A Universidade Federal do Acre (Ufac) realiza, na próxima sexta-feira, 6, o lançamento do livro “O Discurso Fundador do Acre(ano): História e Linguística”, do professor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Eduardo Carneiro. O evento ocorrerá às 18h, no hall da Biblioteca Central do campus sede.
Quarta obra sobre história do Acre do autor, a publicação traduz-se como um estudo da emergência do discurso que significou a região banhada pelos afluentes dos rios Purus e Juruá como Acre e que inventou os migrantes brasileiros dedicados à exploração da borracha como acrianos. O pesquisador trata o “discurso fundador” como a paisagem enunciativa responsável pela imaginação apoteótica da origem do “acreano”. “Através desse conceito, é possível observar como o poder simbólico da linguagem foi empregado para ‘embelezar’ os fatos históricos ligados à violência, à corrupção e ao culturicídio”, afirma Carneiro.
Revisado pela professora Paula Tatiana, o livro distribui três capítulos em 140 páginas. No primeiro deles, “Sobre o discurso fundador”, Carneiro faz um levantamento de fundamentação teórica. Em seguida, com o “Discurso fundador do Acre”, mostra de que forma o território foi imaginado como Acre, a partir da interdição de outros sentidos reivindicados pelos nativos, bolivianos, peruanos e amazonenses. E, por último, “Discurso fundador do Acriano” trata da emergência discursiva dos dois principais traços da identidade acriana: o heroísmo e o patriotismo.
“Houve um tempo em que os signos Acre e ‘acreano’ não existiam. Eles não figuravam como opção vocabular na comunicação linguageira. Como surgiram? Como ganharam forma gráfica e semântica a partir do ‘sem-sentido’, ‘jamais-dito’ e do ‘nunca-pensado’? Somente a história iluminada pela linguística, ou vice e versa, poderia lançar alguma luz sobre tais questões. E foi exatamente isso que tentamos fazer, por isso o subtítulo do livro”, explica o escritor.
Sobre a capa do livro, o autor, que também foi o editor e designer gráfico do livro, explica que a imagem do afresco “A Criação de Adão”, de Michelangelo Buonarotti, representa o episódio da criação do primeiro homem pelo Deus judaico-cristão, descrito no livro de Gênesis, que é o primeiro da Bíblia. “Inserimos a bandeira do Acre entre o dedo de Deus e o dedo de Adão como forma de ironizar a história oficial, que supõe a formação do ‘acreano’ como um resultado da ação de heróis”, detalha. “A formação do Acre não foi uma dádiva dos deuses. Ele não surgiu das mãos do Criador, portanto, a sua origem não deve ser entendida como um espetáculo do Gênesis.”
Link 1, 1º§: [Eduardo Carneiro]: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4237253Y9
Link 2, 3º§ [Paula Tatiana]: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4559393D2