O Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), por sua Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar, promoveu, no domingo (2), uma roda de conversa com lideranças indígenas sobre violência doméstica e familiar. A atividade ocorreu na Aldeia Morada Nova, no município de Feijó, distante 360 km de Rio Branco.
É a segunda vez que equipes do Judiciário Acreano foram ao local para desenvolver atividades em prol dos direitos das mulheres indígenas. Em cada encontro realizado as indígenas estabelecem confiança para expor seus problemas, tirar dúvidas sobre o que vem a ser violência contra a mulher, e algumas relatam casos de superação e de como começaram a modificar o modo de vida no lar, após entendimentos sobre violência doméstica.
“Somos cientes que essas rodas de conversas são apenas o início de um grande trabalho ainda a ser desenvolvido. Porém, já alcançamos frutos dessas primeiras atividades quando soubemos que alguns maridos passaram a tratar suas mulheres de uma forma melhor estabelecendo o respeito dentro de casa. Diminuíram certos casos de violência, mas sabemos que ainda temos muito a trabalhar para obter resultados bem melhores”, disse a desembargadora Eva Evangelista, responsável pela Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar.
Recepção
A equipe chegou à Aldeia Morada Nova no sábado, 1º, e foi recebida pelo cacique Carlos Brandão, na arena de festividades, onde acontecia rituais com danças e músicas indígenas em alusão ao II Festival Nuke Munuti Peyrani.
Na ocasião, a desembargadora cumprimentou os visitantes e abordou temas relacionados sobre o acesso à justiça, o respeito, paz e o bem-estar social. Anunciou a realização do Projeto Cidadão na aldeia no próximo mês, para uma grande ação social, e enfatizou com ênfase os direitos das mulheres indígenas convidando a liderança para a roda de conversa.
O cacique Carlos Brandão comentou da satisfação em receber a equipe do Judiciário Acreano e destacou a importância das atividades promovidas para os povos indígenas.
“É algo de grande importância receber uma desembargadora em nossa aldeia para desenvolver essas atividades de interesse para todos nós. É oportunidade para conhecermos melhor nossos direitos e fortalecer a nossa cultura”, comentou.
Da recepção também participou a defensora pública de Cruzeiro do Sul, Cláudia de Freitas, que salientou a importância das mulheres indígenas saberem de seus direitos e deveres.
A desembargadora se reuniu ainda com alguns caciques para conhecer hábitos, costumes e tradições locais. Eles explicaram o modo de vida na floresta, falaram das plantas medicinais, rituais e do atual tempo dos jovens fortalecer os mais velhos.
Roda de conversa
A roda de conversa com as lideranças indígenas ocorreu durante toda a manhã de domingo. Na oportunidade as mulheres contaram suas vivencias e questionamentos de casos de violência que já enfrentaram com o marido. Outras expuseram como conseguiram mudar a maneira da convivência para o respeito ser estabelecido no lar, entre outros casos.
A abertura contou com a presença, além da Decana da Corte Acreana e da defensora pública, da representante dos jovens indígena Andressa Shanenawa. A indígena agradeceu a atividade e falou como o assunto é necessário para que as mulheres entendam o significado da violência e as várias formas como ela é praticada.
Feminicídio e todos os tipos de violência doméstica (psicológica, moral, patrimonial e física) foram explicados de maneira facilitada para entendimento. A desembargadora também anunciou a realização do Workshop das Mulheres Indígenas, previsto para novembro, lembrou sobre quando a mulher não tinha direito a voto e da cartilha em linguagem indígena a ser distribuída nas próximas atividades. A Semana Justiça Pela Paz em Casa, que ocorreu entre os dias 20 e 24 de agosto, também foi abordada no encontro.
Uma das participantes ressaltou o quanto gosta de assistir as palestras. “As vezes acontece violência na aldeia, mas já vem daquela cultura de outros povos e se adaptam a essas culturas. Todas as mulheres devem levar essas mensagens, das atividades, para seus maridos. Eu já fui agredida fisicamente pelo meu marido. Mas quando passei a conhecer meus direitos, ele nunca mais me bateu”, comentou a indígena.
Enir Carlos, pedagoga indígena, frisou que quando as mulheres entendem sobre os tipos de agressões param de ser violentadas, pois não aceitam mais viverem dessa forma.
“Quando tomamos atitude de respeito, como nossos maridos querem ser respeitados, a relação melhora. Quando elas entendem isso, mudam a forma de tratar o marido e muita coisa se resolve”, disse.
A aldeia Morada Nova possui cerca 800 pessoas.
Parceria a projetos para jovens com drogadição
Os jovens com problemas de alcoolismo e outras drogas também pautaram a viagem à Feijó. A desembargadora Eva Evangelista foi convidada pelos líderes da Igreja do Avivamento Semente da Honra para debates sobre projetos que possam tirar os jovens da prática nefasta.
Ela apresentou algumas atividades desenvolvidas pelo Judiciário Acreano para ajudar na elaboração de projetos sociais e ainda falou das penas pecuniárias que são destinadas a tal finalidade. Assessoria TJ/Acre