A Polícia Federal (PF) afirma que o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, era o “dono de fato” de uma das principais entidades associativas da Farra do INSS, esquema bilionário de descontos indevidos contra aposentados, revelado pelo Metrópoles.
Segundo o Portal da Transparência do governo federal, a Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca (CBPA), investigada por fraudar os descontos de mensalidade nas aposentadorias do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), já arrecadou R$ 221 milhões.
Investigações da PF mostram que a CBPA pagou R$ 400 mil à Federação das Colônias dos Pescadores do Estado do Maranhão, entidade que era presidida pelo deputado estadual maranhense Edson Araújo (PSB). O parlamentar também recebeu R$ 5,4 milhões da CBPA.
De acordo com a PF, o Careca do INSS, que está preso desde setembro, comandava a entidade com outros dois investigados: Gabriel Negreiros e Tiago Schettini.
“As evidências reunidas na investigação demonstram, de forma clara e consistente, que Gabriel Negreiros, Antonio [Carlos] Camilo Antunes e Tiago Schettini atuam como donos de fato da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA)”, diz a PF.
Negreiros é suspeito de ser o braço operacional na CBPA, gerenciando empresas “utilizadas para dar aparência de legalidade às movimentações financeiras ilícitas”. A entidade era representada por ele em contratos envolvendo transferências para a ACCA Consultoria, empresa do Careca do INSS.
“Sua atuação, demonstrada pelos intercâmbios de mensagens e pelo material apreendido, o situa como um dos responsáveis pela administração da CBPA com atuação voltada para a prática de fraudes contra beneficiários do INSS”, afirma a investigação da PF.
Para os investigadores, a CBPA era usada como tomadora de serviços que, na realidade, não eram prestados. As notas fiscais eram emitidas pela ACCA Consultoria a mando de Tiago Schettini.
Sócio era blindado por Careca
A PF viu indícios de que, antes da deflagração da primeira fase da Operação Sem Desconto contra o escândalo do INSS, em abril deste ano, Antunes blindou Schettini, um dos sócios do lobista na CBPA e em outras empresas.
Além de exercer função operacional no esquema, Schettini recebia parte dos lucros, como um sócio.
Segundo os investigadores, uma das empresas usadas pelo Careca do INSS “para dar aparência de legalidade às operações financeiras” e atender a aposentados lesados pelo esquema, chamada ACDS Call Center, tinha participação direta de Tiago Schettini, sustentada por um contrato de gaveta.
“O próprio Antonio [Carlos Antunes, o Careca do INSS] confirma, em áudio, que dividiria com Tiago [Schettini] dois terços das cotas destinadas ao ramo, evidenciando que este não apenas participava dos lucros, mas era coproprietário de fato de uma estrutura montada para reciclar os valores indevidos apropriados pela organização.”
Schettini não era mencionado de forma ostensiva nas mensagens e não aparecia nos negócios porque já estava envolvido em outro esquema fraudulento no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
“Esse comportamento demonstra não apenas a intenção de blindá-lo, mas, também, o reconhecimento de que sua posição dentro do grupo demandava ocultação para evitar detecção por órgãos de persecução penal”, afirma a investigação.
A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos citados na sexta-feira (19/12). O espaço segue aberto para manifestações.


