Mensagens extraídas pela Polícia Federal (PF) do celular do policial reformado Ronnie Lessa mostram que ele usava um programa restrito de mensagens com amigos. O objetivo, segundo o inquérito ao qual a CNN teve acesso, era não ser rastreado pelas antenas telefônicas.
Em uma mensagem que a PF extraiu do aparelho telefônico de Lessa, ele pede a um amigo identificado como Fernando para baixar esse aplicativo de mensagens. Em 26 de julho de 2018, ele fala: “Baixa o aplicativo aí.”
O amigo responde “te liguei para te dar explicações ontem”. E Lessa emenda: “Te mandei um convite via mensagem.”
Em 9 de outubro, outro amigo – identificado como Carlos – diz que enviou mensagem pelo aplicativo para Lessa, que responde: “Peraí que tô na linha.”
O inquérito da PF mostra que Élcio de Queiroz também baixou o aplicativo em janeiro de 2019.
Na investigação, a PF explica que, “em consulta ao sítio, verificou-se que o aplicativo tem como essência a confidencialidade que seria garantida por meio de três recursos principais: criptografia, mensagens efêmeras (autodestroem após visualização) e screenshield (à prova de captura de tela)”.
A PF afirma que houve “constatação de que os réus de fato faziam uso do referido aplicativo”.
Élcio de Queiroz, que disse ser amigo há 30 anos de Lessa, reforçou em delação premiada com a PF e o Ministério Público do Rio de Janeiro que Ronnie Lessa “sempre se precaveu”.
“Ele sempre fazia isso pelo programa e aí desligava o telefone; justamente pra antena dele não ligar a minha residência; esse ‘tô chegando’ podia chegar daqui a quinze minutos, cinco minutos, uma hora… Ele fazia sempre isso… Às vezes ele aparecia também e ficava esperando alguém entrar na minha casa e aí ‘chama seu pai lá’; ele sempre fez isso; ele sempre se precaveu em negócio de antena, em situações de antena”, disse.
Ronnie Lessa está preso no presídio federal de Campo Grande (MS) e Élcio de Queiroz na penitenciária federal de Brasília (DF).
Pela primeira vez, Queiroz admitiu que participou do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, mortos em 2018 no Rio de Janeiro. Na colaboração, acusou Lessa de ter sido o executor.