Como as bets se preparam para uma Copa do Mundo de quase R$ 200 bi em apostas

Disputada de quatro em quatro anos, a Copa do Mundo vai muito além do futebol. Trata-se de um dos maiores eventos do planeta, capaz de mobilizar até quem não acompanha esportes no dia a dia. Em dias de jogos, países inteiros param, comunidades se reúnem e o interesse coletivo se espalha por todos os meios. Esse poder de engajamento ajuda a explicar por que o torneio concentra, historicamente, o maior volume de apostas esportivas do mundo.


Segundo levantamento do banco britânico Barclays, a Copa do Mundo do Catar, em 2022, movimentou cerca de US$ 35 bilhões em apostas esportivas globalmente, o equivalente a R$ 186,9 bilhões. O número representou um crescimento de aproximadamente 65% em relação à edição da Rússia, em 2018.


Para 2026, com jogos nos Estados Unidos, México e Canadá, as projeções do mercado apontam para volumes ainda maiores, impulsionados por mudanças regulatórias e pela consolidação do setor em mercados estratégicos.


Durante o Mundial do Catar, as apostas passaram a fazer parte da rotina de quem acompanhava os jogos. A presença das casas se multiplicou em comerciais de TV, ações com clubes, celebridades, jogadores e entidades esportivas, além de forte atuação nas redes sociais.


Para Rafael Borges, CEO da Reals, a próxima edição terá um diferencial relevante do ponto de vista brasileiro. “A Copa do Mundo sempre movimentou o mercado global de apostas esportivas, mas a edição de 2026 possui um fato inédito para o Brasil: será a primeira vez que o país participará da competição com um setor regulado, competitivo e em plena expansão. Na última Copa, em 2022, o país vivia um cenário completamente diferente, sem regulamentação definida, investimentos menores e um mercado ainda em formação.”


O contexto internacional também ajuda a explicar o salto recente nos números. Dados captados pela empresa de inteligência H2 Gambling Capital indicam que parte do crescimento observado em 2022 está ligada ao fato de a Copa do Catar ter sido o primeiro grande evento esportivo global após o fim das restrições às apostas esportivas nos Estados Unidos.


Para Marco Tulio, CEO da Ana Gaming, grupo que gere as marcas 7K, Cassino e Vera, o perfil do evento é determinante. “A Copa do Mundo é um evento esportivo totalmente especial e diferenciado. Trata-se de um momento em que até aqueles que nem são tão interessados em esporte passam a acompanhar, torcer e se divertir com seus familiares e amigos. Para aumentar a emoção e deixar o entretenimento ainda mais intenso, é natural que fãs de todo o mundo realizem mais apostas durante a competição.”


A consolidação do mercado também passa por fatores estruturais e tecnológicos. Hans Schleier, diretor de marketing da Casa de Apostas, destaca que o setor amadureceu rapidamente nos últimos anos. “É um mercado que se tornou mais consolidado e ganhou o conhecimento do público em geral. Em 2022, logo depois da pandemia, e com a introdução do Pix, além do merchandising das casas, alcançou uma notoriedade antes jamais vista. Tudo isso contribuiu, além de opções cada vez maiores, não apenas na esfera esportiva, mas também do entretenimento.”


Engajamento forte

Esse crescimento é fortemente impulsionado por um público que não aposta regularmente. Eduardo Biato, Chief Strategy Officer da 1PRA1, explica que a Copa funciona como porta de entrada para novos usuários.


“Grande parte do volume apostado durante a Copa vem justamente desse público ocasional. Pessoas que não assistem a jogos regularmente passam a acompanhar seleções, criam rivalidades momentâneas, montam bolões entre amigos e começam a interagir com o universo das apostas pela primeira vez. Essa combinação de emoção coletiva, calendário concentrado de jogos e alta exposição midiática transforma a Copa em um dos eventos mais apostados do mundo.”


A superexposição do torneio é apontada como um ativo central pelas operadoras. Para Ivan Dutra, CEO da Luck.bet, o engajamento é incomparável. “Durante o período em que é realizada, a Copa do Mundo se torna o principal tema de todas as rodas de conversa, tanto no mundo físico quanto no digital. Logo, o contato das pessoas com a competição ocorre de forma espontânea, por diversos canais e várias vezes ao longo do dia. Para as casas, esse é um momento único, porque combina emoção, mobilização e frequência alta de jogos.”


No Brasil, mesmo ocorrendo apenas a cada quatro anos, a Copa já figura entre os campeonatos mais apostados. Estudo do Grupo Globo em parceria com a Offerwise mostra que 38% dos brasileiros que apostam incluem o Mundial entre suas competições preferidas. O índice fica atrás apenas de torneios recorrentes, como Brasileirão, com 77%, Copa do Brasil, com 61%, Libertadores, com 45%, e Champions League, com 40%. A pesquisa foi realizada em maio, de forma online, com mil entrevistados maiores de 18 anos.


O ambiente regulatório é visto como um dos principais catalisadores para 2026. Pietro Cardia Lorenzoni, diretor jurídico da ANJL e sócio do Betlaw, lembra que mudanças semelhantes nos Estados Unidos tiveram impacto direto nos volumes globais. “A Copa do Mundo de 2026 será a primeira edição do torneio com o setor de betting regulamentado no Brasil. Em 2018, a Suprema Corte dos Estados Unidos permitiu a adoção das apostas esportivas pelos estados do país e vimos, na sequência, um aumento expressivo do volume de bets nas Copas de 2018 e 2022. Creio que o cenário global também será fortemente impactado pela regularização do mercado no Brasil.”


A combinação entre grandes mercados abertos recentemente e o apelo emocional do torneio reforça essa expectativa. Alex Rose, CEO da InPlaySoft, avalia que o movimento é irreversível. “A Copa do Mundo é um momento mágico. Até as pessoas que não são apaixonadas por esporte se unem para acompanhar e vibrar com as partidas do seu país. Com dois mercados gigantes abrindo as portas para os jogos online nos últimos anos, Estados Unidos e Brasil, é evidente que as bets crescerão ainda mais durante as próximas edições.”


Além de volume, as empresas destacam a evolução do setor em termos de tecnologia e responsabilidade. Para Ana Paula Castello Branco, CMO da BetMGM, o evento é estratégico no longo prazo. “A expectativa de volumes recordes de apostas durante a Copa do Mundo de 2026 reflete não só a dimensão global e midiática do evento, mas também a evolução do mercado de apostas esportivas, que hoje combina entretenimento, tecnologia e responsabilidade. No Brasil, esse crescimento vem acompanhado de maior profissionalização do setor, avanço do ambiente regulatório e uso intensivo de dados e inteligência artificial para oferecer experiências mais seguras e personalizadas aos usuários.”


A relação entre futebol, entretenimento e apostas também ganha contornos sociais. Alex Fonseca, CEO da Superbet, ressalta que o Mundial amplia diferentes formas de interação. “A Copa do Mundo é o momento em que o futebol mobiliza torcedores no mundo inteiro, ampliando a emoção e o interesse por diferentes formas de apostas, desde as de quota fixa até os tradicionais bolões em família. No Brasil, essa relação é especialmente forte, e a consolidação de um mercado regulamentado permite que essas experiências ocorram em um ambiente mais seguro, com regras claras, estímulo à geração de empregos e contribuição para os cofres públicos.”


Por fim, o Brasil aparece como peça central nas projeções globais. Igor Savun, CMO da BetBoom Latam, aponta o país como um dos principais motores do crescimento esperado. “O que torna este momento particularmente significativo é o fato de o torneio acontecer com o mercado brasileiro já operando sob um arcabouço regulatório, criando um ambiente mais transparente e estruturado. Ao mesmo tempo, o Brasil é visto como um dos favoritos ao título pelas casas de apostas, o que amplia ainda mais o interesse e o engajamento do público.”


Em um cenário de forte conexão emocional com a Seleção, a Copa de 2026 se desenha como um dos maiores eventos da história também para o mercado de apostas.


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