O Ibovespa fechou em queda de 1,04% nesta segunda-feira (20), aos 100.922 pontos. O principal índice da Bolsa brasileira não conseguiu acompanhar a alta do exterior, tendo sido impactado, principalmente, pelo noticiário político local.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu hoje, em cerimônia de relançamento do programa Mais Médicos, que a saúde pública “não pode ser refém do teto de gastos”, que é necessário mais investimentos governamentais e que os livros de economia “estão errados”. Lula voltou a destacar que investimentos e avanços sociais não podem ser colocados como gastos e a defender o uso de bancos públicos para a oferta de crédito e o financiamento do desenvolvimento do país, o que causou incômodo.
As declarações vêm na mesma semana em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve apresentar o novo arcabouço fiscal. Em paralelo, nomes do PT voltaram a pressionar Haddad, publicamente e nos bastidores, cobrando um texto flexível, que preveja até dose de expansionismo fiscal para estimular o crescimento econômico.
O ministro da Fazenda minimizou o fogo amigo e falou que o projeto de lei complementar que vai tratar do assunto irá ao Congresso Nacional antes do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que, por lei, precisa ser encaminhado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento até 15 de abril. Já Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, defendeu que o arcabouço será inteligente e incluirá curva da dívida, superávit e controle de gasto.
“Teoricamente, deveríamos ter surfado uma alta, mas por conta de cenário político, o Ibovespa caiu. O mercado aqui está muito dependente do arcabouço fiscal, sendo que investidores querem destrinchar o que será apresentado. Segundo o alto escalão, o mercado irá gostar das propostas, mas investidores ainda estão céticos, querem ver qual será o impacto nas contas públicas”, explica Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
A curva de juros brasileira fechou sem sentido único. Enquanto os DIs para 2024 e 2025 ganharam quatro e 3,5 pontos-base, a 13,01% e 12,11%, os para 2027 e 2029 perderam, respectivamente, 1,5 ponto e dois pontos, a 12,92% e 13,15%.
Companhias mais dependentes do mercado interno, contudo, caíram forte por conta da pressão na ponta curta. As preferenciais da Alpargatar (ALPA4) recuaram 6,96%, as ordinárias da EzTec (EZTC3), 6,69% e as ordinárias da Locaweb (LWSA3), 6,39%.
O dólar porém perdeu força frente ao real, com queda de 0,52%, a R$ 5,242 na compra e a R$ 5,243 na venda. A moeda americana caiu mundialmente, sendo que o DXY, índice que mede sua força frente a outras divisas de países desenvolvidos, recuou 0,38%.
A aversão ao risco caiu lá fora, o que justifica, parcialmente, o enfraquecimento da divisa americana. Investidores ficaram mais otimistas após o anúncio, no final de semana, da compra do Credit Suisse pelo o UBS, com ajuda de um pacote elaborado por reguladores suíços.
Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 1,20%, 0,89% e 0,39%.
“O Ibovespa não conseguiu aproveitar o bom humor externo e chegou a tocar os 100 mil pontos. O índice operou em sentido contrário dos seus pares estrangeiros, que se beneficiaram da ação coordenada de vários Bancos Centrais para dar suporte à liquidez do mercado financeiro global, mesmo com alguma cautela pelo aguardo da decisão de juros do Federal Reserve na quarta”, explica Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
Ele ainda aponta para o fato de que o volume transacionado hoje também esteve abaixo da média, refletindo a cautela dos investidores, que seguem atentos às várias frentes de incerteza externas e internas. Além do Fed, o Banco Central brasileiro também define o que acontecerá com a taxa de juros do país na próxima quarta.
Fonte: InfoMoney