Foi um dia feliz na vida da menina Jaíne Kemilly Rocha das Chagas, de 10 anos, moradora da Cidade do Povo. Pela primeira vez, ela esteve à frente de um oftalmoscópio – o nome do equipamento que avalia as condições do fundo do olho por meio de uma lente especial – e será incluída no programa de doações de óculos da Secretaria de Estado de Educação. As dores de cabeça a atrapalham nos estudos do 4º ano, na escola Frei André Ficarelli, uma das sete instituições públicas de ensino localizadas no residencial.
Lar de ao menos 15 mil pessoas, o maior conjunto habitacional da Amazônia foi beneficiado, neste sábado, 3, por mais uma edição do programa Acre Pela Vida, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) numa parceria fundamental com a Fundação Hospitalar do Estado do Acre (Fundhacre) e o seu já consagrado programa Fundhacre na Comunidade.
Pelo menos 300 pacientes moradores da Cidade do Povo, entre crianças, jovens e adultos, já encaminhados dos centros de saúde da região para a Fundhacre, foram atendidos pelos profissionais das quatro especialidades oferecidas, enquanto que ações educacionais em saúde dental com a garotada eram promovidas pela Faculdade Estácio/Unimeta e pela Associação Brasileira de Odontologia no Acre (ABO/AC). As instituições levaram oito acadêmicos do curso de Odontologia para essas ações, desenvolvidas no espaço do Centro de Gastronomia e Hospitalidade Miriam Assis Felício.
Os cerca de 300 moradores atendidos passaram pela Regulação do Sistema de Saúde, termo usado para aqueles que esperam por consultas, exames e cirurgias conforme o seu problema de saúde. Portanto, eles puderam consultar os médicos nas áreas de pediatria, ortopedia e de oftalmologia, além da fisioterapia, que ofereceu massagens e tratamento para dores musculares.
A mãe de garotinha Jaíne, que abre esta reportagem, também levou o filho mais novo para a pediatria. “Enquanto ela está lá em cima com a minha mãe [Maria Antônia Souza Lima, 43 anos], a avó dela, eu estou aqui para ver se a saúde do Ravi está bem”, ressalta Karina Rocha Lima, de 26 anos, com o garotinho Ravi Lucas Lima, de apenas 10 meses de vida.
“Moço, sabe!? Essas coisas, a gente não pode deixar passar. Quando a agente comunitária passou lá na minha casa pra dizer que era pra levar minha família pra consulta, eu fiquei muito feliz. Pra gente se deslocar daqui pra Fundhacre vai uns 15 quilômetros só de ida. Mas hoje, olha aí que legal! Os doutores estão todos aqui, graças a Deus. Eu só não trouxe a minha Maria Luíza de 5 anos, que ficou com o pai”, diz Karina, alargando as sobrancelhas e apertando os olhos, denunciando o sorrisão dentro da máscara que encobria parcialmente o rosto.
A equipe técnica do Acre pela Vida também distribuiu pães com manteiga e suco para a comunidade. “Dessa vez, estamos com os nossos parceiros da Saúde, pessoas dedicadas a bem servir e isso é muito gratificante par nós”, afirmou a assistente social Rafaela Barbosa, integrante do time da Sejusp no programa Acre pela Vida na Cidade do Povo.
Síndrome do pânico, artrose e dores na coluna, o martírio de Lucimar aliviado pelos médicos
A dona de casa Lucimar Pereira Dutra, 59 anos, há pelo menos 4 anos aguardava por uma consulta que poderia trazer alívio às dores que sente na coluna cervical, e na alma. A mulher, que mora com a filha portadora de uma doença crônica, porém controlável, viu o neto nascer livre da doença, mas a situação a deixou ainda mais vulnerável mentalmente a ponto de, há dez anos, começar a tomar remédios controlados para dormir.
“Tenho síndrome do pânico e depressão. E pra piorar as coisas, a artrose me deixa com dores na coluna e meu coração ‘crescido’ me dá muito cansaço. Nem posso ficar em pé por muito tempo. Esta consulta aqui, perto da nossa casa, é uma mão na roda pra nós”, diz ela, que vive da renda do Auxílio Brasil, enquanto a filha recebe pensão do ex-marido. Eles estão separados há dois anos.
Para Thiago Barros, coordenador-geral da Escola de Gastronomia e Hospitalidade Miriam Felício, a presença das equipes do Acre pela Vida e do Fundhacre na Comunidade na instituição reafirma o sentimento de prestação de serviço contido na filosofia da escola. “São pessoas visivelmente muito carentes. Pessoas que dependem totalmente do Poder Público, e proporcionar um dia desses para elas é exercer o papel do estado, de servir e amparar quem precisa”, acrescenta Barros.
Profissionalismo e carinho pelas pessoas é o lema dos profissionais da Fundhacre
“É sempre uma felicidade imensa quando somos chamados para uma edição como esta, pois aproxima a comunidade dos serviços da Fundhacre. A tarefa de trazer esses serviços para mais próximo das pessoas não é fácil, mas é extremamente gratificante para a gestão da Fundação estar colaborando com o programa Acre pela Vida, principalmente quando se trata de cuidar de vidas humanas”, afirmou Rozângela Farias, coordenadora do Fundhacre na Comunidade.
O esforço pessoal do diretor-presidente da Fundhacre, o psicólogo João Paulo Silva e Silva, contribui para que os trabalhos da Fundação se tornem cada vez mais céleres e dinâmicos, a exemplo dos mutirões de cirurgias e os transplantes de órgãos que não param de ser realizados.
“Com saúde não se brinca. E essas ações são uma das prioridades do governo Gladson Cameli, de levar o bem-estar para as pessoas, sanando suas exigências na área da saúde e proporcionando-lhes mais qualidade de vida e bem-estar físico”, destaca João Paulo Silva.
Projeto Um Sorriso do Tamanho do Brasil é parceiro do programa da Sejusp
O projeto Um Sorriso do Tamanho do Brasil, de âmbito nacional, no Acre é tocado pela ABO/AC, colaborando com o programa Fundhacre na Comunidade. A ideia é ensinar prevenção à cárie e a escovação corretamente a crianças, fazendo ainda a aplicação de flúor e a distribuição de kits com pasta e fio dentais.
Wânia Tojal, professora do curso de Odontologia da Estácio/Unimeta, afirma que a higiene dental com brincadeiras permite que as crianças aprendam a cuidar de seus dentes e gengivas da forma mais espontânea possível. “A ideia é que eles aprendam de uma forma divertida, sejam desenhando, sejam ouvindo historinhas sobre o tema”, pontua a profissional.
Rafael dos Reis Pimentel, 25 anos, está no 10º período do curso e integrou a equipe neste sábado. Para ele, o aprendizado fora da faculdade é muito importante.
“Enquanto somos voluntários e ensinamos coisas boas para a comunidade também estamos aprendendo muito. E aqui, com esse público infantil, que podemos crer que teremos jovens e adultos mais conscientes da importância de um sorriso saudável no futuro”, acrescenta Pimentel.
Conforme Luiz Felipe Castelo, gerente de Assistência do Centro de Especialidades Odontológicas da Fundhacre, as ações do programa Acre pela Vida são uma oportunidade importante para que a o centro do qual ele coordena, possa ser mais conhecido pela população.
“Lá na Fundhacre, temos um papel importante para a comunidade, que passa pelas cirurgias orais menores, pela endodontia, que é o tratamento de canais dentários, até a periodontia, que cuida da gengiva, além de próteses totais e de pacientes especiais. Em inúmeras edições do programa Acre pela Vida, que já participamos, só temos resultados satisfatórios”, finaliza Castelo.
Agência Brasil