URGENTE: “Eles querem que a Via Verde não faça mais parte da Apa do Amapá, que passasse a ser Zona Urbana” diz Guia de Turismo

De acordo com a guia de turismo Adalgisa Bandeira de Araújo, que possui mestrado em Turismo e Cultura pela Universidade de Brasília, um documento enviado por empresários e conselheiros pedem a desafetação da Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá.


Adalgisa destaca que essa área é um dos atrativos turísticos de grande potencial da região do Alto Acre, por se tratar de uma área de conservação ambiental, além de ser um atrativo de Rio Branco.


“O turista quando vem para o Acre ele não vem em busca de praia, de desfrutar das coisas que ele desfruta em outras cidades, como as cidades litorâneas. Quando ele vem para cá, ele sabe que é Amazônia, então ele quer estar em uma área de floresta e o primeiro contato dele é com a capital Rio Branco e se tiver algo nessas características nas imediações de Rio Branco já será de grande ganho. O turista vai contribuir com a economia do município e é o ponto que nós, como guias de turismo, eu especificamente, levaria a sério na APA Lago do Amapá que é um local preservado”, diz.


Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A Guia de turismo frisa ainda que ali tem a categoria de Área de Preservação Ambiental e tem um grande potencial a ser desenvolvido, tanto da fauna como da flora, que é algo que atrai muita atenção, além de ser ponto de aves migratórias.


“Tem uma espécie de aves que vem todos os anos para lago do Amapá, além da beleza cênica do lugar, através do lago que é o meandro do Rio Acre e ele tem um formato de uma ferradura. É um local muito piscoso e os moradores dependem muito daquela localidade. Mas o lago em si é apenas um atrativo que agrega a toda a APA, mas o atrativo maior é a APA toda em si”, pontua.


Os moradores do local também tem a mesma opinião da guia de turismo e acreditam que se essa região for liberada, por meio desse documento, pode acarretar com a perda na questão turística.


“Eles querem que a Via Verde não faça mais parte da APA do Amapá, que passasse a ser Zona Urbana, só que estamos em cima do maior aquífero do estado. Eu me criei aqui e conheço essa área como as palmas das minhas mãos e não concordo com isso, porque é algo que, para o futuro, vamos ter problemas, pois sabemos que se houver essa desafetação e deixarmos destruírem nosso lençol para o futuro, como vai ficar? Acredito que temos que defender hoje, pois não podemos viver sem água. A APA é benéfica para nós moradores e temos que conservar o que temos em nossas mãos e o que ainda resta, que antigamente era tudo floresta e hoje não é mais”, disse Nilcélia Silvestre Bezerra, que mora há 56 anos na região.


Foto: Reprodução

A Área de Proteção Ambiental (APA) Lago do Amapá é uma unidade de conservação estadual de uso sustentável, localizada no município de Rio Branco, capital do Estado do Acre, criada em 26 de dezembro de 2005 pelo Decreto Estadual nº 13.531, sob gestão da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e das Políticas Indígenas – SEMAPI, nos termos do Art. 8º da Lei Complementar nº 300, de 09 de julho de 2015.


Visando proteger e preservar a área foi elaborado um Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá, um documento com 41 páginas que aponta com riqueza de detalhes os motivos pelo qual há a necessidade de manter o local preservado.


Por outro lado, pelo menos 35 empresários assinaram um documento com a justificativa da desafetação da área, que foi protocolada na última reunião, que ocorreu dia 11 de fevereiro.


No documento salientam que o Anel Viário de Rio Branco foi iniciado antes da criação da APA e objetivou o crescimento do município e a descentralização de alguns serviços de um lugar que, segundo consta, era de grandes extensões com enormes desabitados e que aos poucos foram sendo ocupados tanto por empresas, quanto por moradores.


Foto: Reprodução

Ainda na justificativa, é destacado que atualmente há instalado 60 empreendimentos, dentre grandes e pequenos, e a não desafetação da respectiva área acarretará a ocorrência de conflitos e outras consequências , devendo serem lembradas, não somente quando são fiscalizadas e multadas  pelos respectivos fiscais do Meio Ambiente.


Nossa equipe de reportagem entrou em contato com conselheiro representante da Fecomércio do Acre, o Senhor Elvando Albuquerque Ramallho, mais conhecido como Noel, que é quem assina o documento. Ele informou que os empresários não querem ir contra as leis nem querem desrespeitá-las, mas são contra o excesso por parte de quem protege o local.


A próxima reunião para a aprovação desse documento está prevista para ocorrer na próxima sexta-feira, 18, e a guia de turismo Adalgisa Bandeira, teme que seja aprovado.


”Está correndo risco de os empresários ganharem, porque tem muitos deles que fazem parte do conselho e cada um tem um voto e a presidente só tem um voto, Então temos que mobilizar mais conselheiros para que votem junto com a presidente e também mobilizar a sociedade civil, a comunidade rio-branquense, por isso eu estou divulgando para a sociedade ficar ciente”, disse Adalgisa.


Alieth Maria, que também é moradora e está à frente da Associação dos Moradores e Produtores Rurais da Estrada do Amapá, compartilha do mesmo pensamento de que a desafetação vai impactar diretamente na questão da água que abastece a capital.


“Nos termos que está escrito no documento ele vai confrontar com o que já existe de fato que é a bacia do Rio Acre, que é o aquífero Rio Branco, inclusive já reconhecido pela Agência Nacional de Águas, e que segundo os estudos da própria SEMAPI (Secretaria de estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas) ele existe e isso tudo é um conjunto de recarga e de captação de água, porque nós temos a ETA (Estação de Tratamento de Água) também próximo da terceira. Então é todo uma área que se organiza de uma forma dada pela natureza, dada por Deus, de que no final ela vai fazer o quê? Favorecer abastecimento de água de Rio Branco. Até nos relatórios da SEMAPI coloca que aqui já é o final de tudo isso, só resta essa parte aqui que está dentro da APA e, havendo essa desafetação, nos termos que eles estão pedindo o prejuízo é diretamente para questão da água, da recarga da água e da chegada da água até o Rio Acre. Essa é uma questão que precisa ser analisada por que vai impactar”, salienta a representante.


Foto: Reprodução

Ainda de acordo com ela, há outros prejuízos causados com a desafetação.


“Se for pensar hoje na questão climática, onde todas essas áreas elas são mantidas por benefício da humanidade, nós vamos ter problemas gravíssimos, inclusive um que quase ninguém fala, mas é aquele de geração de renda da própria comunidade, porque um dos desafios que a SEMAPI está trazendo é a geração de renda através do turismo turismo sustentável de base comunitária. O culturismo ele está despontando como uma opção número um,  tanto porque para Rio Branco seria interessante uma área desse tamanho trabalhando com várias questões ligadas ao turismo, como também para cultura para questão da histórico-cultural, porque aqui nós temos a história do Acre.  Tirar esse pedaço da Via Verde é quebrar harmonia do todo, é gerar renda sim para uma parte que está ali, mas e o resto? Pois o todo ele se complementa, ele se fortalece e traz a possibilidade de geração de renda verde que também é uma coisa muito interessante. Se for pensar em outros detalhes vamos encontrar outros outros prejuízos para a comunidade como um todo, mas não só para comunidade que mora aqui, mas para Rio Branco”, finaliza.


Entramos em contanto com o Secretário do Meio Ambiente, Israel Milani, mas até o fechamento dessa edição ele não nos deu retorno.


Compartilhar

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Últimas Notícias