Em 2022, 56,7% da população brasileira possuía 30 anos ou mais, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O percentual de indivíduos nesta faixa etária representa um salto em relação a 2012, quando o grupo representava 50,1% do total. O levantando realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na sexta-feira, 16, mostra que 15,9% dos brasileiros estava na faixa entre 30 e 39 anos; 14,2% entre 40 e 49 anos; e 11,4% entre 50 e 59 anos. Já a parcela das pessoas de 60 anos ou mais de idade representava 15,1% da população em 2022. Este cenário tem um impacto direto no mercado de trabalho e na economia. De acordo com Euzébio Souza, professor de economia da Strong Business School, o envelhecimento da população de um país é um indicador crucial do desenvolvimento humano. “O crescimento da proporção de pessoas acima dos 30 anos tem um impacto direto no mercado de trabalho, uma vez que essas pessoas geralmente estão estabelecidas em suas carreiras, possuem uma experiência profissional consistente e são menos propensas a demissões. Isso reduz a taxa de rotatividade no país”, indica.
Por outro lado, o professor observa que pessoas desempregadas acima dos 30 anos enfrentam maiores dificuldades para se reintegrar ao mercado de trabalho, especialmente se não possuírem as qualificações desejadas. Já quem conta com uma trajetória estabelecida no mercado de trabalho tende a ter salários mais altos e maior capacidade de consumo nesta faixa etária. “Embora, no Brasil, haja um atraso na saída dos jovens da casa dos pais, aqueles que estão consolidados em suas carreiras e têm mais de 30 anos tendem a buscar a compra ou o aluguel de imóveis para morar com cônjuges ou amigos. Portanto, nessa faixa etária, há uma tendência de aumento do consumo, seja ao formar uma família ou sair da casa dos pais. Com a redução da taxa de fecundidade no Brasil, há um número considerável de pessoas com mais de 30 anos sem filhos, o que amplia um tipo específico de consumo, não apenas voltado para o consumo de produtos. No entanto, o envelhecimento médio da população não traz apenas atividade econômica por meio do consumo, mas também estabelece a necessidade de universalização da previdência”, pondera.
Doutor em Administração pela FEA/USP e diretor-geral da IBS Americas, Ricardo Britto afirma que a evolução econômica e demográfica do Brasil nos últimos anos apresenta uma situação contraditória. “Por um lado, a economia tem crescido abaixo da média mundial, nos colocando junto a países pobres e de economia estagnada. Por outro, a pirâmide populacional tem se comportado como a de países ricos, com um envelhecimento acelerado da população. Hoje estamos com uma pirâmide populacional similar a países como o Japão e a Itália, conhecidos por terem graves dificuldades econômicas associadas ao envelhecimento da população. Não há como deixar de se preocupar com essa situação paradoxal no médio e longo prazos. A economia cresce quando há pessoas para trabalhar, pessoas jovens que estão aprimorando suas competências, que irão produzir, gerar renda, pagar impostos. O Brasil precisa de um plano de desenvolvimento econômico bastante robusto, capaz de enviar sinais positivos para sua população e para o restante do mundo. Precisamos reverter uma tendência de redução da taxa de natalidade e de fuga de mão de obra qualificada para o exterior, atraindo profissionais e estimulando o crescimento das famílias”, recomenda. O especialista acredita que a falta dessas políticas levaria o país a um ciclo vicioso de redução da população economicamente ativa e redução das taxas de crescimento econômico, podendo transformar o Brasil em um “gueto de subdesenvolvimento”.
Especialista tributário e diretor da Alldax Contabilidade e Consultoria, William Almeida, complementa que é necessário que se tenha uma população ativa no mercado de trabalho para que seja possível diminuir o ritmo do “rombo” do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ele considera que ainda existe necessidade de reformas para deixar em equilíbrio o sistema previdenciário. “Precisamos compreender que essa faixa etária está em um momento de construção, como constituir família. Uma maior oferta de emprego reverbera, o que acaba impactando praticamente todos os setores da economia, como escolas, comércio (mercados), o setor imobiliário e automobilístico. Talvez seja o momento do mercado de trabalho intensificar a oferta de mão de obra preparada ou, por que não, de mais pessoas com disposição a empreender. Isso se dá pela maturidade dessa concentração, que já passou por pelo ao menos uma educação superior, uma pós-graduação ou experiências de trabalho, que são características que impulsionam o mercado, gerando mais calibre para as organizações crescerem. Em suma, espera-se um aquecimento da economia com essa concentração de faixa etária no Brasil”, observa.
CEO da Inteligência Comercial e Country Manager da Savel Capital Partners, Luciano Bravo enxerga que o envelhecimento da população trará maior distribuição de renda, mas também a necessidade de medidas para custear este processo. Uma delas é o aumento de impostos. “A mão de obra ficará mais cara, como acontece na Europa, onde o índice de pessoas mais velhas são maiores. As pessoas terão mais condições financeiras e isso vai implicar no aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Mas também temos a questão de você ter menos força de trabalho na base da pirâmide”, pondera. Para Euzébio, é preocupante que, segundo o IBGE, apenas 35,4% das pessoas ocupadas contribuíam para a Previdência no primeiro trimestre de 2023. “Isso ressalta a necessidade de expandir as políticas de seguridade social para os idosos. O mesmo se aplica à necessidade de aumentar os gastos com políticas de saúde, a fim de atender à população que está envelhecendo. O aumento da expectativa de vida resulta em melhorias econômicas e de saúde em diferentes faixas etárias, exigindo adaptações nas políticas públicas relacionadas ao trabalho, previdência e sistema de saúde”, pontua.