Após 40 dias internada, boliviana que viu família ser morta após estupro recebe alta no AC


Após 40 dias internada, a adolescente boliviana de 14 anos que viu a mãe e os dois irmãos serem mortos e também levou quatro tiros após ser estuprada por um acreano teve alta médica do pronto-socorro de Rio Branco nesta sexta-feira (23). A informação foi confirmada pela direção da unidade de saúde.


A menina chegou a passar por três cirurgias, sendo uma no braço assim que chegou no hospital, ainda em setembro, e outras duas no dia 15 de outubro, no braço e no maxilar.


“Ela recebeu alta ontem [quinta, 22] e o caso dela vai permanecer sendo acompanhado pelo Ministério Público”, disse o diretor do PS, Areski Peniche.


Em 18 de setembro, ela apresentou alterações nos exames e, por segurança, foi levada para uma UTI do Hospital da Criança para manter a estabilidade do quadro clínico. No dia 1º de outubro, voltou ao pronto-socorro da capital para aguardar pelas novas cirurgias.


Acompanhamento pelo MP


Desde que chegou na capital acreana, a adolescente tem sido acompanhada por uma equipe do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Infância, Educação e Execução de Medidas Socioeducativas (Caop) do Ministério Público do Acre.


“Quem está acompanhando a questão processual é a promotoria de Acrelândia e nós aqui do Caop, em Rio Branco, estamos fazendo a mediação e dando suporte até ela poder voltar para onde morava. Temos uma técnica acompanhando ela e o pai na saída do hospital até o local onde vão ficar aqui na capital, na semana que vem vai ter retorno médico e também vamos acompanhar e, na próxima sexta-feira [30], ela vai ser ouvida e vamos buscar e deixar também”, informou a secretária do Caop, Vanderleia Alves.


Relembre o caso


O crime ocorreu no último dia 13 de setembro, na área de fronteira entre o Acre e a Bolívia, depois que o pai da menina flagrou um acreano estuprando a filha e decidiu amarrá-lo para chamar a polícia.


Parentes do suspeito de estupro então apareceram e atacaram a família boliviana em sua propriedade, que fica perto das cidades de Acrelândia e Plácido de Castro, no Acre. Após atirar contra a família (mãe e dois filhos morreram), os suspeitos ainda queimaram a casa.


Prisões e apreensões


A Polícia Civil do Acre investiga o caso. Inicialmente dois homens foram presos em flagrante, um deles acabou sendo solto e o outro foi levado ao presídio de Rio Branco.


No dia 17 de setembro, a Polícia Militar apreendeu um menor de 17 anos e conduziu duas pessoas investigadas pela morte da família para a delegacia de Acrelândia. No final do mês de setembro, a Justiça acreana negou o pedido de liberdade feito pela defesa do adolescente.


Na última sexta (16), quatro pessoas foram presas na zona rural da cidade de Acrelândia, no interior do Acre, suspeitas de participar da morte da família boliviana.


O cumprimento dos mandados de prisão preventiva deles foi feito pela Polícia Civil após vários dias de investigações. A família estava em um acampamento montado em uma área de mata fechada.


O delegado Samuel Mendes, responsável pelas investigações, disse ao G1 que entre os quatro presos estão o pai, um casal de filhos e um genro. Do grupo, apenas o pai não teria participado diretamente do crime, mas ele seria o “líder”.


“Ele acabou sendo preso porque seria o patriarca da família, deu suporte. E essa família já vinha agindo há algum tempo na localidade praticando vários delitos, então acabou formando uma organização criminosa e têm praticado vários crimes de furto, ameaça”, disse o delegado.


‘Me levaram tudo’


“Me levaram tudo e mais a vida dos meus dois filhos e da minha mulher”, contou o agricultor boliviano Carlos Ribas, de 49 anos, que perdeu parte da família assassinada.


O pai disse que confiava nos acreanos que tinha contratado para trabalhar na sua casa e que os conhecia há cerca de cinco anos.


Depois do ocorrido com sua família, ele soube que os homens já tinham se envolvido em outras situações de violência.


“Estamos muito abalados realmente. Eu tinha confiança neles, contratei para trabalhar lá na minha propriedade, conhecia há cerca de cinco anos e eles estudaram tudo, até como minha mulher guardava o dinheiro”, disse.


Depoimento da adolescente


O G1teve acesso a um áudio da adolescente contando como ocorreu a chacina. O trecho da conversa é parte do depoimento dela dado à polícia. Muito abalada e chorando, ela detalha como os criminosos agiram.


“Primeiro dispararam na minha mãe e depois disparam em mim, depois dispararam no [nome de um dos irmãos] e depois no meu irmão [nome do outro irmão], que estava atrás de uma árvore.”


A gravação é interrompida quando a adolescente começa a chorar.


Autoridades bolivianas


O consulado da Bolívia no Brasil informou ao G1que está acompanhando o caso, mas que, por recomendação da polícia, não poderia comentar sobre os procedimentos. No dia 16 de setembro, o consulado chegou a dizer que não sabia do crime.


O boliviano que teve a família assassinada fez um apelo às autoridades para que os envolvidos no crime sejam extraditados para a Bolívia.


“Peço por favor, e também falo ao meu país, que eles sejam pegos e extraditados para o consulado. Somos trabalhadores, nunca tivemos nenhum problema em Plácido de Castro, nem em Acrelândia ou Califórnia [vila], mas tive a família baleada, querem tampar minha boca, mas não, a mim não vão calar. Quero que se cumpra a lei e que paguem seus delitos na Bolívia, porque mataram na Bolívia. Vou falar com governador da Bolívia, vou ao Ministério Público, quero Justiça”, desabafou.


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