Peças de carro e fuzis: Câmeras registram furtos de agentes durante operação no Rio

Armas de fogo são exibidas durante coletiva de imprensa, que a polícia informou terem sido apreendidas na operação policial mais letal da história do Brasil, no Rio de Janeiro, em 29 de outubro de 2025. REUTERS/Tita Barros

A Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro prendeu, na sexta-feira (28), cinco policiais militares do Batalhão de Choque que furtaram e esconderam armas e até peças de um carro durante a megaoperação realizada nos Complexos do Alemão e da Penha em outubro.


As irregularidades foram descobertas por meio das câmeras corporais usadas pelos policiais durante a operação. As imagens foram divulgadas com exclusividade pelo Fantástico neste domingo (30).


Ao todo, dez policiais militares do Choque estão sendo investigados. Destes, cinco foram alvos apenas de busca e apreensão. A investigação está a cargo da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar.


O Ministério Público, que também acompanha o caso, denunciou os policiais por peculato — quando um agente público se apropria de bens apreendidos. Outro crime analisado, este em maior escala na operação, é a obstrução das imagens das câmeras corporais.


Na sexta-feira (30), foram presos o subtenente Marcelo Luiz do Amaral e os sargentos Eduardo de Oliveira Coutinho, Diogo da Silva Souza, Charles William Gomes dos Santos e Marcos Vinícius Ferreira Silva Vieira.


Fuzil AK-47 e peças de carros

No vídeo, o sargento Marcos Vinícius encontra um fuzil AK-47 na cozinha de uma casa invadida por traficantes. Ele e outro agente, o sargento Charles, desmontam e escondem a arma em uma mochila. O fuzil não conta entre os armamentos apreendidos. Outro PM denunciado, o sargento Diogo, não entregou um fuzil encontrado após a troca de tiros.


Agente da PM recolhe fuzil após troca de tiros. Arma não foi encontrada entre os objetos apreendidos. Foto: reprodução/Fantástico

 

A corregedoria da PM também identificou um policial do BOPE escolhendo equipamentos para levar, como colete e rádio comunicador. Além das armas, imagens revelam outros policiais furtando peças de uma caminhonete na comunidade, como retrovisores e a tampa do motor. Todos os itens foram colocados em uma viatura.


Agentes se apropriam de rádio comunicador e colete encontrados durante operação. Foto: reprodução/ Fantástico

 

A Polícia Militar informou ao jornal que os agentes responderão processo administrativo disciplinar, além das ações esfera judicial. As investigações ainda apuram se outros policiais também cometeram delitos.


Câmera corporal registra momento que agente retira tampa de motor de uma caminhonete encontrada na comunidade. Foto: reprodução/ Fantástico

 

Relembre a operação

Com 113 prisões e 122 mortes — sendo cinco delas policiais da Polícia Civil e Militar —, a operação mais letal da história do Rio de Janeiro teve como alvo integrantes do Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte da capital.


A operação foi idealizada como uma iniciativa permanente do Estado do Rio de Janeiro, sob o comando do governador Cláudio Castro (PL), para conter o avanço da facção em outras regiões do estado.


Ambos os complexos são considerados regiões-chave na disputa por território entre facções criminosas. A primeira fase visava o cumprimento de 180 mandados de prisão contra integrantes da facção, incluindo 30 membros de outros estados, que estariam escondidos nos complexos.


Um dos principais alvos era Edgard Alves Andrade, apontado como liderança do CV no Complexo da Penha, responsável pelo tráfico de drogas na comunidade. Conhecido como Doca ou “Urso”, o criminoso de 55 anos possui uma extensa ficha criminal e 26 mandados de prisão expedidos pela Justiça.


Apesar do planejamento prévio, o início da operação foi acelerado devido a um conflito entre traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP), rivais do CV, iniciado na madrugada do dia 27 no Complexo do Chapadão e na comunidade da Pedreira.


Segundo a Polícia, o conflito começou quando membros do CV alocados no Chapadão tentaram atacar pontos de venda de drogas do TCP na comunidade da Pedreira. O confronto atraiu a atenção das autoridades, que foram informadas sobre um pedido de apoio do CV aos membros no Complexo do Alemão para conquistar o território em disputa.


Cerca de 2,5 mil policiais civis e militares foram mobilizados a partir da madrugada de terça-feira (28) e entraram em ação nos complexos da Penha e do Alemão.


Foram presos 113 suspeitos, sendo 33 de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco. Foram apreendidas 118 armas, das quais 91 eram fuzis. Edgard Alves, o Doca, apontado como maior líder da facção, conseguiu escapar e segue foragido.


Segunda fase

Um dos principais alvos detidos na segunda fase da operação foi Cosme Rogério Ferreira Dias, apontado como o “Mentor de Barricadas”. Empresário do ramo da reciclagem em ferros-velhos, ele era, segundo a investigação, responsável pelas operações de lavagem de dinheiro e apoio logístico à facção.


A investigação aponta que ele financiava a construção das barreiras que impedem o livre tráfego de moradores e dificultam o acesso de agentes. Os ferros-velhos ligados à facção funcionam como núcleos de lavagem de dinheiro, apoio operacional e financeiro às barricadas.


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