que não tinha outras opções de tratamento”, contou.


Riscos

O transplante de órgãos de animais poderia salvar milhares de vidas, mas ainda acarreta muitos riscos. Além do medo de transmitir um patógeno desconhecido do animal para o ser humano, os xenotransplantes têm maior probabilidade de desencadear uma resposta imunológica perigosa, o que resultaria em uma rejeição imediata do órgão, com um resultado potencialmente letal.


Para minimizar os riscos, três genes — responsáveis por uma rápida rejeição — foram eliminados no porco doador. Seis genes humanos que melhoram a aceitação imunológica foram inseridos no genoma do animal. Por fim, uma proteína adicional foi retirada para evitar o crescimento excessivo do tecido cardíaco. No total, os cientistas realizaram 10 edições genéticas únicas.


Os médicos estão tratando o paciente com uma nova terapia de anticorpos, juntamente com medicamentos convencionais contra rejeição, projetados para suprimir o sistema imunológico e evitar que o corpo danifique ou rejeite o órgão estranho. A nova terapia é feita com uma substância experimental denominada tegoprubart. Ela bloqueia o CD154, uma proteína envolvida na ativação das defesas naturais do organismo.


Segundo a equipe cirúrgica, o coração do porco funcionou bem, e o paciente não mostrou sinais de rejeição imunológica hiperaguda. Ele será monitorado de perto em busca de evidências de infecções derivadas de suínos. Antes do transplante, o porco doador foi examinado para detectar múltiplos vírus, bactérias e parasitas, e os testes não revelaram a presença de patógenos. As próximas semanas serão cruciais para determinar se o corpo de Faucette continuará tolerando o órgão transplantado.


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