Uma história de resiliência e fé na educação. Assim pode ser definida a trajetória de Roseli Pereira, 40 anos, com um filho, casada, que sobrevive vendendo frutas em uma tenda na BR-364, na entrada do Loteamento Santo Afonso, na capital do Acre.
De origem de família humilde, sem incentivo e sem entender ainda o valor da educação, Roseli largou os estudos, tendo concluído apenas a 4ª série primária, como era chamado o quarto ano do que hoje é conhecido como ensino fundamental.
Trabalhando como autônoma, conta que a vida é muito difícil. “Muito sofrimento, vida de autônomo, trabalhando em uma tenda, um trabalho pesado, pegando temporal, muito cansativo e ganhando pouco”, explica.
A rotina de Roseli e do esposo é exaustiva. “Moramos no Ramal da Zezé, todo dia a gente acorda às 3 horas da madrugada, vai buscar as frutas na CEASA, aí vamos para a tenda, montamos e arrumamos tudo, passamos o dia vendendo e quando é 18 horas, desmontamos, guardamos tudo e voltamos para casa. Não é fácil”, detalha.
Insatisfeita com a vida sofrida, de muito trabalho. Roseli conta que foi percebendo aos poucos o quanto a educação fazia falta em sua vida. “Deixei meus estudos, passei muito tempo sem estudar, foi passando o tempo e eu vi o que a falta da educação me fazia e coloquei no meu coração a vontade de estudar, mas, ao mesmo tempo, eu achava que já estava velha, que não conseguiria e que a educação não era pra mim”.
Roseli lembra que a história de seu irmão mais novo, com a mesma trajetória de dificuldades, a lhe motivou a voltar a estudar. “Tudo mudou quando meu irmão fez o Enem, passou, fez uma faculdade de direito e hoje é bem-sucedido. Isso me incentivou, eu olhava pra ele e pensava que se ele conseguiu, a minha vida também poderia mudar através do estudo. A partir disso, eu entendi que o único caminho que faria minha vida se transformar seria a educação, já que vim de uma família pobre, sem herança para receber”, afirma.
Retomar os estudos não foi fácil, afinal Roseli passou 15 anos longe da escola. Só com a quarta série, começou a fazer telecurso, depois fez a Educação de Jovens e Adultos, até que conseguiu concluir o segundo grau. O próximo passo seria conseguir entrar em uma faculdade. Aprovada pelo ProUni, conseguiu cursar pedagogia. “Eu consegui uma bolsa pelo ProUni 100% integral e passei a estudar. A rotina ficou ainda mais pesada, porque além de trabalhar, cuidar da casa, ainda tinha que estudar. Com três meses que estava nesta faculdade particular, fui chamada na UFAC para fazer Letras/Espanhol, mas optei por continuar com pedagogia, que era meu sonho”, diz.
Com a conclusão da faculdade em maio do ano passado, a vida continuou corrida e com uma rotina de estudos, afinal o próximo passo seria passar em um concurso público. Nos últimos dias, a primeira recompensa pela dedicação. Roseli é uma das aprovadas no concurso para professor no município de Assis Brasil. Ao falar da aprovação e da chance de ser professora, a vendedora de frutas se emociona e começa a chorar. “Um dos meus sonhos é exercer a pedagogia. Quando eu era pequena, eu não tinha ninguém para me orientar, por isso eu quero ser uma professora para fazer a diferença na vida dos alunos, mostrar que é possível, mostrar que a educação é capaz de mudar a vida das pessoas, não quero ser apenas mais uma professora, quero fazer a diferença”, diz.
Mesmo aprovada em seu primeiro concurso, Roseli continua estudando. “O céu agora é o limite, quando chego em casa vou me dedicar aos estudos, estou estudando para o concurso do estado, e tenho certeza que ainda vou ser professora da UFAC, que é meu grande sonho. Não vou parar por aqui e vou cumprir com a promessa que fiz para mim mesma que é dar uma vida melhor para minha família”, conclui.