Isso se explica porque, mais do que uma contração da massa cinzenta, o que ocorre é que, durante a gravidez, o cérebro passa por um “período extraordinário de reorganização”, graças à neuroplasticidade, que é a capacidade que o cérebro tem de se recuperar, se reestruturar e se adaptar a novas situações.
Em outras palavras, há um “rearranjo” da massa cinzenta para responder às necessidades próprias à maternidade.
“É um refinamento dos circuitos neurais associados à maternidade, uma adaptação, não um déficit”, explicou à BBC News Mundo Bridget Callaghan, uma das autoras da pesquisa e doutora pela Universidade da Califórnia.
“Os cérebros das mães mudam sua capacidade de resposta aos sinais de um bebê. Por exemplo, o cérebro de uma mãe é muito bom em diferenciar o choro de seu próprio bebê do de outros. Isso permite que cuidem melhor de seus nenéns”, acrescenta.
De acordo com o estudo, essas mudanças, que podem durar até seis anos após o parto, não são observadas apenas em mães biológicas, mas também em pais e mães que não são biológicos.
“Vemos que há mudanças cerebrais independentemente de a pessoa dar à luz, à medida que aprendem o conjunto de comportamentos necessários para manter seus filhos vivos”, destaca o estudo.
Bridget Callaghan explica que isso sugere que algumas mudanças cerebrais são impulsionadas por hormônios e outras perecem ser impulsionadas socialmente.
O estudo também aponta que a maternidade traz um grau semelhante de modificações morfológicas do cérebro ao que é observado durante a adolescência.
Esse estágio de desenvolvimento é chamado de “matrescência”.
“Tanto a adolescência quanto a maternidade são janelas neuroplásticas sensíveis caracterizadas por mudanças hormonais na atenção, motivação, cognição e comportamento, necessárias para a adaptação às novas demandas da vida”, diz o estudo.
Para Bridget Callaghan, essa descoberta permite que, de agora em diante, vejamos a maternidade como um “verdadeiro período de desenvolvimento, no qual ocorrem mudanças realmente rápidas, tanto a nível biológico, hormonal e cerebral, como a nível psicológico e social.”
Neste ponto, os acadêmicos consideram importante ressaltar que a perda da memória ou confusão mental que algumas mulheres dizem experimentar também pode ser explicada por fatores externos, como falta de sono e estresse.
Além disso, dizem eles, muitas vezes há um “viés de atribuição” à gravidez para justificar todas as coisas que acontecem com as futuras mães.
“Você esquece suas chaves o tempo todo, mas quando as esquece durante a gravidez, culpa a gravidez”, explica Callaghan.
Isso, diz a pesquisadora, tem contribuído para uma imagem negativa da capacidade cerebral das mulheres que vão dar à luz.
“Existe um componente muito forte de sexismo por trás do conceito de baby brain ou cérebro de bebê”, diz ela.
“Temos tido uma espécie de visão paternalista das mães e de sua capacidade. E creio que é importante enfatizar os elementos positivos e o quanto é difícil ser mãe para que possamos começar a apreciar o trabalho que elas fazem”, acrescenta.
Considerando tudo isso, pode ser que minha irmã tivesse razão. Esquecer as chaves de casa e o encontro com as amigas podem ser explicados pelo fenômeno do baby brain.
Mas quem disse que isso é ruim? Agora sei que meu cérebro estava se “reacomodando” (e possivelmente se preparando para a avalanche que viria).