Montadoras querem ressuscitar o carro popular. A iniciativa tem sido discutida entre fabricantes de veículos e o tema começa a ser avaliado em Brasília.
O setor acredita que, se houver acordo e o governo oferecer incentivos tributários, seria possível oferecer um veículo popular com valor pelo menos R$ 10 mil abaixo do praticado atualmente.
O tema deve ser discutido em reunião nesta segunda-feira (3) pelos ministros do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e da Fazenda, Fernando Haddad.
O encontro, marcado para 18h, tem como tema “indústria automotiva” e os ministros devem avaliar iniciativas para incentivar o setor que tem sofrido com a queda das vendas.
A discussão sobre a volta do carro popular foi antecipada pela Folha de S. Paulo e confirmada pela CNN.
A intenção é criar um programa que permita reduzir o preço ao consumidor em pelo menos R$ 10 mil. Assim, segundo a indústria, seria possível oferecer carros de entrada com valor entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.
Atualmente, o modelo mais barato do Brasil é o Kwid, da Renault, que tem preço inicial em R$ 68,1 mil. O preço dos carros disparou nos últimos anos, especialmente na pandemia, com a falta de peças.
Para o programa ficar de pé, porém, será preciso uma contrapartida do governo e das próprias fabricantes. A discussão indica uma possível redução da carga tributária para os veículos de entrada.
Uma das possiblidades seria atribuir o caráter “verde” a esses carros que usariam apenas o etanol como combustível – motor com tecnologia anterior à atual usada nos carros brasileiros.
Em 2022, 83,3% dos veículos novos vendidos no Brasil tinham tecnologia “flex fuel” – que permite uso de gasolina ou etanol em uma tecnologia que substituiu os antigos “motores à álcool”. Ou seja, oito a cada dez veículos vendidos no Brasil já podem usar o etanol como combustível.
No ano passado, o segundo combustível mais usado foi o diesel, com participação de 11,7%, seguido pelos motores que usam apenas a gasolina, com 2,5%. Dados da Anfavea indicam participação zero de motores exclusivamente movidos a etanol.
Por parte das montadoras, a discussão para ajudar a reduzir o preço dos veículos passa pela possibilidade de retirada de alguns itens não obrigatórios dos veículos, como os relacionados à navegação e conectividade do veículo.
A iniciativa tem sido debatida e muitos executivos encaram o tema como uma ajuda importante para o setor que tem sofrido com a queda nas vendas.
Apesar disso, reconhecem que reduzir o preço dos carros de entrada pode ter efeito limitado em um momento em que a economia tem juros altos e dificuldade na oferta de crédito.
Com juro elevado e instituições financeiras mais restritivas, o percentual de carros novos vendidos com financiamento ficou abaixo de 40% em 2022. Há pouco mais de uma década, a fatia era de 70%. Ou seja, o crédito mais caro e difícil ajuda a explicar parte da queda da intenção de compra dos motoristas.
Em Brasília, o tema começa a ser discutido, mas com mais cautela que a discussão nas montadoras. Há especial preocupação sobre o espaço fiscal, já que a equipe econômica não tem gordura para oferecer benefícios tributários.
Hoje, na verdade, a pauta é contrária: encontrar até R$ 150 bilhões para colocar o novo arcabouço fiscal de pé.
Apesar desse tom cauteloso, o governo federal, especialmente o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, reconhece a importância da indústria automotiva e das iniciativas para incentivar toda a cadeia de produção.
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento não se pronunciou sobre o assunto. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) diz que não comenta o tema.