Além de viagens esperadas nos próximos meses para Bélgica (cúpula Celac-União Europeia), África do Sul (cúpula dos Brics) e Estados Unidos (Assembleia da ONU), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve intensificar no segundo semestre a agenda diplomática. O Brasil deve assumir o comando de três organismos multilaterais:
Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai)
G20 (20 principais economias do mundo)
Conselho de Segurança das Nações Unidas
Inicialmente, o Brasil iria comandar, a partir de 2024, o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), mas, como vai assumir o G20 no próximo mês de dezembro, o comando do grupo passou para a Rússia. O Brasil comandará o bloco em 2025.
Uma fonte próxima ao ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, avalia que, ao presidir esses grupos, o Brasil poderá propor a discussão sobre temas como:
acordo Mercosul-União Europeia;
mudanças climáticas;
desenvolvimento sustentável;
paz e segurança internacional;
reforma do Conselho de Segurança da ONU;
combate à desigualdade.
Mercosul
O Brasil assumirá o comando do Mercosul na próxima terça-feira (4). Desde a posse, o presidente tem reiterado que o grupo precisa se fortalecer.
Nesse contexto, a expectativa entre diplomatas é que Lula adote as medidas para fazer com que o acordo comercial com a União Europeia possa avançar. O texto é negociado desde 1999 e, desde 2020, está na fase de revisão.
Um documento adicional inserido pela parte europeia, porém, tem causado resistência por parte do governo brasileiro, que o vê como uma “ameaça”. O texto prevê sanções em caso de descumprimento de metas na questão ambiental, por exemplo.
O governo brasileiro entende que essa possibilidade de sanção não é mais necessária ou que deve ser implementado o princípio da reciprocidade, isto é, que a sanção válida para o Mercosul possa valer também para a Europa.
A expectativa no governo brasileiro é fechar o acordo até o fim deste ano, aproveitando que o Brasil comandará o Mercosul e a Espanha, a União Europeia, dois países engajados na conclusão das negociações.
Paralelamente às discussões sobre o acordo, o Brasil tem defendido que a Venezuela, suspensa do Mercosul desde 2017, volte a integrar o bloco de maneira efetiva. Lula tem tentado reaproximar os dois países, e o Brasil aguarda com expectativa as eleições no país, marcadas para 2024.
G20
Em dezembro deste ano, o Brasil assumirá a presidência do G20, grupo que reúne representantes das maiores economias do mundo. A presidência do grupo é rotativa e atualmente é ocupada pela Índia. O Brasil ficará à frente do G20 até novembro de 2024.
A expectativa é que Lula paute no grupo discussões sobre desigualdade e sustentabilidade. Em recentes declarações, o presidente tem cobrado mudanças na atuação do G20, afirmando que o grupo precisa, por exemplo, incluir a União Africana e passar a discutir temas como inflação e taxa de juros.
Lula também tem cobrado ação do G20 em relação à violência nas redes sociais, defendendo que o grupo adote medidas para que as plataformas não sejam utilizadas para disseminação de fake news, discurso de ódio ou práticas terroristas.
O Rio de Janeiro foi escolhido como sede da cúpula do grupo em 2024. O grupo contará com a participação de chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo mais representantes de 10 nações convidadas.
Conselho de Segurança da ONU
O Brasil comandará o Conselho de Segurança da ONU em outubro deste ano. A presidência do grupo é rotativa e muda a cada mês.
Lula tem feito frequentes discursos em fóruns internacionais defendendo a reforma do conselho. O presidente tem dito, por exemplo, que o organismo precisa ter mais representatividade e incluir países da América do Sul, da África e mais países da Europa e da Ásia. Lula costuma citar o próprio Brasil, além de Alemanha, Japão, Índia e África do Sul.
O conselho tem 15 membros, dos quais cinco têm os chamados assentos permanentes: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Os outros dez são rotativos (o mandato atual do Brasil acaba em dezembro deste ano).
Para Lula, a guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, não deveria ser discutida pelo G7 nem pelo G20, mas, sim, pelo Conselho de Segurança da ONU.
Para diplomatas ouvidos pelo g1, uma eventual discussão sobre a guerra no conselho vai depender do cenário no momento.
Agenda externa
Desde que tomou posse, em 1º de janeiro deste ano, Lula tem dedicado boa parte da agenda à política externa. No primeiro semestre de governo, o presidente Lula viajou para países como França, Estados Unidos, China, Japão, Portugal e Argentina.
Também recebeu, em Brasília, representantes de diversos países, entre os quais Argentina, Alemanha, Finlândia e Romênia (os dois últimos fazem fronteira com Rússia e Ucrânia, respectivamente), além de ter organizado a cúpula sul-americana, que contou com a presença de 11 presidentes da América do Sul.
Para o Itamaraty, o objetivo do governo, de construir pontes com o mundo, foi alcançado. “E as pontes foram reconstruídas. As viagens obedeceram essa lógica, e o Brasil está de volta ao jogo”, avaliou ao g1 um diplomata.
Duas agendas importantes para a recuperação de laços com outros países ficaram para o segundo semestre, a reunião de países que integram a Amazônia e a ida do presidente Lula à África. Ambas estão previstas para agosto deste ano.
A viagem para a África estava prevista para maio deste ano, mas foi adiada após Lula ter sido convidado para participar das reuniões do g7, grupo que reúne representantes das sete maiores economias do mundo.