O dólar deixou muita gente com um sorriso no rosto nesta quarta-feira (21): a moeda fechou abaixo de R$ 5 pela primeira vez em dez meses – a última vez que alcançou um patamar tão baixo foi em 9 de junho de 2022, quando encerrou o dia cotada em R$ 4,9162.
Segundo especialistas, são dois os principais fatores que explicam a queda da divisa nas últimas sessões:
Uma inflação abaixo do esperado – tanto aqui quanto nos Estados Unidos;
E os sinais de avanço no arcabouço fiscal do governo.
Na prática, tudo isso se resume em uma única coisa: a expectativa de que um corte da taxa básica de juros do país, a Selic, esteja mais próximo – de acordo com analistas, a maioria das projeções indicam o corte das taxas já no segundo semestre.
Mas isso significa que é um bom momento para comprar dólar?
Depende. Especialistas contam que, de maneira geral, o melhor momento para comprar a moeda é quando suas cotações estão em queda – mas é preciso mais ponderações.
Segundo a economista especialista em mercado de capitais Ariane Benedito, o movimento de queda nas cotações do dólar nas últimas sessões reflete, além dos dados de inflação, a ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a China, que pode trazer alguns acordos comerciais benéficos para o Brasil, e a falta de novas informações sobre o arcabouço fiscal – cenário que já deve mudar na próxima semana.
“Na semana que vem deve ser apresentado o texto que vai compor todos os detalhes do arcabouço fiscal, e isso vai fazer com que os especialistas comecem suas projeções de impacto econômico das propostas do governo. Isso pode trazer uma forte volatilidade para a moeda”, explica.
“Além disso, se o texto não vier de forma transparente, clara e factível, a aversão ao risco deve voltar a tomar conta dos mercados, o que trará um movimento de alta para o dólar”, completa Benedito.
De maneira geral, isso significa que apesar de esse ser, sim, um bom momento para comprar a moeda, é um movimento pontual e momentâneo – e novas altas da divisa devem estar à frente.
Fora esse, quando haverá um novo bom momento para comprar dólar?
É difícil dizer. Segundo os especialistas, há uma variedade de fatores que podem influenciar na cotação da moeda.
De acordo com o economista e sócio-fundador da consultoria Sarfin, Bruno Mori, outro evento que pode influenciar na variação da divisa é a busca de segurança por parte dos investidores.
“Se houver algum evento político ou geopolítico que traga mais incerteza ou medo ao mercado de uma maneira geral, a tendência é que os investidores acabem buscando o dólar como uma alternativa à segurança”, diz Mori.
“Se isso acontecer, também é possível que o dólar inverta essa trajetória de queda e volte a subir. Mas é difícil dizer, já que esses eventos são algo que nunca são previstos”, acrescenta.
Diante desse cenário, vale lembrar que o dólar abaixo de R$ 5 não ainda não é o cenário-base da maioria dos analistas do mercado. Segundo o último relatório Focus do Banco Central, por exemplo, a projeção é que a moeda norte-americana encerre este ano em R$ 5,25 – e que a cotação fique ainda mais alta nos anos seguintes, chegando a R$ 5,27 em 2024, R$ 5,30 em 2025 e R$ 5,35 em 2026.
“De qualquer forma, isso mostra que essa pode, sim, ser uma janela interessante para o investidor se posicionar. E é dessa forma que deve ser lida a movimentação da moeda para uma posição: toda vez que tivermos uma queda que pode ser pontual ou de um impacto único na moeda, mas que há uma expectativa de alta à frente, é um bom momento de comprar”, completa Benedito.
Quais as recomendações para o investidor que for comprar a moeda?
De acordo com os especialistas, a principal recomendação é que o investidor faça uma compra pensada – e não apenas para aproveitar o movimento de sobe e desce do dólar.
“O investidor precisa saber, por exemplo, o total de moeda que ele vai adquirir e, se não houver pressa para a aquisição, o ideal é fazer compras parciais, para diminuir o risco de entrar em um momento no qual, apesar de já estar baixa, a moeda continue em uma trajetória de queda. O ideal é dividir em duas ou três compras diferentes”, afirma Mori.
Além disso, a dica também é que os investidores mantenham uma parte da carteira alocada em dólar ou investimentos feitos na moeda, como fundos cambiais ou fundos de índice, por exemplo.
“Isso é importante porque traz uma maior diversificação e protege a carteira de eventuais instabilidades econômicas”, diz Benedito, destacando que os ativos de risco e o dólar têm uma correlação negativa – ou seja, são, na maioria das vezes, uma queda do dólar causa um movimento de alta nos ativos de risco e vice-versa.
“Assim, toda vez que o investidor estiver posicionado em dólar e houver um risco de instabilidade à frente que se reflita em uma desvalorização dos ativos mais voláteis, o dólar garante que você minimize as perdas da sua carteira de investimento”, explica a economista.