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Diretora do Into-AC desabafa e diz que trabalhadores estão ‘cansados de carregar fardo da irresponsabilidade de quem ignora restrições’

Um desabafo emocionante, comovente. Foi assim que uma carta, escrita pela diretora do Instituto de Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC), o hospital de campanha do estado, viralizou, na noite dessa sexta-feira (5), em Rio Branco.


Com o aumento no número de casos da doença e de óbitos no Acre, em uma carta, divulgada em um grupo de profissionais de saúde, Lorena critica as pessoas que não estão cumprindo a quarentena e colocando suas vidas, a das outras pessoas, e a dos profissionais de saúde em risco.


“Não sai da minha cabeça os esforços de toda a equipe que trabalha no Into-Acre. Eles se dedicam à exaustão para salvar vidas na pandemia. Posso afirmar que 99% de todo o tempo que estão trabalhando é de suor, de esforço e dedicação. Aqui não vem servidor que pensa em se divertir ou ganhar rios de dinheiro. É gente que honra o seu juramento, seja ele qual for, em prol da vida. E esse amor incondicional ao próximo é percebido no ar da unidade.”


Em outro trecho, ela diz que cada alta, cada perda, é um turbilhão de emoções, porque, segundo Lorena, os profissionais de saúde são seres humanos, se apegam aos pacientes e seus parentes e também sentem a dor deles.


“Muitas vezes, deixamos nossos familiares doentes em casa e só podemos acompanhá-los por telefone. Até isolado deles, ficamos. Mas, uma coisa é certa, enquanto humanos, também queremos abraçar, beijar, receber o carinho, mas, principalmente, ser respeitados.”


99% de esforço, 1% de indiferença humana

Ela faz duras críticas às pessoas que não seguem as restrições para evitar a proliferação da Covid-19.


“E onde está o 1%? É a porção que nos deixa mais tristes: a incompreensão de algumas pessoas, por acreditarem que não fazemos o nosso melhor. Desde os primeiros casos no Acre, o governador Gladson Cameli vem empenhado em fazer o melhor para que os acreanos passem pela pandemia com o menor dano possível às famílias. Esse esforço é real, nós o vivemos aqui no Into-Acre, todos os dias. Dito isso, deixe-me contar um segredo a você: NÃO É CULPA NOSSA, a sua contaminação, embora sempre vá sobrar para nós todas as consequências da aglomeração gerada aí fora.”


A diretora do Into-AC alerta ainda para que políticos conheçam de perto a realidade dos profissionais de saúde durante a pandemia e pede que eles não se aproveitem da situação.


“E o meu recado vai também para a maioria dos senhores políticos do Legislativo. Senhores, entendam bem, esse não é o momento de se aproveitar da desgraça dos outros. Se quiserem ajudar, venham! Venham aqui nos visitar, mas não como julgadores de uma realidade da qual vocês nada entendem e nem fazem questão de compreender. Venham, mas venham com o coração e mente abertos. Venham para contribuir, não para divergir do que não conhecem.”
Ela diz ainda que a mensagem é para aqueles que sentem medo de conhecer de perto a realidade dentro das unidades de saúde. “A mensagem é para aqueles que, porventura, se borram de medo de entrar aqui, de se aproximar da entrada. Medo do qual nós, profissionais, não temos direito e não podemos ter”, acrescenta.

Caminhadas em parque perto do Into

A diretora do hospital reclama ainda da falta de respeito de algumas pessoas que insistem em se aglomerar em uma das pistas de caminhada de Rio Branco que fica nas proximidades do hospital.


“Assim, verão lá o quanto algumas pessoas que se dizem atletas, músculos à mostra, burlando o isolamento social, aproveitam para fazer escárnio dos nossos pacientes, desdenhando da miséria humana da qual eles são os mais miseráveis com suas caminhadas egoístas nos arredores do hospital.”


Em outro trecho, ela desabafa e diz que essas mesmas pessoas acabam precisando do hospital, após se contaminarem com a Covid-19.


“Ironicamente, são esses mesmos ‘sarados’, alheios ao sofrimento do próximo, que dois ou três dias depois, acabam vindo parar nos nossos leitos de UTIs, onde sua arrogância não tem valor. Se tornam totalmente frágeis, de aspecto inimaginável, de quando antes estufavam o peito e gritavam sem máscara para o alto, dizendo: “Isso, eu não pego. Essa doença é para os fracos.”


Ela pede ainda que os políticos ajudem os profissionais de saúde a conscientizarem a população sobre os perigos da doença, que é fatal.


“Se não quiserem entrar aqui, senhores ditos homens públicos, então, lhes peço encarecidamente que pelo menos nos ajudem a conscientizar esses leões egoístas, insensatos, a voltarem para casa, antes que se tornem gatinhos indefesos aqui dentro. Se quiser, venham, mas venham com respeito aos profissionais que aqui estão. Trabalhadores cansados de carregar, muitas vezes, o fardo da irresponsabilidade de quem ignora as restrições.
Ao final da carta, Lorena usa uma frase que, segundo ela, lhe anima diante do cansaço. “Ninguém joga pedras em árvore que não dá frutos.”

49 vítimas fatais nos primeiros cinco dias de março

O Acre confirmou, nos primeiros cinco dias do mês de março, 49 vítimas fatais pela Covid-19. O número é uma média de 10 mortes pela doença por dia. O Acre tem, no total, desde o início da pandemia, 1.047 óbitos causados pelo novo coronavírus. A quantidade de óbitos tem aumentado drasticamente desde o início do ano. Isso fez com que o estado permanecesse na bandeira vermelha.


1 de março – 360 casos e 14 mortes;


2 de março – 187 casos e 8 mortes;


3 de março – 425 casos e 10 mortes;


4 de março – 378 casos e 7 mortes;


5 de março – 616 casos e 10 mortes.


Covid-19 no Acre

O boletim da Secretaria de Saúde do Acre trouxe a confirmação de mais sete mortes pela Covid-19 neste sábado (6). Com isso, o total de óbitos no estado é de 1.054. Mais 570 novos casos de infecção pelo novo coronavírus também foram registrados, fazendo como que o número saltasse de 59.500 para 60.070 nas últimas 24 horas.


Nessa sexta, o estado atingiu o 2º maior número de novos casos em apenas 24 horas desde o início da pandemia. O recorde foi no dia 23 de fevereiro deste ano, quando foram 621 novos casos em apenas um dia.


O número de exames à espera de análise do Laboratório Central de Saúde Pública do Acre (Lacen) ou do Centro de Infectologia Charles Mérieux continua alto e chegou 479 neste sábado. Há 350 pessoas internadas.


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