Permanência de tarifas dos EUA afeta pescados: ‘Setor está em encolhimento’

Imagem: Germano Roberto Schüür/Wikipedia

Mais de um terço das mercadorias brasileiras continua sob às tarifas de 40% impostas pelos Estados Unidos. Produtores de mel, pescados, máquinas, calçados e outros veem risco aos negócios. ‘Setor de pescados está tarifado e está em encolhimento’, diz a Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescado).


O que aconteceu


Tarifaço contra mais de 200 produtos caiu há um mês. Café, carne bovina, frutas, suco de laranja, cacau, madeira e mais itens tiveram tarifas retiradas em novembro. O anúncio foi feito por Trump após meses de negociações com o governo brasileiro.


36,5% dos produtos brasileiros seguem taxados, diz Câmara de Comércio Brasil-EUA. Máquinas, calçados, roupas, pescados, mel e café solúvel são alguns dos que seguem com a sobretaxa de 40%.


Abipesca diz que mercadorias estão sendo redistribuídas no mercado interno e em outros países, mas a preços baixos. A associação afirma que o Brasil perdeu competitividade a outros países não tarifados no mercado americano, o que gerou perda de cerca de US$ 250 milhões em exportações de pescados ao país em 2025. No começo deste ano, até 99% da tilápia brasileira era vendida aos Estados Unidos. A PeixeBR (Associação Brasileira da Piscicultura) estima que, com tarifas, o valor pode chegar próximo a zero.


A gente caminha para uma diminuição na produção nacional, tanto na piscicultura como na apicultura.
Eduardo Lobo, presidente da Abipesca


Guerra comercial compromete sustento de pequenos produtores e agricultores familiares, que são maioria a produzir mel no Brasil. A Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel) ressalta que 53% do mel produzido no país tem como destino o país norte-americano. Segundo a entidade, as tarifas representam risco a essa cadeia produtiva. A associação pede que o governo solucione a taxação com uma diplomacia estratégica.


Novos mercados são insuficientes


Setor de máquinas diz que novos mercados não conseguem absorver volume de vendas e mesmas condições comerciais dos EUA no curto prazo. A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) destaca que as tarifas geraram demissões em muitas empresas. Para eles, a demora no corte de impostos pode gerar substituição permanente dos produtos brasileiros por concorrentes estrangeiros. A participação do Brasil no mercado americano caiu de 27% para 13%.


Setor de calçados acredita que permanência de tarifas pode render até 8 mil demissões em 2026. A Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) diz que já foram 1.650 demissões em outubro por conta da taxação. Nos quatro meses, o volume de exportações de calçados brasileiros aos EUA caiu 23,4%.


Associação de café solúvel aponta “risco de perda permanente de mercado”. A Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel) afirma que os EUA são principal destino desse produto brasileiro e que as vendas ao país caíram 52% em volume desde agosto, quando iniciou-se a taxação. Em outubro, a Rússia assumiu o lugar dos EUA como principal destino do café solúvel brasileiro, mas não absorve a mesma demanda americana.


Brasil diversificou exportação


Total de exportações agrícolas do Brasil cresceu 1,7% entre janeiro e novembro de 2025, segundo a CNA. Vendas aos EUA caíram 38% entre agosto e novembro, em relação ao mesmo período de 2024.


Impacto negativo das tarifas foi muito menor do que se esperava e obrigou o Brasil a diversificar mercados, o que pode aquecer a economia do Brasil. “Quanto mais parceiros comerciais, melhor”, diz Carla Beni, economista da FGV. A maior presença de produtos brasileiros em novos mercados, como a Europa, pode facilitar novos acordos comerciais, como o esperado entre União Europeia e Mercosul, segundo Beni.


CNC (Conselho Nacional do Café) diz que a queda de 30% nas exportações aos EUA deve ser retomada no ano que vem. O otimismo se deve à queda dos impostos e dos baixos estoques no país. Silas Brasileiro, presidente do CNC, diz que o fato de o café não ter validade curta permitiu que produtores estocassem parte das sacas até a solução do problema. Segundo ele, também houve diversificação de destinos, o que muda para sempre a dinâmica setorial e reduz a dependência futura dos Estados Unidos.


A nossa vantagem é um estímulo para a abertura de novos mercados como China e Japão.
Silas Brasileiro, presidente do CNC (Conselho Nacional do Café)


No setor de carnes, queda de tarifas já representa retomada de vendas. A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) destaca que a categoria já tinha grande presença em muitos países. Para não pagar 50% de impostos sobre mercadorias nos EUA, 60 mil toneladas foram rapidamente redirecionadas para mais de 160 destinos, como Ásia, Europa, Chile e Rússia.


Troca de compradores apertou o lucro. “Mesmo assim, o setor mostrou resiliência: de janeiro a novembro já exportamos 244,5 mil toneladas e US$ 1,4 bilhão para os EUA, superando todo o resultado de 2024”, avisa Roberto Perosa, presidente da Abiec. Agora que houve corte de tarifas, o setor espera recuperação em 2026 do volume de vendas aos EUA no ano passado.


Conta saiu “mais salgada para os americanos”. Para os americanos, a taxação de produtos estrangeiros aumentou preços de coisas do cotidiano, como café, hambúrguer e suco de laranja, explica Ulisses Ruiz de Gamboa, professor de Economia do Insper.


Maioria dos exportadores brasileiros conseguiu achar alternativas, ressalta professor. Maior impacto no Brasil foi localizado em setores específicos, que tinham exportação dependente dos EUA.


No caso das commodities, é mais fácil você mudar o destino, diferente de produtos mais industrializados, que são mais customizados.
Ulisses Ruiz de Gamboa, professor de Economia do Insper


Compartilhar

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Últimas Notícias