O governo brasileiro emitiu uma nota em conjunto interministerial para cobrar atitudes do governo da Espanha, da Fifa e da La Liga após o mais recente caso de racismo contra o atacante brasileiro Vinícius Júnior.
Assinado pelos ministérios da Igualdade Racial, dos Esportes, das Relações Exteriores, da Justiça e Segurança Pública, dos Direitos Humanos e da Cidadania, o comunicado afirma que “o governo brasileiro repudia, nos mais fortes termos, os ataques racistas que o atleta brasileiro Vinícius Júnior vem sofrendo reiteradamente na Espanha”.
O governo brasileiro ainda afirma que “lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo”.
Os ministérios cobraram “as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos”. “Apela, igualmente, à FIFA e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”, acrescenta a nota.
“O governo brasileiro tem atuado em cooperação com o governo da Espanha para coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte com total intolerância a toda e qualquer prática discriminatória, com o apoio ao aperfeiçoamento das melhores práticas internacionais para promover a prevenção e o combate ao racismo, além de qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes”, conclui o comunicado.
Na reunião, que deverá ocorrer nas próximas horas, o Itamaraty quer transmitir oficialmente repúdio ao governo espanhol pelas manifestações no estádio do Valencia e cobrar punições aos criminosos.
A convocação de um embaixador estrangeiro para oferecer explicações é, na linguagem diplomática, um gesto importante e que demonstra a gravidade de um assunto para o país anfitrião.
Paralelamente, o embaixador do Brasil em Madri, Orlando Leite Ribeiro, já pediu reuniões formais com o presidente de La Liga, Javier Tebas, e o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales.
O caso mais recente
“O Real Madrid CF manifesta a sua mais veemente rejeição e condena os acontecimentos ocorridos ontem contra o nosso jogador Vinícius Jr.”, afirmou o clube
Os ataques “constituem um crime de ódio” pelo qual o clube apresentou uma queixa à Procuradoria-Geral do Estado, disse o comunicado.
Vini Jr. rebateu as críticas proferidas pelo presidente de La Liga, Javier Tebas, nas redes sociais.
Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar.
Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa…
Omitir-se só faz com que você se… https://t.co/RGO9AZ24IA
— Vini Jr. (@vinijr) May 21, 2023
“Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa… Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo. Quero ações e punições. Hashtag não me comove”, disse o brasileiro no Twitter.
Mais cedo, Tebas havia criticado Vinícius Júnior, alegando que o astro brasileiro do Real Madrid precisava “se informar melhor sobre as ações de La Liga contra o racismo”.
Na tarde deste domingo (21), Vini Jr. havia feito um longo desabafo, também nas redes, após um novo caso de ataques racistas em uma partida do Campeonato Espanhol.
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito”, começou o brasileiro em um depoimento no Twitter.
“O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano (Ronaldo) e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista”, continuou Vini Jr.
“Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, concluiu o astro da Seleção.
O jogo contra o Valencia teve que ser interrompido pelo árbitro após ouvir gritos de “mono” (macaco, em espanhol) proferidos por parte da torcida do Valencia.
O técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, disparou fortes críticas contra La Liga e os demais responsáveis pelo futebol no país europeu, após o novo caso de ofensa racial contra Vini Jr.