Basta dar 4 mil passos por dia para viver mais, diz pesquisa

O número de passos que uma pessoa precisa dar diariamente para começar a cuidar da saúde é menor do que se pensava. O maior estudo feito até o momento sobre o tema mostra que com menos de 4 mil passos — não os tradicionais 10 mil — já é possível usufruir dos benefícios. Segundo a pesquisa, 3.967 passos por dia reduzem o risco de morte por qualquer causa. Uma quantidade ainda menor, 2.337, reduz a chance de falecimento em decorrência de doenças cardiovasculares.


O artigo publicado, nesta terça-feira (08/08), na revista European Journal of Preventive Cardiology mostra também que, quanto mais se caminha, maior a proteção. Um aumento de mil passos diários, por exemplo, se associou à diminuição de 15% no risco de óbito por qualquer razão. Enquanto um incremento de 500 passos esteve relacionado a uma queda de 7% na possibilidade de perder a vida devido a complicações cardiovasculares.


De forma geral, quem dá 5.537 passos diários tem um risco 48% menor de morte do que quem caminha 3.967, que é considerado o mínimo de proteção para óbito por todas as causas. Em pessoas com 60 anos ou mais, porém, os impactos na vulnerabilidade foram menores. A equipe observou redução de 42% no risco de óbito entre idosos que caminhavam entre 6 mil e 10 mil passos por dia e queda 49% quando considerou apenas voluntários mais jovens e com o hábito de caminhar de 7 mil a 13 mil passos.


Para chegar às conclusões, os cientistas analisaram informações de 226.889 indivíduos, participantes de 17 estudos em diversos países, colhidas ao longo de sete anos. Maciej Banach, líder do estudo, enfatiza que a mensagem principal do trabalho é de que o cuidado com a saúde demanda menos esforço do que o imaginado. “Tanto para a mortalidade por todas as causas quanto para a mortalidade cardiovascular, são necessários apenas 4 mil passos por dia para prolongar significativamente a vida. E quanto mais passos diários, melhor para a saúde”, enfatiza o também professor de cardiologia da Universidade Médica de Lodz, na Polônia, e da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.


Novos hábitos

Os autores do artigo lembram que há grandes evidências de que um estilo de vida sedentário pode contribuir para o aumento de doenças cardiovasculares e encurtar a vida. A estimativa é de que 25% da população mundial não pratique atividades físicas, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que o sedentarismo é a quarta causa mais frequente de morte no mundo, com 3,2 milhões de óbitos por ano.


Nesse cenário, mudar hábitos e realizar atividades físicas é essencial, pontua Thiago Siqueira, cardiologista do Hospital Anchieta, em Brasília. O médico sugere atividades que podem fazer bem à saúde e ser facilmente incorporadas à rotina. “É importante a gente sempre se manter ativo, ir para as pequenas atividades diárias a pé. Até mesmo tentar descer as escadas do prédio quando possível em vez de usar o elevador”, lista. “Não são somente aqueles exercícios intensos dentro de academia. Fazer essas atividades simples também rende benefícios.”


Banach explica que, com base nos resultados de pesquisas anteriores, é possível afirmar que treinos intermitentes e intensos podem ser muito benéficos para a saúde em geral, bem como para o coração. “As diretrizes europeias atuais sugerem que os adultos realizem pelo menos de 150 a 300 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada, ou de 75 a 150 minutos de exercícios muito intensos, ou uma combinação equivalente de ambos, distribuídos ao longo da semana”, detalha.


Simplicidade

O pesquisador conta que a análise feita por ele e sua equipe focou apenas no número de passos em vez da intensidade e do tempo necessários para realizá-los. Segundo ele, essa análise pode facilitar a aplicação das informações obtidas. “Contar os passos parece ser uma medida detalhada, mas é mais prática em comparação com se atentar ao tempo de atividade física a ser realizado”, explica.


Na avaliação dos cientistas, a pesquisa evidenciou novas questões que precisam ser respondidas, incluindo se os benefícios à saúde podem ser observados em todas as pessoas e se as vantagens podem ser observadas quando se caminha muito. “Temos cada vez mais dados que sugerem que exercícios de intensidade extremamente alta, como competições de Ironman ou as corridas de 12 ou 24 horas, podem não estar associados aos benefícios à saúde esperados, mas a efeitos prejudiciais”, diz Banach.


Ele e os colegas dedicam-se, agora, a uma nova investigação na tentativa de responder a essas novas questões. “Iniciamos um estudo com indivíduos que andam mais de 20 mil passos por dia e com pacientes com diferentes doenças crônicas para avaliar o impacto dos exercícios regulares na saúde”, conta.


Palavra de especialista: Impacto nos fatores de risco

“Os benefícios do exercício físico para saúde estão intimamente ligados com a redução dos fatores de risco, como níveis da pressão arterial e índices de açúcar e gordura no sangue. Exercitar-se melhora questões ósseas e cognitivas, reduz a incidência de depressão e de ansiedade, e faz com que os praticantes comecem a regular os hábitos alimentares. Também diminui o índice de obesidade e os índices inflamatórios daqueles indivíduos que treinam regularmente. Esse estudo é importante para que a população entenda que é preocupante manter um estilo de vida sedentário. Temos uma literatura forte mostrando uma relação inversa entre a aptidão física e mortalidade não só por causas cardiovasculares, mas por todas as causas. Quanto mais o indivíduo se exercita, quanto mais ele aumenta os seus componentes da aptidão física, menor a mortalidade. Mas o mais preocupante, para mim, é a pessoa se manter sedentária. O estilo de vida sedentário aumenta, sim, as doenças cardiovasculares e encurta a vida.”


Rodrigo Otávio Bougleux, diretor científico do Grupo de Estudo em Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia


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