“Não sabemos o porquê e nem o que levou àquela situação”, lamenta homem que teve filho e sobrinho assassinados em Rio Branco.
Eu o aconselhava muito, mantive ele na igreja até os 16 anos mais ou menos. Aí ele começou a se afastar dos caminhos do Senhor. Lutamos muito”, esse é o relato de um pai que perdeu o filho e o sobrinho assassinados no mesmo dia em Rio Branco.
O homem, que não quis se identificar, disse que quase um ano após perder os parentes, os crimes continuam sem solução e a aflição em busca de respostas permanece. “Não houve testemunha no momento porque só ouviram os tiros. Não sabemos o porquê e nem o que levou àquela situação. A polícia não me deu nem o laudo deles”.
Números do crime
Um levantamento do Atlas da Violência, publicado este ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, levantou que dentre as capitais brasileiras, Rio Branco é a cidade com maior alta na taxa de assassinatos no país.
Em 2016, foram 229 mortes, mais que o dobro quando comparado a 2015, 111 mortes. Em 2017, só em outubro foram registradas 34 mortes, mais de uma por dia, com características de execução.
O delegado responsável pela Divisão de Investigações Criminais (DIC), Rêmulo Diniz, disse que ao menos 80% dos crimes na capital são resultados de guerra entre facções.
“Temos vários inquéritos que não podemos dizer que estão concluídos, mas já temos autoria. Só que faltam ainda ou uma prova pericial técnica ou aditivo de alguma testemunha”, explica o delegado.
Diniz diz ainda que as dificuldades nas investigações se dão porque não há relação entre o autor e a vítima.
“[Os criminosos] vêm usando carros e motos roubados ou furtados, praticam o crime e imediatamente saem. Então, as testemunhas não reconhecem. Também há o medo de reconhecer. As testemunhas geralmente são pessoas de baixa renda, moram em locais que são invasões e que são dominados pelas facções”.
Mais sofrimento
As mortes causam traumas até para quem não está envolvido com a guerra entre grupos criminosos. No dia 17 de setembro deste ano, Adrian Levy, de menos de 2 anos de idade, foi atingido na cabeça por uma bala perdida, enquanto estava com familiares em uma praça, no bairro Cabreúva, em Rio Branco.
“É difícil para qualquer uma mãe ver seu filho quase morto. Meu filho esteve à beira da morte. Os médicos diziam que ele ia ter morte cerebral, que não conseguiria viver. Naquela hora doeu muito em mim ver o meu filho naquela situação”, relembra a mãe do menino, Larissa Silva.
No hospital, o menino teve complicações, mas, de acordo com a mãe, o pequeno Adrian está bem, em casa, e se recupera dos ferimentos.