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Como cão salvou da depressão única sobrevivente de desastre aéreo

Silvia Viruega é uma respeitada veterinária que chefiou o canil da Polícia Federal mexicana e hoje comanda um hospital público para animais na Cidade do México.
Mas sua trajetória de sucesso teve um grande obstáculo no meio do caminho, um evento traumático da qual só conseguiu se recuperar com uma ajuda externa inusitada.


Em entrevista ao programa Outlook da BBC, ela contou essa história. O evento traumático foi um acidente de avião, do qual foi a única sobrevivente.


O avião de pequeno porte, pilotado por seu namorado e que levava, além de Silvia, um amigo do casal, caiu durante um voo para Acapulco.


Seu namorado não tinha grande experiência, ainda estava em fase de acumular horas de voo.


“O avião teve uma falha mecânica”, conta Silvia.


Por um milagre, diz ela, não apenas sobreviveu ao acidente como saiu dele andando.


“Comecei a procurar por meu namorado. Vi o amigo dele, que não se mexia. O avião estava pegando fogo. Na minha cabeça, se estava viva e andando, todo muito teria a mesma chance”, recorda.


“Quando me colocaram na ambulância, ainda não tinha visto ele, fiquei aflita. Pensei comigo: espero que o levem para o mesmo hospital que eu.”
Já no hospital, quem apareceu para visitá-la foi a mãe do namorado, o que a deixou confusa. Queria saber por que não o haviam levado para o mesmo hospital. “O que realmente aconteceu era que o pai dele estava com ele no necrotério e a mãe comigo, me fazendo companhia”, diz.
Depois ela recebeu a visita do irmão e de amigos. Coube ao irmão dar a notícia: todo mundo tinha morrido no acidente, menos ela.


A veterinária sofreu um traumatismo craniano, uma lesão na coluna, vários escoriações e fraturas no nariz e a fíbula direita. Passou uma semana no hospital, antes de ser transferida de volta à Cidade do México.


“Durante o retorno para a Cidade do México, eu estava muito abatida, chorando muito.”


Passou meses em reabilitação física – e tentando superar o trauma. “Meu cérebro estava 100% desconectado. Eu não estava tendo alucinações, nada disso, estava simplesmente em um estado de indiferença e nada importava para mim”, relata.


Presente da vida
Mas um dia ganhou, de presente, um cão da raça yorkshire terrier, que acabaria mudando sua vida.


“Nove meses depois do acidente, um amigo me deu um cachorro. Era um filhote, que imediatamente me fez pensar sobre a vida.”


Ela passou a se dedicar a Gary, o cachorro, que reacendeu nela vários interesses adormecidos e acabou se tornando “um dos melhores presentes que a vida já me deu”.


Para ela, o cachorro simbolizou um renascimento, uma nova fase do ciclo da vida: “Ele nasceu pequenino e eu tinha acabado de renascer, depois de algo horrível que tinha acontecido comigo”.


Gary a ajudou a perceber que estava se entregando a um mal oculto, que nem sabia ter. “Eu não tinha percebido que tinha depressão. Estava a toda hora tentando esconder… É muito difícil de aceitar isso. Acho que depende da habilidade que cada pessoa tem de enfrentar a depressão”.


Gary passou a ser companhia constante para tudo. Bastava acordar e ver o cachorro, que já encontrava ânimo para “fazer o que tinha que ser feito dentro do programa de reabilitação”.


Mas quando começou a levar Gary para passear, se deu conta do quanto perdeu em mobilidade por causa dos danos sofridos no acidente.


“Quando levei Gary para caminhar, percebi que era muito lenta. Foi quando a realidade me atingiu, foi quando me dei conta de qual era o meu estado. Em outras palavras, eu estava bem mal.”


Gary esteve ao lado dela durante todo o tempo da difícil recuperação. “Por isso, para mim, ele é um ser tão especial”, diz.


Hoje, como diretora de um hospital para animais, ela diz ver casos como o dela quase todos os dias. “[Animais de estimação] são companhias para idosos solitários ou crianças que não falam. Há milhares de outros casos”, afirma.


Segundo ela, já foi provado cientificamente que ter animais de estimação ou ficar perto de animais traz até benefícios físicos como a redução de batimentos cardíacos e a liberação de endorfina, substância produzida pelo corpo humano que ajuda a dar a sensação de bem-estar.



Nova etapa


Depois que Gary a ajudou a sair da depressão, Silvia Viruega decidiu fazer um mestrado em Saúde Pública, Administração e Medicina Animal.


“Fiz o mestrado e, a partir daí, comecei a buscar projetos, trabalhos para continuar me sentindo viva, útil e para apreciar essa segunda oportunidade. Você fica mais sensível, menos indiferente”, afirma.


Hoje, Silvia Viruega sabe o nome e do que sofre cada um dos cães e gatos que estão no renomado hospital que ela dirige. Faz questão de falar da satisfação em poder recuperar a saúde de seus pacientes e de ver os donos dos animais saindo com eles andando novamente, salvos e estáveis.


Ela diz que se sente mais em casa na clínica que se sentia no canil da Polícia Federal, onde os cães eram treinados para achar drogas, bombas e corpos. Além disso, diz preferir as raças de cachorros pequenos. “Tenho em casa um chihuahua, além do yorkshire terrier”.
“A área sentimental da minha vida também renasceu”, conta. “Tenho um marido maravilhoso que, por coincidência, também é um piloto de avião; e uma filha pequena.”


Sobre a mesa de trabalho de Silvia, há miniaturas de diferentes raças de cães. Mas a que mais chama atenção é a de um yorkshire, igual ao seu.


“Gary me salvou e, de certa forma, me trouxe para onde estou agora. Ele me motivou para continuar.



 (Terra)


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