A elevação do nível do Rio Acre, que já ultrapassa os 15,36 metros, passou a impactar de forma direta o funcionamento da rede municipal de ensino da capital. Em entrevista concedida na manhã desta segunda-feira (29), o vice-prefeito e secretário municipal de Educação, Alysson Bestene, confirmou que o ano letivo de 2025 sofreu atrasos significativos e só será concluído em janeiro de 2026.
Segundo Bestene, o cenário de atraso é resultado de uma sequência de crises enfrentadas nos últimos anos. “Infelizmente, nós estamos lidando com um acúmulo de problemas. A pandemia já tinha provocado um atraso importante, e as cheias sucessivas acabaram agravando ainda mais essa situação”, afirmou.
De acordo com Bestene, apenas cerca de 20% das escolas da rede municipal conseguiram concluir o calendário escolar dentro do prazo previsto. “Hoje, apenas uma parcela pequena das unidades conseguiu fechar o ano letivo. A maioria ainda está em atividade ou com o cronograma comprometido”, explicou. O secretário detalhou que parte das escolas deve concluir as aulas até o dia 15 de janeiro, enquanto o encerramento total das 88 unidades, entre escolas e anexos, está previsto para o dia 30 do mesmo mês. “Nosso esforço é para garantir que todas as unidades concluam o ano com segurança e responsabilidade pedagógica”, destacou.
O vice-prefeito lembrou que o atraso não é um problema pontual de 2025. “Nós já iniciamos este ano letivo com atraso, justamente por conta das cheias anteriores. Esta já é a sexta enchente enfrentada pela atual gestão, e cada uma delas deixa reflexos que se acumulam ao longo do tempo”, disse Bestene, ressaltando que a prioridade tem sido preservar o direito dos alunos à aprendizagem, mesmo diante das adversidades.
Embora nenhuma escola tenha sido diretamente invadida pelas águas até o momento, três unidades municipais precisaram ser requisitadas para funcionar como abrigos temporários. Segundo Bestene, a decisão foi tomada diante da necessidade emergencial de acolher famílias desalojadas. “A Escola Anice Jatene já concluiu o ano letivo e, por isso, pôde ser disponibilizada de imediato. A Escola Álvaro Vilela Rocha, na região da Conquista, deve finalizar as atividades ainda nesta semana para servir de apoio, e a Escola Maria Lúcia, na Morada do Sol, também será utilizada para acolher famílias da região da Cadeia Velha”, detalhou.
O secretário destacou ainda que o impacto humano tem sido um dos principais fatores para o comprometimento do calendário. “Muitos dos nossos professores moram em áreas atingidas pelas enchentes. Eles também são vítimas desse processo, com casas alagadas e dificuldade de deslocamento”, explicou. Segundo ele, a elevação dos igarapés Batista e São Francisco tem impedido que alguns profissionais consigam chegar às escolas. “Não é apenas uma questão de prédio escolar, mas de pessoas que estão vivendo essa realidade todos os dias”, enfatizou.
Diante do cenário, a prefeitura já trabalha com o planejamento do próximo ano letivo. “A nossa previsão é iniciar o ano de 2026 no mês de março. Fevereiro será reservado para as férias obrigatórias de 30 dias dos profissionais da educação, como determina a legislação”, afirmou Bestene, destacando que qualquer decisão será tomada com base na segurança e na normalização da situação na cidade.
Enquanto isso, a estrutura principal de acolhimento às famílias atingidas pela cheia segue concentrada no Parque de Exposições. “Toda a nossa equipe está mobilizada para garantir um atendimento humanitário digno às famílias desabrigadas, enquanto buscamos minimizar os impactos dessa enchente em todas as áreas, inclusive na educação”, concluiu o vice-prefeito.