A resposta de Vladimir Putin à rebelião armada do grupo Wagner foi “fraca” e o presidente russo está perdendo o controle de seu próprio povo, disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky à CNN em uma entrevista exclusiva, cuja íntegra será publicada na quarta-feira.
Putin enfrentou a maior ameaça à sua autoridade em duas décadas no mês passado, quando o chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, lançou um levante de curta duração, reivindicando o controle de instalações militares em duas cidades russas e marchando em direção a Moscou antes de concordar em abaixar as armas.
“Vemos a reação de Putin. É fraca”, disse Zelensky à âncora Erin Burnett, da CNN, em Odessa, na Ucrânia, em uma entrevista gravada no último domingo (2).
“Em primeiro lugar, vemos que ele não controla tudo. O fato de [o grupo] Wagner avançar dentro da Rússia e tomar certas regiões mostra como é fácil fazer isso. Putin não controla a situação nas regiões”, completou.
“Toda aquela vertical de poder que ele costumava ter está desmoronando.”
Alguns russos aplaudiram os combatentes do grupo Wagner enquanto Prigozhin liderava o desafio sem precedentes à autoridade de Putin. Um vídeo checado pela CNN mostrou multidões aplaudindo quando o veículo do chefe de Wagner partiu da cidade de Rostov-on-Don, no sul, em 24 de junho.
Zelensky disse que os relatórios de inteligência ucranianos mostraram que o Kremlin estava medindo o apoio a Prigozhin, e afirmou que metade da Rússia apoiou o chefe de Wagner e o motim do grupo paramilitar.
A entrevista com Zelensky ocorre em um momento crítico – não apenas após a fracassada insurreição de Prigozhin, mas também semanas após o lento esforço da Ucrânia para recapturar o território ocupado pela Rússia.
Esse esforço está sob intenso escrutínio de aliados ocidentais e, no sábado, uma autoridade dos EUA disse à CNN que o chefe da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), Bill Burns, visitou Kiev recentemente e se encontrou com Zelensky e funcionários da inteligência ucraniana.
Zelensky disse à CNN que ficou “surpreso” ao ver seu encontro com Burns reportado na mídia. “Minha comunicação com o chefe da CIA deve ser sempre nos bastidores”, disse ele. “Discutimos coisas importantes – o que a Ucrânia precisa e como a Ucrânia está preparada para agir.”
Burns, um diplomata veterano, tornou-se um interlocutor de confiança em Kiev e fez várias viagens à Ucrânia durante a guerra.
“Não temos nenhum segredo da CIA, porque temos boas relações e nossos serviços de inteligência conversam entre si”, disse Zelensky.
“A situação é bastante simples. Temos boas relações com o chefe da CIA e estamos conversando. Contei a ele sobre todas as coisas importantes relacionadas ao campo de batalha de que precisamos”, completou.
Burns viajou para Kiev antes da rebelião de Prigozhin, que não foi um tópico de discussão, disse o funcionário dos EUA à CNN.
Falando em uma entrevista coletiva em Kiev no sábado, Zelensky disse que a rebelião de Prigozhin “afetou muito o poder russo no campo de batalha” e pode ser benéfica para a contra-ofensiva da Ucrânia.
Embora os esforços de Kiev tenham se concentrado na recaptura de territórios no sul e no leste da Ucrânia, Zelensky disse a Burnett que seu objetivo final era libertar a Crimeia, a península anexada pela Rússia em 2014 em violação ao direito internacional.
“Não podemos imaginar a Ucrânia sem a Crimeia. E enquanto a Crimeia está sob ocupação russa, isso significa apenas uma coisa: a guerra ainda não acabou”, disse ele.
Questionado se havia algum cenário em que poderia haver paz sem a Crimeia, Zelensky disse: “Não será uma vitória então”.