A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível e condenar o ex-presidente por abuso de poder político abriu espaço para que novos nomes da direita bolsonarista concorram entre si para garantir o protagonismo nas eleições presidenciais de 2026.
Nesta semana, ao ser questionado sobre a possibilidade de nomes como o de sua esposa, Michelle Bolsonaro, e o do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), despontarem como seus sucessores, Bolsonaro disse que com ele “fora do jogo político”, há “vários bons nomes por aí”.
Atualmente, três nomes vêm sendo citados no entorno de Jair Bolsonaro como possíveis sucessores do ex-presidente. Além de Tarcísio e Michelle, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também é visto como uma boa aposta para liderar a direita bolsonarista nas próximas eleições gerais.
Por fora, correm ainda o ex-ministro do Desenvolvimento Regional e atual senador Rogério Marinho (PL-RN), e dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio (PL-RJ) e Eduardo (PL-SP).
Derrota ao bolsonarismo
Apesar de alguns ministros do governo terem comentado a condenação de Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não havia se manifestado sobre o resultado do julgamento até a noite desta sexta-feira (30/6).
Na quinta (29/6), ao participar de evento do Foro de São Paulo, o petista criticou a “extrema-direita fascista” e fez um apelo aos partidos de esquerda para uma revisão do discurso público. “É preciso que a gente rediscuta o discurso da esquerda. É preciso que a gente repense o que que a gente quer e como a gente vai fazer para conquistar”, disse.
Segundo ele, ao longo dos últimos anos, aliados da direita têm tido maior facilidade em conquistar apoio ao redor do mundo. “Muitas vezes, a direita tem mais facilidade do que nós com um discurso fascista”, afirmou.
Logo após vencer as eleições do ano passado, Lula disse que havia derrotado Bolsonaro, mas que o bolsonarismo continuava vivo. Na ocasião, porém, ele disse que a ideologia seria “derrotada”.
Tarcísio
Tarcísio de Freitas tem sido evasivo quando questionado sobre a possibilidade de se candidatar à Presidência em 2026 e liderar o bolsonarismo. Essa atitude é vista por aliados como uma estratégia para evitar ser considerado “oportunista”.
Outro ponto relevante é o fato de que Tarcísio ainda pode optar por concorrer à reeleição para o cargo de governador de São Paulo.
Por outro lado, o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro tem enfrentado desconfiança da ala bolsonarista mais ideológica em razão de seus posicionamentos políticos mais centristas e que acenam para um bom diálogo com o governo Lula.
Michelle, Flávio e Eduardo
Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama e esposa de Jair Bolsonaro, teve um papel importante na campanha do marido em 2022. Após resistências, ela entrou de cabeça no plano de reeleger o então presidente, o que despertou interesse do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para que ela se candidatasse à Presidência eventualmente.
Atualmente, Michelle é presidente do PL Mulher, uma ala da sigla voltada ao pública feminino. A ideia é que, nesse período, a ex-primeira-dama conquiste novos filiados e trabalhe sua figura enquanto política. Desde a campanha, Michelle Bolsonaro é vista como uma alguém capaz de atrair e fidelizar os eleitorados feminino e evangélico.
Filhos de Bolsonaro, o senador Flávio e o deputado Eduardo também são vistos como bons nomes para suceder o pai. Apesar disso, o próprio ex-presidente tem externado a aliados sua preocupação sobre a exposição da sua família, de forma especial de Flávio e Michelle, que também é considerada “inexperiente”. Bolsonaro teme que eles sejam alvo de ataques políticos caso se candidatem a um cargo no Executivo, seja na esfera estadual ou federal.
O atual senador já foi alvo do Ministério Público do Rio de Janeiro por suspeita de rachadinha. Já a ex-primeira-dama se viu envolvida em um caso sobre suposto uso de dinheiro vivo para o pagamento de suas despesas feito pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.
Zema
Desde que se reaproximou de Bolsonaro nas eleições do ano passado, uma eventual candidatura de Romeu Zema à Presidência tem ganhado força na ala bolsonarista. Atual governador de Minas e filiado ao Novo, Zema tem investido no discurso antipetista e em pautas consideradas ideológicas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro disse, nesta sexta, que considera o nome do governador uma boa opção para as eleições presidenciais, mas só a partir de 2030.
“Eu tenho um profundo respeito por ele. No meu entender, fez um bom trabalho aqui, porque pegou um Estado destruído pelo PT e, como bom mineiro que trabalha em silêncio, é uma opção para o futuro, 2030, 2034, 2038, é uma boa opção”, disse Bolsonaro.
Marinho
O senador Rogério Marinho tem ganhado destaque como líder da oposição ao governo Lula no Senado e é visto como uma figura capaz de suceder Jair Bolsonaro.
Com um perfil alinhado à direita e crítico ao PT, Marinho tem atuado no sentido de sustentar as bandeiras do bolsonarismo no Congresso, o que tem dado a ele uma visibilidade no cenário nacional.
Uma eventual candidatura de Marinho ao Palácio do Planalto, porém, mexeria no xadrez político do Rio Grande do Norte, já que o atual senador também tem ambições de disputar o governo estadual nas eleições de 2026.
Inelegibilidade de Bolsonaro
Por 5 votos a 2, a Justiça Eleitoral condenou e tornou inelegível o ex-presidente Jair Bolsonaro até 2030.
Bolsonaro foi acusado de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em razão de uma reunião que fez com embaixadores estrangeiros, em julho do ano passado, no Palácio da Alvorada.
Na ocasião, ele difamou sem provas as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro. A reunião foi transmitida pelo canal oficial da TV Brasil e pelas redes sociais do então presidente.
O relator do caso, o ministro Benedito Gonçalves, votou pela inelegibilidade de Bolsonaro. Em seu voto, ele disse que não é possível fechar os olhos para mentiras e para um discurso violento.
“Em razão da grande relevância e da performance discursiva para o processo eleitoral e para a vida política, não é possível fechar os olhos para os efeitos antidemocráticos de discursos violentos e de mentiras que colocam em xeque a credibilidade da Justiça Eleitoral”, escreveu Gonçalves.
O vice na chapa de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, que também foi julgado pelo TSE, foi absolvido por unanimidade.
Veja como se posicionou cada um dos sete ministros da Corte:
Benedito Gonçalves, relator: pela condenação;
Raul Araújo: pela absolvição;
Floriano de Azevedo Marques: pela condenação;
André Ramos Tavares: pela condenação;
Cármen Lúcia: pela condenação;
Nunes Marques: pela absolvição;
Alexandre de Moraes: pela condenação.
Fonte: Metrópoles