A saída do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, do cargo foi pactuada com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há poucos dias. O ministro conversou com o chefe de governo e relatou o desejo de sair, apurou a reportagem. O petista disse que entendia a vontade de Lewandowski e afirmou que pensaria em um substituto.
A cúpula do governo percebe, há meses, cansaço no chefe da Justiça. Apesar disso, a saída do ministro não é imediata. Como mostrou a colunista Mônica Bergamo, da Folha, Lewandowski deve deixar o cargo nas primeiras semanas de 2026.
Parte da cúpula do governo acredita que a mudança será postergada até a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que reorganiza as atribuições do governo federal e dos estados na segurança pública. Essa é a ideia mais forte no entorno de Lewandowski. Não é possível, porém, dizer quando esse projeto será votado pelo Congresso.
Há, entre aliados do presidente da República, grupos que defendem uma mudança no perfil de quem comandará a pasta. Principalmente se ela for divida em um Ministério da Justiça e outro da Segurança Pública –hoje as duas áreas estão sob o comando de Lewandowski.
Para esses setores, falta alguém de perfil combativo em posição de destaque no governo para disputar a pauta da segurança junto à opinião pública. O assunto é tradicionalmente dominado por forças políticas de direita, adversárias de Lula.
Na avaliação de quem defende um novo ministro mais aguerrido, o governo federal tem tido ações de impacto no combate ao crime organizado, com operações contra lavagem de dinheiro e sonegação de impostos como a Carbono Oculto, e é necessário reivindicar de forma mais veemente o mérito dessas medidas para a gestão Lula.
A importância de disputar a opinião pública em torno da segurança se torna ainda maior em ano eleitoral, como 2026. É consenso no mundo político de que o tema deverá ser um dos principais da eleição para presidente da República. Esse é um dos assuntos favoritos de políticos linha-dura de direita, adversários de Lula em sua busca por reeleição.
No primeiro ano de governo, a função de embate político cabia a Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Ao escolher Lewandowski para a pasta, em janeiro de 2024, o presidente da República optou por alguém de perfil mais discreto.
A avaliação, naquele momento, era de que o principal problema a ser resolvido no país era econômico, e que não havia necessidade de um protagonismo do ministro da Justiça. Agora o foco do eleitorado está na segurança pública.
Além disso, negociações de alianças políticas visando a próxima eleição e eventual próximo governo Lula poderão entrar nas discussões sobre quem assumirá o cargo.
O fim de ano poderá atrasar a definição de Lula sobre o substituto de Lewandowski. O presidente da República deixou Brasília para passar o natal com família em São Paulo. A virada de ano será na Restinga da Marambaia, área militar no litoral do Rio de Janeiro. Lula só retorna à capital federal em 2026.
Apesar disso, já começam a surgir nomes especulados para substituir Lewandowski. Um dos citados é o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Manoel Carlos de Almeida Neto. Governistas ressalvam que ele é um nome mais técnico do que político e que sequer tem se movimentado para assumir o cargo.
Também é mencionado o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele, porém, já disse a aliados que não deve assumir nenhum posto no governo.
Pacheco foi preterido por Lula na indicação para uma vaga aberta no STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente da República escolheu o advogado-geral da União, Jorge Messias, em vez do senador, que passou a indicar que encerrará sua carreira política.
Messias também é mencionado como um possível sucessor de Lewandowski. Nesse caso, porém, Lula teria que retirar a indicação ao STF, o que é improvável. O presidente foi pressionado pelo Senado para rever a indicação. Não só não deu nenhum sinal de que faria isso como reafirmou sua escolha por Messias sempre que perguntado.
O petista avalia que indicar ministros para o Supremo é uma prerrogativa da Presidência da República que não deve estar sujeita a interferências externas. Voltar atrás na escolha de Messias iria contra esse princípio.
As fontes que citaram esses três nomes ressalvaram que não houve um sinal de Lula sobre o assunto –e que ele pode tomar qualquer decisão, inclusive buscar uma quarta pessoa para o posto. Além disso, todos os citados têm perfil discreto, sem a combatividade buscada por setores do governo para disputar o eleitorado.


