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Por que o técnico Cuca sofreu pressão apenas 30 anos após a condenação por estupro

O técnico Cuca pediu demissão duas partidas após sua contratação pelo Corinthians e deixou o time na noite de quarta-feira (26). A saída foi motivada pela forte pressão da torcida e da imprensa devido a uma condenação por violência sexual em 1989, na Suíça, por crime cometido em 1987 contra uma garota de 13 anos, em Berna.


Mas por que o caso veio à tona após 30 anos, quando Cuca havia se consolidado como treinador apesar de ter sido condenado e nunca ter cumprido a pena? O que fez a opinião pública mudar ao longo dessas décadas e o que possibilitou que, de ovacionado ao voltar da Suíça pela torcida do Grêmio, time em que jogava na década 1980, Cuca fosse rechaçado pela torcida coritiana como técnico?


Condenados recebidos como heróis

André Rizek, apresentador do SporTV, afirmou em entrevista ao podcast O Assunto que, à época da condenação, os atletas do Grêmio envolvidos no caso – Eduardo, Fernando e Henrique, além de Cuca – foram recepcionados como heróis em Porto Alegre. Ele apontou que até a imprensa “comprou” a versão de que os atletas tinham sido julgados à revelia.


“Por muito tempo se espalhou a versão, e a gente, jornalista, comprou, de que eles foram julgados à revelia. Essa informação é falsa. O Grêmio representou os 4 jogadores. O Luiz Carlos Silveira Martins, advogado do Grêmio à época, defendeu os jogadores do Grêmio, contrararam dois representantes na Suíça… Houve a defesa, o que acontece é que os jogadores não estiveram presentes no julgamento”, disse.


Versão de Cuca rebatida por advogado

Rizek também destacou o fato de Cuca se declarar inocente e dizer que nunca foi reconhecido pela vítima. O advogado da adolescente á época, no entanto, afirmou em entrevista recente que a menina identificou Cuca e que um exame laboratorial comprovou a presença de sêmen dele no corpo dela.


Mulheres no jornalismo esportivo


Para o jornalista do SporTV, há dois fatores principais que, agora, fizeram Cuca ser cobrado pela condenação, mesmo após ela já ter prescrito. Uma das razões é a presença de mulheres no jornalismo esportivo.


“Esse assunto [na época] não foi tratado como tabu, e acho que é fundamental trazer como um ponto importantíssimo nos dias de hoje que é a presença das mulheres na imprensa esportiva, de um modo que a gente não via antes. E é óbvio que, como no Brasil uma a cada três mulheres relatam ter sido vítima de abuso sexual, é claro que uma notícia dessas pega diferente na mulher do que no homem”, disse.


“E a presença de mulheres no debate esportivo tornou essa discussão mais forte, essa discussão essencial”, disse.


Empoderamento da torcida feminina

Outro fator apontado pelo jornalista é o destaque que o time feminino de futebol do Corinthians conquistou e o empoderamento de sua torcida de mulheres.


“O Corinthians tem hoje muito mais sucesso esportivo no futebol feminino que no masculino. O futebol feminino do Corinthians é a hoje a grande referência da América do Sul nesse esporte. […] E o Corinthians empoderou as suas atletas, elas têm voz ativa o time”, afirmou.


Influência da condenação de Robinho

Rizek também acredita haver influência, hoje, da condenação de Robinho na Itália por estupro. Ele acredita que a repercussão do caso intensificou o debate sobre outros casos de atletas envolvidos em crimes sexuais.


“Em 2020, quando o Robinho ainda não estava condenado em todas as instâncias, mas você já tinha acesso a detalhes do processo na Itália do crime de estupro, houve uma gritaria da opinião pública, de vários jornalistas, [de se perguntar] ‘espera aí, como é que o Santos vai contratar um jogador que está sendo condenado […] por estupro?’”, declarou Rizek.


Demissão simbólica

A repórter de esporte da TV Globo Gabriela Moreira afirmou em O Assunto considerar a saída de Cuca do Corinthians algo “simbólico”.


“Cuca, mesmo tendo classificado o Corinthians, pediu pra sair porque lhe foi insuportável a cobrança por algo que ele fez extra campo. A partir do Cuca, teremos outros casos – assim eu espero que aconteça – que a sociedade, que o mundo do futebol, perceba que ele não está desconectado da sociedade.”


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