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Governo suspende temporariamente lista que considerava tilápia espécie invasora

Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

A Lista Nacional Oficial de Espécies Exóticas Invasoras, que incluía a tilápia, foi suspensa temporariamente pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), do Ministério do Meio Ambiente, segundo comunicado desta quinta-feira (4).


O anúncio, feito em outubro, gerou preocupação entre os produtores, que temiam novas restrições à criação do peixe mais cultivado do Brasil.


Uma espécie é considerada invasora quando aparece em lugares em que não é nativa. Nesse caso, a tilápia tem aparecido em rios fora das áreas de produção, o que causa desequilíbrios ambientais, segundo o Ministério do Meio Ambiente.


Já a característica “exótica” é porque a tilápia não é nativa do Brasil, mas do continente africano, da bacia do rio Nilo. Por isso ela é chamada de “Tilápia-do-Nilo” e o nome científico é Oreochromis niloticus.


De acordo com a nota, a suspensão será para fazer novas consultas aos setores da economia, “a fim de definir medidas adequadas à formulação de políticas e procedimentos de controle do escape no ambiente natural, compatíveis com a atividade produtiva”, diz.


O Ministério do Meio Ambiente disse ainda que as espécies que compõem a lista são selecionadas após “um processo técnico, lastreado em informações científicas aprofundadas, e possui caráter preventivo, não implicando no banimento, proibição de uso ou cultivo”.


E que o “reconhecimento e identificação dessas espécies visam permitir a detecção precoce e resposta rápida em caso de invasões biológicas, que evitem impactos negativos sobre a biodiversidade nativa”.


O g1 reportou o debate entre setor da tilápia e o Ministério do Meio Ambiente. Na ocasião, solicitou a lista completa de espécies invasoras à instituição, mas não obteve um retorno. A lista também não foi encontrada disponibilizada no site do Ministério, apenas alguns exemplos, como a abelha africanizada, a manga, a goiabeira e os javalis selvagens.


Polêmica da tilápia

 


Além dos piscicultores, a inclusão da tilápia na lista de espécies invasoras gerou discordância dentro do próprio governo.


O Ministério da Pesca e Aquicultura chegou a preparar um parecer técnico para pedir à Conabio que retire a tilápia da lista, informou a diretora do Departamento de Aquicultura em Águas da União da Secretaria Nacional de Aquicultura, Juliana Lopes da Silva.


Para o Ministério e o setor, os produtores poderiam sofrer as seguintes consequências:


➡️Aumento de custos: segundo Silva, o licenciamento ambiental pode ficar mais caro.


➡️Atrasar a abertura de novos mercados: para a diretora, a medida fere a imagem do Brasil na hora de negociar a exportação.


➡️Insegurança jurídica: Silva se preocupa por não existir uma legislação que trate de produção comercial de espécies invasoras. “Então, existe uma lacuna aí no meio que pode gerar uma insegurança jurídica”, diz.


➡️Demora para iniciar a criação: a nova lista deve atrasar ainda mais a liberação das licenças de criação, disse Jairo Gund, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca).


Por que a tilápia entrou na lista?

 


O peixe tem algumas características que fazem com que ela esteja na lista, aponta o professor de Ecologia do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista no assunto, Jean Vitule. Veja abaixo.


🐟 Territorialista: o peixe pode competir com outras espécies nativas.


🐟 Predadora: ela é onívora, ou seja, come plantas e carne, por exemplo, outros peixes.


🐟 Mudanças no ecossistema: a tilápia pode afetar a quantidade de nutrientes e produtividade nos lagos.


🐟Escapes das áreas de produção: as tilápias que escapam dos criadouros já foram encontradas em áreas de preservação, como as do Rio Guaraguaçu, no Paraná, onde Vitule trabalha há 30 anos.


O biólogo da UFPR também publicou um estudo que identificou a tilápia, que é um peixe de água doce, no mar. O peixe é muito resistente, inclusive em ambientes poluídos, e conseguiu se adaptar à água salgada.


As tilápias que escapam também podem levar parasitas que contaminam os peixes nativos.


As fugas aumentam em períodos de eventos climáticos extremos, explica o pesquisador.


“Mesmo que eu faça um tanque 100% seguro, vai acontecer o que aconteceu, por exemplo, no Rio Grande do Sul, na cheia do ano passado. Escaparam milhares de tilápias de cultivos muito bem-feitos”, afirma.


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