Uma semana depois de o Ministério da Agricultura colocar o Acre em quarentena devido o praga que atinge a produção de cacau e cupuaçu, a chamada Monilíase do Cacaueiro (Moniliophthora roreri), o governo publicou um decreto nesta sexta-feira (13) criando um gabinete temporário de crise devido o risco de surto da praga.
Praga que atinge plantio de cacau e cupuaçu é monitorada no AC — Foto: Divulgação/Mapa
Decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), depois de ser detectado um foco do fungo, pela primeira vez no Brasil no município de Cruzeiro do Sul, em julho.
Após a identificação da praga, equipes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Instituto de Defesa e Agropecuária do Acre (Idaf-AC) iniciaram o trabalho de fiscalização e orientação a produtores de cacau e cupuaçu. No dia 5 de agosto, o Mapa declarou o estado do Acre como “área sob quarentena”.
Conforme o decreto desta sexta, o gabinete tem como objetivo monitorar, mobilizar e coordenar as atividades dos órgãos públicos estaduais para adoção das medidas necessárias ao enfrentamento e minimização dos agravos causados pela praga.
Além disso, deve integrar e articular as ações de contenção, supressão e erradicação da praga quarentenária, nos termos do plano de contingência elaborado para esta finalidade.
O gabinete de crise será composto por representantes de nove secretarias e órgãos do governo e podem participar das reuniões, que devem ocorrer a cada sete dias, representantes de entidades privadas com atuação no setor econômico afetado pela praga.
A secretaria executiva do gabinete será gerenciada pelo Idaf, que também deve ser responsável pelas despesas decorrentes da execução do plano, com apoio de recursos do estado e provenientes de convênios com órgãos federais.
Prejuízo
Os agricultores e extrativistas que atuam com a produção de cacau e cupuaçu no Acre devem sofrer prejuízos na produção após o Mapa colocar o Acre em quarentena devido à praga que atinge as plantas.
O superintendente do Mapa no Acre, Fernando Bortoloso, disse que estão fazendo uma varredura completa na área considerada como de maior risco de detecção de possíveis novos focos da praga, por meio do mapeamento das plantas hospedeiras, avaliação dos sintomas, coleta de amostras para análises laboratoriais e erradicação de frutos e materiais vegetais com sintomas característicos do fungo.
“Diante da constatação de que o problema está se manifestando na área urbana de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima e que não foram identificados quaisquer danos a cacauicultura do estado, não se vislumbram no momento ações de apoio direto aos agricultores e extrativistas. Contudo, as ações de combate e erradicação beneficiarão toda a comunidade agrícola do estado”, disse.
O superintendente não informou que tipo de prejuízos os produtores vão sofrer com a quarentena. E disse que o foco é em uma área urbana na periferia da cidade de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima.
Descoberta
Um morador de Cruzeiro do Sul percebeu a doença nas frutas e acionou o Idaf no dia 21 de junho. No dia seguinte, um servidor do instituto esteve no local para verificação e foram enviadas amostras para análise.
O laudo oficial do laboratório com a confirmação da praga foi emitido no último dia 7 de julho. Após a descoberta do foco, equipe do governo federal foi mobilizada para fazer o trabalho de monitoramento no estado.
Até então, o fungo já havia sido encontrado em todos os países produtores de cacau da América Latina, exceto o Brasil. Para evitar a proliferação do fungo, os moradores estão recebendo visita das equipes e orientações.
Entre as orientações estão, no caso de suspeita, manter a área isolada, e passar um produto na planta para matar a praga. Já na área onde não há suspeita, as equipes mostram como é a doença para que a pessoa fique alerta e, por fim, orientam que a área seja mantida limpa.
Sobre o fungo
A monilíase do cacaueiro é uma doença que causa danos diretos porque o ataque do fungo é exatamente no fruto, que é a parte comercial, tanto do cacau quanto do cupuaçu. O fungo não causa danos à saúde humana, segundo estudos, mas traz graves riscos econômicos.
O diretor técnico do Idaf, Jessé Monteiro, disse que o fungo é de fácil proliferação e, por isso, é importante esse trabalho para não causar prejuízos.
Os produtores acreanos começaram a ser alertados sobre a praga em 2018. O Idaf fez campanhas de alerta e orientações. Na época, a engenheira agrônoma do Idaf, Lidiane Amorim, explicou que o “Acre era considerado como alto risco para a entrada dessa doença, porque fazemos fronteira com esses países”.
Em 2019, servidores do instituto visitaram comunidades rurais de Cruzeiro do Sul para orientar os produtores sobre a monilíase. Na oportunidade, foram cadastrados mais de 2 mil propriedades produtoras de cupuaçu e cacau.