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PERIGO: Rio Madeira tem mercúrio 95 vezes acima do limite aceitável, diz PF

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O setor técnico científico da Polícia Federal (PF) no Amazonas realizou um estudo e identificou uma concentração de mercúrio no Rio Madeira até 95 vezes acima do limite aceitável pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que é de 200 nanogramas por litro d’água.
Em amostras de água, fauna, flora e material genético de ribeirinhos, foram encontradas em uma das sete pessoas concentrações três vezes maiores do que os níveis considerados aceitáveis pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
De acordo com o relatório, amostras de cabelo de ribeirinhos indicam que eles estão consumindo água ou alimentos contaminados e concentrando o metal pesado nos tecidos corporais.

Segundo o professor de Biologia e coordenador do laboratório de Biogeoquímica Ambiental da UNIR, Wanderley Bastos, é importante que se faça um maior acompanhamento das atividades no Rio Madeira.
“Há necessidade de monitoramento constante nas águas, e especialmente, no pescado e populações mais isoladas. A questão da presença do mercúrio em elevadas concentrações em alguns peixes e em ribeirinhos isolados é antiga. Do ponto de vista ambiental, necessitamos da implementação de monitoramento de longo prazo desses níveis, pois não é somente o garimpo de ouro, o vilão nos lançamentos de mercúrio. Temos também o mercúrio de origem natural depositado nos solos amazônicos ao longo de séculos”, destacou ele.

Detalhes
O mercúrio é utilizado no processo de separação do ouro de outros sedimentos que são sugados do fundo do rio com o uso de dragas.
A coleta das amostras foi realizada pelos agentes da Polícia Federal durante a Operação Uiara, que destruiu 131 dragas de garimpo ilegal entre os dias 27 e 29 de novembro.
As amostras de água e sedimento mostram indicadores de contaminação ambiental e confirmam o lançamento dos contaminantes a partir das balsas, lançados na superfície no processo de explotação do ouro e principalmente no rejeito da atividade.
As folhas analisadas indicam que pode haver contaminação da vegetação às margens do rio Madeira, podendo alcançar, inclusive, pequenas lavouras.
A inalação do gás emitido pelo mercúrio ou o consumo de água e peixes contaminados com o produto podem causar distúrbios graves, como problemas neurológicos e insuficiência renal.

Para Wanderley Bastos, o desafio é parar com a poluição do curso d’água.
“O desafio é extinguir os lançamentos do mercúrio. Depois que cai no rio pouco se pode fazer, pois o mercúrio metálico na sua fase líquida tem densidade próxima a 14 g/cm3 e a da água é 1g/cm3. Portanto, o mercúrio vai para o fundo. Outra forma de lançamento para o meio ambiente é na sua fase de vapor, no processo de separação do mercúrio-ouro. Essa etapa, além de contaminar o operador, caso não esteja fazendo uso do ‘cadinho’ (destilador fechado usado na separação dos metais), também contribui para contaminação do meio ambiente, pois após a volatilização, o mercúrio irá se depositar e chegar até um ambiente aquático e o mesmo processo descrito acima irá ocorrer”.
O superintendente da PF no Amazonas, Leandro Almada, disse que os dados confirmam a gravidade das atividades clandestinas. “Os resultados desse primeiro laudo nos determinam a continuidade em 2022 das operações no Madeira e a sua extensão a outros locais de garimpo ilegal no Amazonas, como os rios Jutaí, Japurá e afluentes”.
A Polícia Federal ainda realiza estudos técnicos de outras amostras que foram colhidas na região de Humaitá (AM) e de Porto Velho, cidades que também são cortadas pelo rio Madeira.
O pesquisador da UNIR acredita que existe a possibilidade de unir a extração do ouro com a preservação da floresta, sem a poluição do Rio Madeira.
“Há garimpeiros em regiões da Colômbia fazendo uso de plantas em substituição ao mercúrio. O ouro encontrado no Madeira é muito fino e não sabemos se esse procedimento teria sucesso aqui. Estamos estudando isso com pesquisadores da UEA, IME, UFRJ e UNIR. Mas precisamos urgentemente dar um desfecho sobre essa questão dos garimpos de ouro. Buscar a regulamentação com responsabilidade e sustentabilidade me parece ser a melhor solução, pois caso contrário veremos as mesmas cenas nos próximos períodos de águas baixas”, pontuou Wanderley Bastos.
 
 


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